Grupamento de ações pode bater recorde na B3 em 2024

Nove empresas da bolsa brasileira já aprovaram o grupamento neste ano, mas outras podem seguir esse caminho.

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Publicado em 23/06/2024 às 15:04h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 23/06/2024 às 15:04h Atualizado 3 meses atrás por Marina Barbosa
Grupamento já atingiu marca histórica na B3 em 2023 (Shutterstock)
Grupamento já atingiu marca histórica na B3 em 2023 (Shutterstock)

Nunca tantas empresas agruparam ações na bolsa brasileira quanto nos últimos meses. De acordo com dados da B3, um recorde de 17 empresas implementaram grupamentos de ações em 2023 e há potencial para que esse número seja ainda maior em 2024.

📈 Levantamento da B3 realizado a pedido do Investidor10 mostra que uma média de 5 empresas agruparam suas ações por ano na bolsa brasileira entre 2018 e 2022. Esse número, no entanto, saltou para 17 em 2023 e segue em alta em 2024.

Seis empresas já agruparam suas ações neste ano. Mais três aprovaram o grupamento recentemente e se preparam para implementar a medida. Já há, portanto, nove grupamentos certos para este ano

🪙 Além disso, outra empresa vai colocar o assunto para votação dos acionistas nos próximos dias. E ainda há oito penny stocks na B3, isto é, ações que valem centavos e que geralmente são agrupadas para alcançar preços mais elevados.

Ou seja, se todas essas empresas decidirem agrupar suas ações, o número de grupamentos pode chegar a 18 e bater um novo recorde em 2024.

Veja quantos grupamentos de ações foram realizados por ano na B3:

  • 2018: 5;
  • 2019: 7;
  • 2020: 5;
  • 2021: 4;
  • 2022: 4;
  • 2023: 17.

"O aumento de agrupamentos de ações, se deve ao fato de maiores dificuldades financeiras das empresas, devido a taxa de juros, inflação, descontrole do fiscal, e situação política complicada no País", afirmou o especialista da Valor Investimentos, Virgílio Lage.

Para ele, é bem provável que mais empresas agrupem suas ações neste ano caso nada mude neste cenário, sobretudo se a taxa básica de juros, a taxa Selic, não voltar a cair e se a situação fiscal do país piorar.

"Espera-se que mais empresas façam grupamentos em 2024 devido à continuidade dos mesmos fatores que impulsionaram essa prática em 2023, como as condições econômicas desfavoráveis que afetam o valor das ações e a pressão para manter a conformidade com as regras da bolsa", reforçou o analista da Benndorf Research, João Lucas Tonello.

O que é grupamento de ações?

O grupamento de ações é muito utilizado pelas companhias que querem deixar de ser uma penny stock. Afinal, dessa forma, uma empresa transforma um lote de ações em único papel. Ou seja, diminui a quantidade de papeis em circulação e, assim, aumenta o valor por ação

Foi por isso, por exemplo, que a Oi (OIBR3) agrupou as suas ações em 17 de junho e a Americanas (AMER3) fará o mesmo em 17 de julho. Na semana passada, o TC (TRAD3) também aprovou um grupamento depois de ser notificado pela B3 por causa do baixo valor dos seus papeis. 

Sempre que uma ação é negociada abaixo de R$ 1 por 30 pregões consecutivos, a bolsa brasileira pede que a empresa tome providências para enquadrar suas ações em um valor acima de R$ 1. A B3 impõe limites às penny stocks por causa da alta volatilidade desses papeis. Por isso, não permite a inclusão de penny stocks a índices como o Ibovespa, por exemplo.

Logo, a B3 afirma que o grupamento de ações tem benefícios como a elegibilidade aos índices da B3, além da diminuição da volatilidade do papel e da melhora do fluxo de negócios. "Com oscilações menos abruptas, a ação deixa de entrar em leilão constantemente", explica.

O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, agrupou suas ações em 27 de maio, na proporção de 10 para 1, mesmo não sendo uma penny stock. O objetivo da empresa era reduzir a volatilidade dos papeis, "por meio da manutenção de sua cotação em um patamar mais adequado —evitando, assim, que oscilações irrisórias (em centavos) possam representar percentuais elevado".

Especialistas concordam que o grupamento de ações pode reduzir a volatilidade e melhorar a percepção do mercado sobre a empresa, atraindo novos investidores. Contudo, lembram que a operação também mostra que a empresa enfrenta dificuldades.

"Pode ser visto como um sinal de fraqueza ou problemas financeiros, especialmente se o motivo do grupamento for para evitar deslistagem", comentou João Lucas Tonello. 

O analista da Benndorf Research diz, então, que os investidores devem entender por que a empresa está agrupando suas ações, além de monitorar a liquidez e o preço do papel após a operação. Também é recomendável analisar os fundamentos e o histórico de desempenho da empresa antes de investir em uma empresa como essa.

Quais empresas agruparam suas ações em 2024?

Seis empresas já agruparam as suas ações na B3 até 23 de junho. A última foi a Oi, que agrupou as suas ações na última segunda-feira (17) para deixar de ser uma penny stock, mas já caiu 13,2% na B3 desde então.

Veja os grupamentos já implementados em 2024:

Além disso, mais três empresas já decidiram agrupar suas ações nos próximos dias. Uma delas é a Americanas, que vai agrupar lotes de 100 ações em um único papel a partir de 17 de julho.

Veja os próximos grupamentos da B3:

  • Springs Global (SGPS3): grupamento foi aprovado em 29 de maio e terá efeito em 2 de julho, na proporção de 5 para 1;
  • Americanas (AMER3): grupamento foi aprovado em 21 de maio e terá efeito em 17 de julho, na proporção de 100 para 1;
  • TC (TRAD3): grupamento foi aprovado em 20 de junho e terá efeito em 22 de julho, na proporção de 7 para 1.

A PDG Realty (PDGR3) pode ser a próxima a agrupar suas ações na bolsa brasileira. É que a empresa propôs o grupamento, na proporção de 10 para 1, depois que foi notificada pela B3 por ter ações negociadas por menos de R$ 1. O assunto será colocado em votação em  assembleia extraordinária de acionistas convocada para o dia 1º de julho.

Este é o rito dos grupamentos: A operação geralmente é proposta pelo Conselho de Administração da empresa e levada para deliberação em uma assembleia de acionistas

Na proposta, a empresa deve especificar a proporção do grupamento. Isto é, quantas ações devem ser agrupadas em único papel. Além disso, a companhia geralmente dá um prazo para que os acionistas ajustem as suas posições ao grupamento. O prazo de ajuste mais comum é de 30 dias, a contar da aprovação em assembleia.

Penny stocks

Além disso, há outras empresas com potencial pata agrupar suas ações na B3. É que, além de PDG Realty, TC, Americanas e Springs, a bolsa brasileira tem outras oito penny stocks atualmente, segundo levantamento do CEO da Elos Ayta Consultoria, Einar Rivero, realizado a pedido do Investidor10.

Veja as outras penny stocks da B3, com o preço de fechamento de sexta-feira (21):

Dessas empresas, a Kora Saúde já disse que pretende implementar o grupamento. A empresa tem até 21 de setembro para elevar o valor das suas ações a R$ 1, segundo ofício enviado pela B3 em março. Por isso, disse que o seu Conselho de Administração deve deliberar sobre o assunto até 19 de agosto.

Infracommerce também já foi notificada pela B3 e avalia as alternativas disponíveis para o reenquadramento da cotação das ações ao patamar mínimo de R$ 1.