Ruídos em Brasília e tensões fiscais derrubam o Ibovespa pela 4ª vez consecutiva

Ao longo da sessão, o índice chegou a recuar mais de 1%, em um cenário de forte aversão ao risco, impulsionado por incertezas fiscais internas.

Author
Publicado em 09/06/2025 às 17:55h - Atualizado 9 horas atrás Publicado em 09/06/2025 às 17:55h Atualizado 9 horas atrás por Matheus Silva
O centro das atenções seguiu sendo o pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Shutterstock)
O centro das atenções seguiu sendo o pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Shutterstock)

🚨 A semana começou negativa para os ativos brasileiros. O Ibovespa caiu pelo quarto pregão consecutivo nesta segunda-feira, encerrando o dia com perda de 0,30%, aos 135.699,38 pontos.

Ao longo da sessão, o índice chegou a recuar mais de 1%, em um cenário de forte aversão ao risco, impulsionado por incertezas fiscais internas e dúvidas sobre o alcance das novas medidas propostas pelo governo.

Desde meados de maio, o índice acumula perda superior a 4 mil pontos, refletindo um mercado cada vez mais cético quanto à sustentabilidade das contas públicas.

Brasil: Fiscal preocupa

O centro das atenções seguiu sendo o pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Após uma reunião com os presidentes da Câmara e do Senado, além de outras lideranças partidárias, Haddad detalhou os planos do governo para ampliar a arrecadação e tentar manter de pé o arcabouço fiscal.

A estratégia inclui uma Medida Provisória para taxar aplicações que hoje são isentas, como LCIs, LCAs e debêntures incentivadas, além de mudanças no decreto que eleva o IOF sobre operações de câmbio. O plano prevê também ajustes em gastos tributários e despesas primárias.

A recepção no Congresso, no entanto, foi fria. Apesar de Haddad dizer que houve um “alinhamento importante” com o Legislativo, líderes como Hugo Motta e Davi Alcolumbre deixaram claro que ainda não há compromisso com a aprovação do pacote.

Motta, inclusive, afirmou que o Brasil talvez precise de um “shutdown à brasileira” para forçar uma discussão mais realista sobre despesas públicas. Já no setor produtivo, a reação foi ainda mais dura.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion, classificou a proposta de taxar instrumentos como as LCAs como um erro grave e afirmou que o setor não aceitará aumento de carga tributária sobre ferramentas que financiam o agronegócio.

No mercado financeiro, a sensação foi de frustração. A XP estima que a medida pode gerar uma arrecadação adicional de até R$ 18 bilhões, mas o pano de fundo segue sendo a dificuldade do governo em cortar despesas, como lembrou o economista Caio Megale.

A avaliação é de que o modelo de aumento de gastos com base em novas receitas chegou perto do limite e que a credibilidade fiscal só será recuperada com medidas mais duras do lado das despesas.

➡️ Leia mais: Governo vai cobrar 5% de IR sobre FIIs e Fiagros a partir de 2026, diz jornal

Internacional

Apesar da pressão local, o cenário internacional ajudou a conter as perdas. Em Londres, Estados Unidos e China retomaram conversas sobre política comercial, o que foi bem recebido por investidores globais.

O dólar comercial, que chegou a subir durante a manhã, encerrou em queda de 0,14%, cotado a R$ 5,562. Já os juros futuros recuaram ao longo de toda a curva, com o mercado apostando em um IPCA de maio mais comportado, a ser divulgado nesta terça-feira.

Destaques do dia

Entre as ações, o desempenho foi misto. A Vale (VALE3) começou o dia em queda, refletindo a baixa do minério de ferro na China, mas virou no meio da tarde e fechou com alta de 0,59%.

A Petrobras (PETR4), por sua vez, recuou 1,55%, afetada por cortes de recomendação de analistas, mesmo com o petróleo em alta no exterior.

O destaque positivo ficou por conta da Gerdau (GGBR4), que subiu 6,41% após upgrade de recomendação por um grande banco. A Metalúrgica Gerdau (GOAU4) acompanhou o movimento e fechou com alta de 5,21%.

Em outro movimento relevante, a Raízen (RAIZ4) caiu 2,02% após um banco reduzir sua recomendação para o papel.

No setor de educação, Yduqs (YDUQ3) avançou 1,23% e Ânima (ANIM3), 4,30%, com bancos apostando nas duas companhias como beneficiárias da nova regulação do ensino a distância.

Embraer (EMBR3) também se destacou, com alta de 4,63%, enquanto a Gol (GOLL4), fora do Ibovespa, disparou 11,82% após concluir o processo de recuperação judicial nos Estados Unidos. Já a Azul (AZUL4) subiu 2,08%.

Apesar do desempenho mais brando ao fim do dia, o mercado segue em compasso de espera por novos sinais de Brasília.

Além do IPCA de maio, o investidor estará atento aos desdobramentos do pacote fiscal e aos próximos movimentos do governo na tentativa de conter o avanço da dívida. Sem avanços concretos, o risco fiscal seguirá pressionando os ativos brasileiros.

➡️ Leia mais: FIES em crise: Rombo bilionário ameaça resultados de Banco do Brasil e Caixa