Quais empresas da B3 ganham e perdem com reviravolta no tarifaço de Trump?

Lista de exceções à tarifa beneficiou Embraer, mas não trouxe alívio para empresas como Minerva.

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Publicado em 31/07/2025 às 13:34h - Atualizado 13 horas atrás Publicado em 31/07/2025 às 13:34h Atualizado 13 horas atrás por Marina Barbosa
Trump adiou tarifaço para 6 de agosto (Imagem: Shutterstock)
Trump adiou tarifaço para 6 de agosto (Imagem: Shutterstock)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nessa quarta-feira (30) o decreto que impõe uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros. O texto, contudo, adiou o início da cobrança para 6 de agosto e livrou da tarifa uma lista de quase 700 produtos.

A reviravolta nas tarifas trouxe alívio a muitos investidores e exportadores brasileiras, impulsionando as ações de empresas como a Embraer (EMBR3), que já calculava as perdas possíveis com o tarifaço, mas foi poupada da taxação.

Nem todos os setores da economia brasileira, no entanto, ficaram livres da tarifa. Por isso, ainda há algumas empresas da B3 estão calculando os impactos da medida. O Investidor10 mostra nesta reportagem, então, quem saiu ganhando e perdendo nessa história.

Quem ficou de fora do tarifaço?

✈️ A Embraer é apontada por analistas como a grande beneficiada pela última reviravolta da saga tarifária. Afinal, boa parte da receita da companhia vem dos Estados Unidos. Logo, a tarifa de 50% poderia ter um efeito similar ao da pandemia para a fabricante brasileira de aeronaves.

Não à toa, as ações da Embraer saltaram 10,93% na quarta-feira (30) e seguem subindo forte na bolsa nesta quinta-feira (31), na medida em que os bancos e casas de análise refazem as projeções para o papel. Às 11h56, por exemplo, o papel avançava 5,31%.

Em nota, a Embraer disse que "a notícia confirma o impacto positivo e a importância estratégica das atividades da Embraer para as economias brasileira e norte-americana". Contudo, lembrou que suas exportações ainda estão sujeitas à tarifa de 10% anunciada por Trump em abril. Por isso, defendeu o retorno à regra de tarifa zero.

🌱 As exportações de papel e celulose também ficaram livres da tarifa adicional, o que beneficia especialmente a Suzano (SUZB3), segundo o BTG Pactual. Afinal, "a empresa não precisará desviar volumes para outros mercados —uma medida que pode ser desafiadora, dado o cenário atual de demanda global mais fraca".

O mesmo se aplica à Petrobras (PETR4), que já vinha estudando redirecionar suas rotas de exportação para escapar da tarifa americana, mas viu o petróleo ficar de fora da lista de taxações de Trump nessa quarta-feira (30).

Automóveis e suas respectivas peças e componentes também não serão taxados em 50% pelos Estados Unidos, o que deve trazer alívio para fabricantes de peças listados na B3, a exemplo de Mahle Metal Leve (LEVE3).

⚒️ A isenção ainda contempla alguns artigos semiacabados e componentes industriais de ferro, aço, alumínio e cobre, o que favorece mineradoras e siderúrgicas como Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3).

Contudo, vale lembrar que aço e alumínio já estão sendo taxados em outros 50% pelos Estados Unidos desde junho. Além disso, a Abal (Associação Brasileira do Alumínio) itens como cimento aluminoso ainda estão sujeitos às duas tarifas. Por isso, neste caso, a taxação pode chegar a 100%.

Fertilizantes, energia elétrica e produtos energéticos também escaparam da tarifa extra americana.

Quem ainda calcula o impacto?

A Weg (WEGE3), por sua vez, ainda calcula os impactos da nova decisão de Trump. Isso porque os Estados Unidos isentaram a importação de alguns motores e transformadores elétricos, mas alguns motores de baixa tensão produzidos pela companhia parecem não ter entrado na lista de exceções à tarifa, segundo o BTG Pactual.

⚠️ "De acordo com nosso entendimento, as isenções listadas no Anexo I do documento enviado pela Casa Branca hoje se aplicam especificamente aos motores usados na aviação civil, e não aos motores de uso geral, que são as principais exportações da WEG para o mercado americano", afirmou o BTG.

Em relatório, analistas do banco lembraram que os Estados Unidos ainda aplicaram uma tarifa de 50% sobre as importações gerais de cobre, o que pode elevar o custo da Weg. Afinal, este é um insumo importante para a companhia, que produz no Brasil e também nos Estados Unidos.

Diante das incertezas, a Weg garantiu em nota ter "um plano de ação estruturado que pode mitigar parte dos eventuais impactos". "Essa resposta é viabilizada pela nossa presença industrial global, construída ao longo dos últimos anos com investimentos estratégicos em capacidade produtiva em diversas regiões", afirmou.

Quem não escapou da taxação?

No caso do agronegócio, as exceções à tarifa limitaram-se praticamente ao suco de laranja, à castanha do Brasil e à madeira. Por isso, as exportações de carnes, frutas, café e etanol, entre outros, ainda estarão sujeitas à tarifa extra de 50% a partir de 6 de agosto.

🥩 A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) já disse, então, que vender carne bovina para os Estados Unidos deve ficar inviável daqui para frente. Isso porque o produto já é taxado em 26,4% e, com a nova tarifa, deve ser tarifado em 76,4%.

Diante disso, companhias como Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3) e JBS (JBSS3) já decidiram suspender a produção destinada ao mercado americano em algumas das suas unidades.

Para o BTG, a Minerva é o frigorífico da B3 mais exposto à tarifa, já que aproximadamente 5% da sua receita vem dos Estados Unidos. O banco, no entanto, acredita que esse risco é administrável, visto que as exportações podem ser redirecionadas para outros mercados. Os analistas reconhecem, porém, que esses redirecionamentos podem acontecer para mercados com preços mais baixos, o que pode impactar os preços praticados pela companhia.

Em um relatório sobre o impacto das tarifas, o BTG ainda citou a Jalles Machado (JALL3) e a Camil (CAML3), já que a primeira exporta açúcar e a segunda distribui café. Os analistas calculam que cerca de 5% da receita da Jalles vem dos Estados Unidos, mas não esperam um impacto significativo no caso da Camil.

Governo

De acordo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, a lista de exceções divulgada nessa quarta-feira (30) pelo governo americana beneficiar cerca de 45% das exportações brasileiras.

📊 No entanto, outros 35,9% das exportações não escaparam e devem ser tarifados em 50% a partir de 6 de agosto. Os demais 20% ficavam como estavam. Isto é, com taxas setoriais aplicadas pelos Estados Unidos a todos os países, como é o caso do aço.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que "houve sensibilidade" do governo americano para algumas considerações feitas pelo governo brasileiro nos últimos dias. Contudo, afirmou que há "casos dramáticos" na lista de produtos que não escaparam da taxação.

Haddad afirmou, então, que o governo brasileiro continuará negociando com os americanos e trabalhando em medidas de apoio aos setores afetados. Segundo ele, o plano deve ser lançado nos próximos dias, para ajudar a indústria e alguns setores do agronegócio, ajudando também a preservar empregos no Brasil.