Value investing é uma estratégia de longo prazo que envolve comprar ações de boas empresas que estejam sendo negociadas abaixo de seu valor intrínseco.

Nesse sentido, o investidor de valor acredita que o mercado erra nas precificações de certas empresas por diversos motivos.

Isso ocasiona em algumas ações serem negociadas com muita divergência dos fundamentos de longo prazo.

Com esses movimentos dos preços das ações, surgem oportunidades para o value investor comprar boas empresas a um preço muito abaixo do seu valor intrínseco.

Ademais, essa estratégia de longo prazo é utilizada por grandes investidores da história.

Value Investing: pensando como Warren Buffett
Value investing é uma estratégia de crescimento de longo prazo. – Foto: Freepik

Warren Buffett é a lenda do mercado financeiro e o mais proeminente Value Investor, junto com seu mentor Benjamin Graham e parceiro Charlie Munger, entre outros nomes de peso do mercado.

A lógica do investimento de valor é a mesma quando você quer comprar um celular e espera entrar em promoção.

Digamos que o celular custe R$1000,00, mas espera o dia de uma promoção e ele agora custa R$800,00!

Você está levando o mesmo celular de R$1000 com 20% de desconto.

Dessa forma, value investing é encontrar essas oportunidades.

Muitas vezes será necessário muita paciência e trabalho para encontra-las.

Assim sendo, investidores de valor usam análises financeiras, não seguem a manada e suas posições são de longo prazo em empresas de qualidade.

Fundamentos do Value Investing

Fundamentos do value investing.
Os fundamentos do value investing. – Foto: Freepik

A filosofia do investimento de valor se apoia em três fundamentos:

Os preços oscilam, valor intrínseco permanece.

Isto é, investidores de valor não acreditam na eficiência de mercado.

A eficiência de mercado dita que o mercado leva todas as informações em consideração e por isso os preços representariam o valor da empresa.

Contudo, o value investing preconiza que as ações em determinado momento poderão estar caras ou muito baratas, por vários motivos.

Portanto, as oscilações levam as ações serem negociadas abaixo do seu valor intrínseco.

Os ativos tem um valor intrínseco.

Para o investidor de valor, cada empresa possui um valor intrínseco.

Dessa maneira, quando ação está abaixo desse valor existe uma oportunidade de compra para o value investor.

Há diversos motivos para uma ação poder estar “barata”:

  • Quedas de mercado
  • Ciclos da economia
  • Empresas com baixo apelo na mídia (que leva as pessoas nem prestarem atenção na ação, afinal não é a coisa “quente” do momento)
  • Efeito manada

Comprar empresas de valor com um grande desconto.

A estratégia de value investing consiste em adquirir ativos com desconto significativo em relação ao seu valor intrínseco.

Mas, contrário às promoções de celulares, você não receberá notificação ou propaganda para comprar uma ação com desconto.

Investidores de valores precisam fazer um trabalho de detetive para encontrar essas “promoções”.

Lupa sobre balanço patrimonial. Muitas vezes o value investor terá de fazer trabalho de detetive.
Muitas vezes o investidor de valor terá de fazer trabalho de detetive. – Foto: Freepik

Aliás, quando fazem uma análise correta e encontram essas promoções, no longo prazo, investidores de valor tendem a serem recompensados muito bem. Como é o caso de Warren Buffett.

Porém, value investing demanda empenho e paciência.

Estimar o valor intrínseco de uma empresa demanda análises financeiras. Contudo, também pode envolver aspectos subjetivos — mais arte do que ciência, às vezes.

Por isso, dois investidores com os mesmos dados podem avaliar uma empresa de maneira totalmente diferente entre si.

Ademais, como toda estratégia de investimento, é necessário permanecer fiel à sua filosofia.

Poderá haver ações que você queira comprar, mas terá de esperar pois estão acima do valor intrínseco. Ou seja, caras.

O investidor de valor irá comprar aquelas ações que estão com ótimo desconto e são de empresas de qualidade.

Portanto, se nenhuma ação atinge os critérios, terá de sentar e esperar com seu dinheiro guardado até que uma oportunidade apareça.

Escolas do Value Investing

O value investing possui 3 escolas de pensamento.
Value investing possui 3 escolas de pensamento – Foto: Freepik

Deep value

Deep value irá focar em ações abaixo do valor de liquidação. Apoiando-se em:

  • Dados do balanço
  • Cálculo do valor de liquidação
  • Confronto do valor de liquidação com o valor de mercado

Por exemplo, uma empresa fictícia tem os seguintes dados no balanço:

  • Caixa líquido: R$43,1 milhões
  • Estoques: R$ 64,3 milhões
  • Contas a receber: R$53,7 milhões
  • Imobilizado: R$97 milhões
  • Fornecedores: -R$5,7milhões

Total: R$254,4 milhões.

Valor de mercado: R$ 169,89 milhões

Desconto de 33,22% sobre o valor de liquidação.  Ou seja, a empresa está sendo negociada bem abaixo do seu valor, apresentando-se como uma boa oportunidade.

Importante: esse cálculo é apenas para ilustração. Decisões de investimentos devem utilizar cálculos mais precisos e um conjunto maior de informações.

Outro ponto de atenção é que nem sempre pela empresa estar abaixo do seu valor de liquidação quer dizer que vá em algum ponto subir de volta.

Há diversos exemplos de empresas que estão há anos negociadas abaixo e não se tornaram um bom negócio.

Para isso, muitos investidores de valores acabam eliminando ou analisando com mais cuidado empresas que estejam por um período prolongado sendo negociadas abaixo do valor intrínseco delas.

Como Buffet diz: “Preço é o que paga, valor é o que você recebe”.

Assim, o investidor de valor deve sempre aproveitar as discrepâncias entre o valor e o preço.

High quality

Essa essa abordagem busca por empresas que geram retorno sobre capital elevado e forte saúde financeira.

Ao contrário da visão de que Value investing é estratégia focada em preço e não em qualidade.

Assim, High Quality irá observar fatores como:

  • Margens elevadas e estáveis;
  • Alta rentabilidade (ROE e ROIC);
  • Forte geração de caixa;
  • Baixo endividamento;
  • Perspectivas sólidas de crescimento;
  • Gestão competente (por exemplo, observando a alocação de investimentos estratégicos e crescimento de marketshare mantendo margens elevadas).

Active Investing

Em contrapartida, investidores adeptos do Active investing são agentes ativos nas empresas em que investem, como ao fazer parte do conselho e sendo agentes de mudanças.

Assim, o Active Investor busca adquirir um ativo sub-monetizado e realizar o turn around da empresa.

Aliás, como essa estratégia envolve em comprar stake controlador da empresa, se torna impossível para o investimento pessoa física médio. Afinal, você vai precisar ser um gestor experiente e ter uns milhões para gastar.

Esse turn around é renovação corporativa, recuperação do valor da companhia e aumento da performance.

Nesse sentido, o investidor ativo irá atuar, entre outras coisas, em:

  • Reduzir custos;
  • Aumentar receita;
  • Reduzir investimentos;
  • Redução do capital de giro;
  • Reduzir custo de capital.

Um exemplo de como essa estratégia é poderosa, podemos observar a história de Paulo Leeman e seus companheiros do Banco Garantia.

Paulo Leeman e seus sócios compravam empresas que estavam passando por dificuldade por motivos administrativos e não por modelo de negócio, e estavam baratas, então iam e transformavam em um incrível negócio.

Assim fizeram com empresas como Lojas Americanas, Telemar, Gafisa, ALL, Brahma e Antartica – essas duas últimas que vieram a se tornara na gigante mundial AB Inbev.

Os Gurus do Value Investing

Warren Buffett: O Oráculo de Omaha

Value Investing: pensando como Warren Buffett
Warren Buffet em visita ao Reino Unido. Foto por Mark Hirschey

Warren Buffett, CEO e Chairman da icônica Berkshire Hathway, ascendeu ao pedestal de investidor lendário ainda em vida.

Sua ascensão é totalmente de seus méritos. Sua história é incrível e fascinante.

Ademais, suas entrevistas são sempre repletas de muita sabedoria.

Com seus retornos maiores que o dobro do S&P 500 (índice da bolsa americana) se tornou o símbolo do Value Investing.

Hoje sua fortuna está avaliada por volta dos US$ 80 bilhões. Um sucesso e tanto usando essa estratégia, não é?

 

Charlie Munger: parceiro do Oráculo

Value Investing: pensando como Warren Buffett
Charlie Munger, braço-direito de Buffet. Foto por Nick.

Charlie Munger é o vice-presidente do conglomerado Berkshire Hathway, sendo referido por Buffet como seu parceiro.

Ainda que sua fortuna não seja tão impressionante como do seu parceiro, Munger possui US$1,6 bilhões de patrimônio.

Também é uma grande figura do value investing, afinal compartilha a mesma filosofia de Warren Buffett.

Benjamin Graham: o pai do Value Investing

Value Investing: pensando como Warren Buffett
Benjamin Graham, o pai do value investing. Foto por Wikipedia

Graham foi o mentor de Warren Buffett, sendo considerado por muitos como o pai do Value Investing.

Seus livros O Investidor Inteligente e Security Analysis com certeza estão no top 5 de todo investidor bem sucedido.

Basicamente, Graham foi extremamente influente nas estratégias de investimentos dos maiores investidores, como Irving Kahn, Charles Brandes, Seth Klarman, Bill Ackman, Warren Buffett e John Templeton.

 

Joel Greenblatt: o mágico

Greenblatt é um nome bastante icônico no meio do Value Investing, principalmente por sua “Fórmula Mágica”.

Seu livro mais famoso “A fórmula mágica de Joel Greenblatt para bater o mercado de ações” (na tradução para português) foi que introduziu sua estratégia.

Como investidor de valor, são princípios de sua filosofia: empresas boas e baratas, com alta taxa de retorno por ação (P/E) e por capital investido (ROIC).

Hoje em dia ele é fundador e gestor da Gotham Asset Management.

Buffet and Munger: os 4 filtros do Value Investing

Os 4 Filtros para um bom investimento.
Os 4 Filtros para um bom investimento. – Ilustração por Daniel Cunha.

Warren Buffett e Charlie Munger compartilham da mesma filosofia desses 4 filtros para fazer um bom investimento.

Nesse sentido, se uma das etapas não for cumprida, não se deve fazer o investimento.

São elas:

#1 Entenda o que está investindo

Antes mesmo de fazer análise financeira, olhar os relatórios e afins, é necessário entender como aquele negócio faz dinheiro e como ele se insere no mercado que atua.

Ou seja, se você não consegue explicar objetiva e claramente como a empresa em questão faz dinheiro, nem cogite comprar as ações.

Logo, antes de investir é necessário muito estudo. Entender como a empresa funciona e como analisar suas finanças, pois uma análise errada irá lhe custar muito dinheiro.

#2 Vantagens competitivas sólidas e sustentáveis

Como Munger descreve, empresas possuem características intrínsecas que lhe dão vantagens competitivas duradouras.

Ou seja, não são as vantagens momentânea, como ser o primeiro restaurante da cidade. Em algum ponto alguém irá fazer o seu serviço melhor e mais barato, se estas forem suas únicas características.

Buffet diz que capitalismo por definição é um sistema que sempre que alguém tem um castelo econômico, outra pessoa irá atrás desse mesmo castelo.

Portanto, você deve buscar empresas que possuem uma melhor defesa do castelo econômico.

#3 Gestores honestos e capazes

Isso é muito importante.

Não dá para deixar seu dinheiro sendo gerenciado por pessoas incompetentes ou fraudulentas.

Peter Lynch dizia: “compre um negócio tão bom que um idiota poderia tocá-lo. Pois, cedo ou tarde um irá.”

Mas, nem todo negócio dá para ser tão fácil de tocar assim.

Portanto, deve-se conhecer a capacidade gerencial dos executivos e de seu caráter.

#4 Preço atrativo (Margem de segurança)

Basicamente a margem de segurança, de acordo com Graham, é a diferença entre o valor intrínseco e seu valor de mercado.

Portanto, quanto mais o preço da ação estiver abaixo do seu valor, maior sua margem de segurança.

Plotando essa ideia em um gráfico, ficaria assim:

A Divergência entre preço e valor da companhia e ponto de oportunidade.
A Divergência entre preço e valor da companhia e ponto de oportunidade. Ilustração por Daniel Cunha.

Isto é, digamos que seu cálculo fale que o valor intrínseco da ação é de R$10,83. Mas, ela está sendo negociada a R$6,21. Você compraria, afinal é um desconto de 42,66%.

Com isso, mesmo que sua estimava não esteja totalmente correta, e o valor na verdade é R$ 8,69 você ainda tem uma boa “margem de segurança” nesse investimento.

Nesse sentido, também poderíamos chamar de “margem de erro”, se preferir enxergar dessa maneira.

Conclusões

Por fim, temos de relembrar que esse processo de value investing não é rápido e simples.

Será necessário bastante, mas bastante mesmo de estudos. Além do tempo fazendo análises dos negócios de interesse.

Por exemplo, você terá que entender bem as métricas, como:

  • Preço/Lucro (P/L)
  • Preço/Valor Patrimonial (P/VP)
  • ROIC
  • Dividend Yield
  • Retorno sobre patrimônio líquido
  • Dívida Bruta/Patrimônio Líquido

Entre tanto outros indicadores fundamentalistas.

Outra dica importante do Buffet é sobre fazer essa análise através de eliminação.

Ou seja, em vez de ficar doido caçando quem é o melhor. Basta ir eliminando os ruins.

Consequentemente, o que sobrar será o melhor disponível no momento.

Contudo, é importante entender que empresas abaixo do valor intrínseco não são automaticamente o melhor investimento.

É necessário ter uma análise muito bem feita. Se não, será na prática uma loteria.

Isto é, vai comprar o bilhete (ação) que está barato esperando que ele te deixe rico (suba muito).

Por fim, também podemos perceber que essa estratégia é bem semelhante com a Buy and Hold.

Recomendo a leitura desse artigo sobre Buy and Hold para a construção de sua filosofia de investimento de longo prazo.