Em um mundo de constante mudanças, o desenvolvimento sustentável vem se tornando de grande preocupação de todas as pessoas. E isso chegou ao mundo do investimento com o nome de ESG Investing.

ESG Investing ainda não é o padrão de investimento, mas de uma ideia que não passava de sussurros, já se tornou a estratégia padrão dos maiores gestores de recursos do planeta, com trilhões de dólares em ativos sustentáveis!

Não é surpresa que fatores ESG vêm rapidamente ganhando popularidade. A crescente preocupação com questões como mudanças climáticas e problemas sociais está mudando como investidores alocam seus recursos.

A estratégia ESG utiliza critérios de investimento que alinham seus valores e causas que importam para você com os ativos da sua carteira.

Com esse pensamento, é adicionado propósito aos retornos financeiros obtidos. Não mais apenas investir pelo lucro, mas para o impacto na sociedade da empresa como um todo.

Mas, como funciona essa filosofia de investimentos?

O Conceito de ESG Investing

Podemos compreender esse tipo de análise de investimento através do Tripé da Sustentabilidade, expressão apresentada pelo economista John Elkington em 1997, em inglês chamado de Triple Bottom Line.

Esse conceito reflete a integração de três dimensões que devem coexistir para que o desenvolvimento sustentável seja atingido. Sendo estes: Pessoas, Lucro e Planeta.

Pela filosofia ESG, teremos esse tripé com os seguintes nomes:

  • Environmental (Ambiental): reflete as preocupações com aquecimento global, uso da água e poluição;
  • Social: reflete sobre saúde e segurança do trabalho, padrões de trabalho na cadeia de suprimentos, segurança de dados e privacidade;
  • Governance (Governança): trata da ética empresarial, instabilidade política e corrupção, conflitos de interesses, etc.

Dessa forma, os critérios adotados para investimento almejam alinhar retornos financeiros com as necessidades da sociedade e gerações futuras.

Os Titãs Financeiros e o ESG Investing

Segundo relatório da Global Sustainable Investment Alliance, o total investido em ativos sustentáveis em 2018 eram de USD 30.7 trilhões.

Nesse sentido, o gestor chefe global de Wealth Management da Deutsche Bank, Fabrizio Campelli comenta que ESG Investing vem se tornando cada vez mais importante na relação com seus clientes. “Análise, diretrizes e investimentos ESG estão rapidamente se tornando não só importante componente das nossas ofertas, mas uma essencial fundação para tudo que fazemos”, complementa.

JPMorgan também é outro dos bancões que vem cada vez mais integrando seus ativos à critérios ESG. Atualmente, já possuem USD 2 trilhões investidos em ativos sustentáveis.

Larri Fink, CEO da Blackrock, a maior gestora de recursos do mundo (são mais de USD 6 trilhões de ativos sob gestão), em uma carta para CEOs colocou o ESG Investing nos holofotes ao declarar que estarão adotando as premissas dessa estratégia como o novo padrão para gestão de seus investimentos.

A carta de Larri Fink aos CEOs das empresas também demonstra como as companhias estão sendo cada vez mais cobradas em suas ações de sustentabilidade. Essa pressão leva as empresas a terem projetos e diretrizes mais concretas, beneficiando tanto a sociedade como seus acionistas.

Ademais, por pressão dos investidores e sociedade, podemos ver empresas como a JBS dedicando uma seção inteira de seu site de Relação com Investidores à divulgação de suas ações de sustentabilidade, diretrizes de governança e compliance.

Estratégias do ESG Investing

Foram identificadas 7 estratégias adotados para a formação de um portfólio:

  • Exclusão: remove certos setores, companhias e práticas do portfólio baseado em critérios ESG.
  • Melhores do Setor: foco em investir nas companhias que estejam performando melhor nos critérios ESG do que seus pares.
  • Temática: foco da carteira de investimento em certas áreas do ESG, como energia renovável, educação e saúde.
  • Baseada em normas: análise dos investimentos com base em normas de boas práticas internacionais, como as estabelecidas pela OCDE, ONU, UNICEF e outras;
  • Integração ESG: sistemática inclusão de posições de investimentos que obedeçam a critérios do ESG em um portfólio.
  • Investimento de Impacto: carteira direcionada para empresas ou fundos que gerem mensuráveis e positivos impactos sociais e/ou ambientais alinhados com retorno financeiro.
  • Influência Corporativa: uso de poder de acionista ou comunicação direta com alta direção da companhia para influenciar um comportamento corporativo que seja alinhado aos critérios ESG.

Lembrando que uma estratégia não anula a outra. Por isso, é comum ver duas ou mais estratégias sendo adotadas em conjunto.

Crescimento Global das Estratégias de Investimento Sustentáveis 2016-2018 (valores em bilhões)

Gráfico de barras mostrando o aumento de ativos em ESG Investing por estratégia, entre 2016 e 2018.
Fonte: Adaptado de “2018 Global Sustainable Investment Review”, da GSIA.

Pelo relatório da GSIA, podemos observar que a estratégia mais adotada até 2018 era de exclusão. Mas, em segundo lugar sendo a Integração ESG, com aumento expressivo de 2016 para 2018 em volume de ativos, demonstrando uma transição dos modelos tradicionais de investimento para uma montagem de portfólio mais sustentável.

Os problemas de um portfólio ESG

Investir em ativos que causem impactos positivos no ambiente e na sociedade é uma promessa tentadora. Afinal, todos queremos ter um impacto positivo com nossas ações.

Mas, apesar de ser atrativo a premissa do ESG, ainda encontramos alguns problemas, fazendo que a escolha ética e fácil por essa estratégia em detrimento de outras seja mais complicada.

Um dos grandes problemas está na falta de padronização nos critérios adotados.

Apesar do ESG agora ser bastante popular, ainda não é possível encontrar congruência de critérios de avaliação.

Isto é, cada gestora de recursos e agência de análise terá seus critérios próprios de ESG para avaliação dos investimentos.

Dessa forma, ocorre muita divergência. Por exemplo, um ambientalista poderá se decepcionar ao ver um fundo ESG com posição aberta em empresas de petróleo, mesmo que essa empresa seja a mais sustentável em seu segmento.

Por esse motivo, é preciso analisar muito bem os critérios adotados pela instituição antes de investir com ela. Pois, talvez os seus valores e intenções não estejam totalmente alinhados aos critérios adotados pela gestora.

Outros problemas que podemos elencar sobre a estratégia são:

  • Maior preços dos ativos: com o crescente interesse por ativos sustentáveis, é natural que os preços dessas categorias sofrem pressão de alta;
  • Maiores custos: despesas operacionais e administrativas para os ativos e fundos ESG costumam ser superiores aos ativos tradicionais;
  • Maior risco de retorno: nem toda operação mais sustentável ainda é lucrativa. Algumas poderá nunca vir a ser, fazendo o investimento se tornar em prática uma doação;
  • Greenwashing: empresas utilizando de informação falsas ou incompletas para se beneficiar dessa crescente preocupação das pessoas por produtos e empresas mais ecológicas e socialmente responsáveis;
  • Retornos mais baixos: investidores estão dispostos a aceitar um retorno financeiro menor quando há um impacto social e ambiental positivo, dessa forma, há um movimento que leva esses ativos a terem retornos reduzidos que precisam ser justificados pelos impactos sociais e ambientais;
  • Diversificação limitada: quanto mais rigorosos forem os critérios ESG adotados, menores serão as opções de ativos para uma diversificação da carteira de investimentos.

Greenwashing: uma prática deplorável

Copos de plásticos encontrados na área, com rotulagem de "ECO". Empresas estão se aproveitando da popularidade do ESG Investing para criarem rótulos falsos para atrair clientes preocupados com meio ambiente.
Foto por Brian Yurasits em Unsplash.com

Com a popularização da filosofia de investimento sustentável algumas empresas acabam tentando se aproveitar dessa mentalidade para atrair consumidores e investidores, enquanto mantém práticas que vão na direção oposta à sustentabilidade.

A prática do Greenwashing consiste em vincular informações ecológicas que beneficiem seus serviços e produtos de modo a distorcer a realidade. Isto é, informação incompleta ou totalmente fabricada para dar aparência de empresa preocupada com o meio ambiente, apenas para poder cobrar preços maiores e aumentar vendas.

Identificando práticas de Greenwashing

Aqui vão algumas dicas para identificar práticas de Greenwashing:

  • Buscar no website da empresa os reais projetos socioambientais em que ela está engajada e se realmente eles acontecem ou são apenas fachada;
  • Tente fazer uma busca geral no Google para verificar se a imagem da empresa está vinculada a algum tipo de escândalo ou caso que envolva impacto socioambiental;
  • Verifique se as campanhas ecológicas e sociais são de impacto relevante. Ou seja, evite empresas que fazem pequenas ações apenas para dar aparência de ecológicas e socialmente preocupadas;
  • Sempre desconfie das declarações sustentáveis das empresas, especialmente às autodeclarações (por exemplo, selos que não foram adquiridos por auditoria externa).

Por que adotar essa filosofia

Uma grande vantagem de a empresa adotar uma gestão mais sustentável e de investidores terem portfólios ESG está na redução de riscos:

  • Regulatórios: empresas que adotam medidas sustentáveis muitas vezes se adiantam frente à novas regulamentações no setor, praticamente eliminando custos com adequação caso uma nova lei seja passada;
  • Legais: com uma política de governança corporativa estabelecida e aplicada aliado a ações sustentáveis, reduz-se as chances de a empresa estar envolvida em processos judiciais e desastres;
  • Relações Públicas: com aplicação dessas boas práticas, os riscos de a empresa ter sua imagem manchada é reduzido, além de aumentar a fidelidade da marca.
  • Fraudes: as políticas de governança corporativas auxiliam na prevenção de fraudes, garantindo assim maior segurança a todos stakeholders.

Assim, você estará apoiando empresas que atuam nas causas que lhe importa e que se alinham com seus valores pessoais.

Ademais, companhias com gestão mais sustentável podemos esperar:

  • Otimização de performance;
  • Continuidade dos negócios;
  • Gestão equilibrada;
  • Criação de valor.

Além disso, mudanças climáticas também impacta as economias, e o Brasil é uma das nações que possuem mais chance de serem negativamente impactadas.

Economias emergentes são mais propensas a serem impactadas pelo aquecimento global:

Gráfico geográfico colorido indicando os níveis de impactos esperados na economia de cada pais. Brasil está em nível intermediário. Daí a necessidade do ESG Investing.
Fonte: Adaptado de “The Impact of climate change on the global economy”, por Keith Wade.

Portanto, não é só sobre valores pessoais, mas a atenção com o ambiente hoje é reduzir os impactos negativos futuros na economia e na sociedade.

Assim, alguns defensores da ESG também apontam que é obrigação moral dos investidores de tomarem ações ativas para o desenvolvimento sustentável.

Em contrapartida, outros defendem que apesar de ser uma filosofia que deve ser encorajada, atualmente vem sendo utilizada apenas como estratégia de marketing e relações públicas sem reais avanços de sustentabilidade por partes das instituições e que o público está comprando essas narrativas cegamente.

Conclusão

De todo modo, os avanços de políticas de desenvolvimento sustentável vem afetando todas setores da sociedade. Incluindo os investimentos.

Enfim, ESG investing pode não ser a forma como todos estão investindo. Ainda. Pois, como vimos, os maiores gestores de recursos financeiros do mundo já estão adotando o ESG Investing como o novo padrão para investimento.

E você, o que pensa sobre uma estratégia de investimento que visa possuir ativos que gerem impactos positivos no ambiente e sociedade para seu portfólio?