No mundo corporativo, várias estratégias são aplicadas pelos empresários com objetivo de aumentar os lucros e patrimônio das empresas. Uma das mais conhecidas e utilizadas é a holding.

Este artigo vai explicar o que é e como funciona esse modelo de gestão. Além disso, você aprenderá se é ou não vantajoso investir em ações de companhias que estão atreladas à holding.

Vamos lá?

O que é holding?

Holding é um termo derivado do inglês do verbo “to hold”, que traduzido significa segurar, manter. Holding é quando uma empresa (chamaremos aqui de empresa-mãe também) adquire a maior parte das ações em circulação no mercado de uma outra empresa (subsidiária).

Você sabe que ao comprar uma ação você se torna sócio daquela companhia. Em escala de pessoa física, a participação é pífia, minúscula. Porém, a pessoa jurídica tem mais capital econômico para investir, e essa empresa compra tantas ações (ou as vezes todas elas) que acaba se tornando “dono” de outra companhia.

Como as ações permitem a participação no conselho administrativo e de gestão governamental, a empresa-mãe tem em mãos a capacidade de direcionar os novos rumos da empresa subsidiária.

Se ela opta apenas por ter participação no capital de outras sociedades, isso é denominado de holding pura. Enquanto isso, há possibilidade da empresa também explorar alguma atividade empresarial; neste cenário, a holding é dita como mista.

Exemplos de holdings

Exemplos de empresas que são conglomerados.
Veja exemplos de empresas que talvez você nem sabia que eram uma holding! Foto por Freepik.

Para quem não é entendido do assunto, as holdings parecem algo diferente, até mesmo inusitado. Contudo, no ramo empresarial, essa situação é muito comum. 

Toda a empresa com boa lucratividade e reconhecimento do mercado atrai os olhos de empresas de maior porte, que talvez vejam essa oportunidade como uma chance de investir o capital em projetos/produtos/companhias promissoras

É simplesmente isso que eles fazem. Não é ilegal, afinal a empresa listada na Bolsa de Valores é de capital aberto, ou seja, está disponível ao público geral.

Vamos ver agora alguns exemplos de holdings, que talvez você nem sabia que eram holdings na verdade.

Volkswagen Group

Você com certeza conhece os carros da empresa alemã Volkswagen. É uma das marcas mais populares do Brasil, com o Gol sendo o carro mais vendido desta companhia aqui no país.

Além desta marca, a Volkswagen Group detém 100% de controle de outras fabricantes, entre elas:

  • Audi
  • Porsche
  • Seat
  • Skoda
  • Bentley
  • Lamborghini
  • Bugatti
  • Scania
  • Ducatti
  • Man
Empresas da holding Volkswagen.
Empresas do Grupo Volkswagen. Divulgação Volkswagen AG.

Além destas, ela possui o controle majoritário (não total) de mais algumas companhias.

As holdings no mercado automotivo ocorrem com outras empresas também, como a General Motors, a Ford e a Toyota. No entanto, a Volkswagen é a que mais possui subsidiárias.

Moët Hennessy Louis Vuitton S.A.

O francês Bernard Arnault é dono da grife Louis Vuitton, talvez a marca de bolsa mais conhecida, desejada e luxuosa do mundo

Além dela, Bernard criou um império de outras empresas de moda, vestuário e acessórios. Algumas delas são: Dior, Kenzo, Chandon, Bulgari, Dom Pérignon, Hennessy, Moët & Chandon, Hublot, Zenith, Louis Vuitton, Veuve Clicquot, Le Bon Marché, Sephora, Marc Jacobs, TAG Heuer, Céline e Givenchy.

Diferentemente do que acontece no caso da Volkswagen, essa holding controla companhias de diferentes setores da economia. Ou seja, não é necessário permanecer em um único segmento. Por exemplo, há também o comando sobre a rede de hotéis de luxo Belmond.

Holding da Louis Vuitton possui mais de 70 empresas.
Foto por Wikipedia.

No total, a holding Moët Hennessy Louis Vuitton S.A controla 70 empresas. Não é à toa que o francês de 71 anos sempre está presente nas 10 primeiras posições da lista dos bilionários da Forbes.

Berkshire Hathaway 

Esta holding é de propriedade de Warren Buffett, o investidor mais conhecido do mundo. Todo perfil de Instagram, site ou canal de Youtube deste nicho já citou pelo menos uma vez alguma frase ou curiosidade sobre este norte-americano.

Warren Buffett, dono da holding Berkshire Hathway
Buffett jogando cartas no evento da Berkshire em 2016 – Foto por Omaha World Herald.

Aliás, nós aqui do Investidor10 temos conteúdos que destrincham a forma de investimentos de Warren Buffett. Quer saber como investir igual a ele? Clique aqui e entenda tudo!

A sua holding controla diversas empresas em diferentes mercados econômicos. Buffet é muito estratégico nos seus investimentos e por esta razão conseguiu acumular uma fortuna bilionária ao longo da vida.

Benefícios de uma holding

Após essa breve apresentação do significado e de exemplos atuais de holdings muito bem-sucedidas, você deve estar se perguntando as vantagens de estruturar uma empresa junto a um conglomerado. Vamos listar cinco principais benefícios.

Aumentar a participação de mercado

Este benefício é mais válido para holdings que se inserem em um único nicho de mercado, como no caso da Volkswagen Group. 

Imagine que uma pessoa está indecisa se vai comprar um Audi ou um Porsche. Existe diferença entre os modelos, obviamente, mas independente da escolha do cliente, o dinheiro da venda será destinado a um mesmo local (a holding). Desta maneira, é possível alcançar uma fatia maior do que se fosse uma única empresa.

O mesmo vale para os carros de luxo Lamborghini e Bugatti. Agora, se comparar com a Ferrari, a história é diferente, visto que a marca italiana do cavalinho pertence à Fiat.

Por maior que seja uma holding, é muito difícil ela adquirir o monopólio total de um nicho de mercado. Mesmo assim, com uma maior participação, já é possível aumentar os lucros.

Diversificar as fontes de renda em diferentes setores

Diversificar os investimentos é um conselho básico e universal de todo analista financeiro. O ditado popular de que é muito perigoso por todos os ovos em uma mesma cesta é válido. Este benefício está à disposição das holdings também.

As empresas-mãe que possuem subsidiárias em outros nichos de mercado estão mais protegidas quanto a crises financeiras. Cada setor econômico reage diferente. Por exemplo, as empresas aéreas e de turismo caíram muito em 2020. Por outro lado, o e-commerce saiu deste mesmo ano amplamente fortalecido, com recorde histórico de crescimento.

Evitar financiamentos bancários

Qualquer companhia precisa evoluir e investir em novos projetos, produtos, máquinas, equipamentos, instalações, participação no mercado, etc. Para realizar tudo isso, é preciso de dinheiro. O financiamento bancário é um dos caminhos. Porém, sempre há a cobrança de juros e demais custos.

Uma empresa ligada a uma holding possui acesso a um grande volume financeiro de capital disponível, visto que o fluxo de caixa da empresa-mãe é diversificado e imponente. Portanto, ela pode prover recursos para investir no crescimento da empresa menor, evitando os juros altos dos bancos.

A estrutura da holding permite que as empresas tenham benefícios financeiros e fiscais.
A estrutura da holding permite que as empresas tenham benefícios financeiros e fiscais. Foto por Freepik.

Obter benefícios fiscais

Uma holding pode usufruir da redução das cobranças de impostos municipais, estaduais e federais. Afinal, a holding possui mais capacidade de fazer elisão fiscal. Importante: elisão fiscal não é uma prática ilegal, mas sim uma forma estratégica de estruturar os negócios para reduzir a carga tributária. 

A holding possui mais corpo contábil e jurídico que auxiliam nesse processo. Diferente de uma empresa solitária, que não consegue arcar com os custos de uma equipe qualificada.

Além disso, os próprios governos entram em acordo com os conglomerados. Isso porque essas gigantes atraem muito investimento e empregado para determinada região.

Por exemplo, foi uma verdadeira briga entre as cidades americanas para saber quem iria ser a nova sede da Amazon nos EUA. Cada prefeito buscava dar benefícios à empresa para que ela se instalasse na cidade, pois isso significava bilhões de dólares de investimento e milhares de empregos.

Garantir o controle administrativo e a gestão empresarial 

Você sabia que 75% das empresas familiares fecham as portas após serem sucedidos pelos herdeiros?. Muitas vezes quem herda a empresa da família é alguém que não está preparado para assumir o posto. E a falência é um resultado bem previsível.

Uma holding ajuda a evitar situações assim ao garantir que a gestão seja feita por pessoas qualificadas e de confiança. Claro que parte da empresa pode ainda permanecer com a geração futura do antigo dono e fundador, porém o controle majoritário da empresa-mãe se sobressai.

Investir em Holdings na B3 é uma boa opção?

É uma boa opção investir em um conglomerado na B3?
Veja agora se vale a pena investir em uma holding. Foto por Freepik.

A Bolsa de Valores no Brasil (B3) possui cerca de 36 empresas listadas como holdings. As mais conhecidas são Itaúsa, Natura, Padtec, Anima e Suzano.

É preciso fazer algumas considerações a respeito dessas empresas para ter uma avaliação se vale a pena ou não investir nelas a longo prazo.

Analise os resultados da empresa-mãe e empresa subsidiária

O primeiro passo é saber que tipo de holding você vai investir. No caso da Itaúsa, você pode comprar ações da empresa-mãe (ITSA3) ou das subsidiárias Duratex (DTEX3), Alpargatas (ALPA3) ou Itaú (ITUB3).

No caso da Natura (NTCO3), ela detém algumas companhias, a mais famosa sendo a Avon. No entanto, nenhuma delas está listada na Bolsa de Valores, apenas a própria Natura.

Independentemente da situação, é preciso estar atento às performances e resultados tanto das empresas controladoras quanto das controladas, mesmo que seja possível somente obter ações da empresa-mãe.

Pesquise por relatórios

Se você quer saber sobre investir em holdings, será preciso ir atrás de relatórios financeiros detalhados. Vá até o site das subsidiárias e encontre os relatórios de resultados anuais, semestrais ou trimestrais. São dois valores que você precisa ficar atento.

Avaliar um conglomerado pode ser mais complexa do que uma empresa comum.

Isso porque temos que analisar:

  • Perfil de risco;
  • Diversificação do portfólio;
  • Performance de cada subsidiárias;

Além disso, a forma de receita do conglomerado não é tão simples. Contudo, em geral a receita vem através de:

  • Aluguéis de bens móveis e imóveis;
  • Juros de empréstimos a outras empresas do grupo;
  • Repasse de financiamentos;
  • Comissões;
  • Prestações de serviços às demais empresas da holding.

Assim como há os ganhos por venda das ações nas empresas e recebimento dos lucros das controladas. Por isso, será necessário mergulhar nos negócios da holding para entender como ela opera e faz dinheiro, antes de investir.

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Regra dos 10%

Essa regra é um simples cálculo matemático para averiguar qual empresa (controlada ou controladora) é mais vantajosa investir. Vamos ver em números a comparação entre o banco Itaú e a sua holding Itaúsa:

  1. Valor de mercado do Itaú (subsidiária): R$ 293 bilhões
  2. Participação da holding (Itaúsa): 38% ou R$ 111,34 bilhões
  3. Valor da holding na Bolsa: R$ 99 bilhões

Feito isso, vamos subtrair o 2º com o 3º item e temos uma diferença de R$ 12,34 bilhões. Agora vem a regra dos 10%.

Aplicando no 2º item, 10% de R$ 111,34 bi dá R$ 11,134 bilhões. Vemos que R$ 12,34 bi é maior do que 10% da participação da holding no banco Itaú (R$ 11,134 bi). Assim, é mais vantajoso investir na holding Itaúsa do que na sua subsidiária. Isso porque há uma diferença superior a 10% entre o valor de mercado da Itaúsa e o banco Itaú.

Lembrando que isso não é recomendação de investimentos. Estamos utilizando os dados de Itaúsa apenas para ilustrar os conceitos.

Utilize indicadores fundamentalistas

Invista com ajuda de indicadores fundamentalistas.
Sempre invista utilizando com base os indicadores fundamentalistas. Foto por Freepik.

Você não deve investir a longo prazo sem antes analisar os indicadores fundamentalistas. Os mais recomendados são o preço sobre lucro (P/L), o Retorno sobre Patrimônio (ROE) e o dividend yield (DY).

A análise fundamentalista é essencial para quem deseja comprar ações a longo prazo e lucrar tanto na valorização do papel quanto na obtenção de dividendos.

Lembrando que há muitos outros dados e indicadores que precisam ser considerados também. Os dados sobre o mercado financeiro, em especial de ações, podem ser obtidos gratuitamente aqui na Investidor10, bastando procurar pela empresa de interesse.

Esteja atento para a liquidez

Algumas holdings e empresas controladas possuem liquidez baixa, o que torna mais difícil a negociação.

A melhor forma de você verificar a liquidez diária de um ativo é procurar pelo gráfico em uma plataforma de investimentos. Ali você conhecerá o histórico dele e saberá se conseguirá ter facilidade no momento de zerar a posição. Atente-se para o volume financeiro negociado durante um determinado período.

Conclusão

Enfim, investir em uma holding pode ser uma boa forma de diversificar sua carteira. Afinal, ao investir no conglomerado você estará exposto a diferentes mercados.

Contudo, é necessário atenção especial na hora da análise. Assim, buscando entender se o portfólio da empresa-mãe faz sentido e é constituído de boas empresas.

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