Petrobras (PETR4) acelera expansão internacional para repor reservas, entenda

Estatal mira campos de petróleo e gás na África e na América do Sul. Além disso, aproxima-se de China e Índia.

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Publicado em 13/10/2024 às 07:57h - Atualizado 2 dias atrás Publicado em 13/10/2024 às 07:57h Atualizado 2 dias atrás por Marina Barbosa
Movimento faz parte do plano da Petrobras de expandir suas reservas de petróleo e gás (Imagem: Shutterstock)
Movimento faz parte do plano da Petrobras de expandir suas reservas de petróleo e gás (Imagem: Shutterstock)

A Petrobras (PETR4) está determinada a expandir as suas reservas de petróleo e gás, seja no Brasil ou no exterior. Por isso, acelerou o plano de reinserção internacional enquanto trabalha para destravar novas fronteiras de exploração no país.

✈️ Só nas últimas semanas, a Petrobras anunciou a aquisição de uma participação em um bloco de petróleo da África do Sul, a descoberta de uma reserva de gás natural na Colômbia e a abertura de um escritório na China

A companhia ainda está na disputa por um bloco na Namíbia e já havia entrado em três blocos exploratórios de petróleo em São Tomé e Príncipe no final de 2023. 

Além disso, a estatal está de olho na região de petróleo de Vaca Muerta na Argentina, já demonstrou a intenção de ampliar a produção de gás natural na Bolívia e discutiu parcerias com a Índia recentemente. 

Uma missão da empresa também teria visitado campos de petróleo da Venezuela neste ano. E a possibilidade de fazer uma parceria com a Guiana, que tem avançado na exploração da Margem Equatorial, também já foi ventilada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em busca de novas reservas 

O movimento faz parte do plano da Petrobras de expandir suas reservas de petróleo e gás. A estatal tinha 10,9 bilhões de barris de óleo equivalente em reservas provadas no final de 2023. Era o suficiente para mais 12,2 anos de produção. Contudo, estudos indicam que essas reservas devem diminuir a partir de 2030.

Estimativas da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) explicam que o Brasil deve produzir 5,4 milhões de barris de petróleo por dia em 2030, quando o pré-sal deve atingir o seu pico de produção. Depois disso, no entanto, esses números devem declinar. 

Diante desse cenário, a Petrobras teme que o Brasil se torne um importador de petróleo, caso mantenha a demanda atual e não ganhe novas reservas até o início da próxima década. Por isso, a estatal tem tentado revitalizar seus campos mais maduros no pré-sal, mas também abrir novas fronteiras de exploração.

Localizada no norte do Brasil, a Margem Equatorial é a principal aposta nesse sentido. Estimativas do governo explicam que a área pode ter reservas de até 30 bilhões de barris de petróleo. Isto é, quase três vezes o atual volume de reservas da Petrobras. Não à toa, a região é conhecida como o novo pré-sal brasileiro e já vem sendo explorada pela Guiana. 

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No Brasil, no entanto, a exploração da Margem Equatorial não tem seguido o ritmo esperado pelo governo, devido aos trâmites relativos à obtenção das licenças ambientais necessárias para a perfuração de poços em áreas como a Foz do Amazonas. Por isso, a Petrobras tem avançado em outras frentes enquanto aguarda a decisão do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Por aqui, a estatal conduz estudos sobre a viabilidade econômica do petróleo descoberto em outro trecho da Margem Equatorial, no Rio Grande do Norte. E assinou recentemente contratos de concessão de 26 blocos situados no Sul do Brasil, uma área que, segundo a empresa, é parecida à do pré-sal e deve sofrer menos problemas de licenciamento ambiental.

Em paralelo a isso, a companhia acelerou o plano de expansão internacional, mirando sobretudo a África. Como a África estava conectada à América do Sul antes da divisão dos continentes, a expectativa é de que a costa africana tenha condições geológicas similares à do pré-sal e, consequentemente, petróleo. Na Namíbia, por exemplo, já houve descobertas.

Estratégia de Lula?

A Petrobras também ampliou a sua presença no exterior nos primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio de investimentos em países como Estados Unidos, Argentina e Bolívia. No entanto, vinha seguindo uma estratégia diferente nos últimos anos. 

Durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), a estatal se desfez da maior parte das suas operações internacionais, sob o argumento de que era preciso reduzir o endividamento, cortar custos e melhorar a eficiência do portfólio.

As vendas começaram depois que a dívida da Petrobras explodiu, em meio à política de preços do governo Dilma Rousseff (PT). E aceleraram durante a Operação Lava Jato, que investigou suspeitas de corrupção em ativos como a Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, comprada pela Petrobras em 2006 e vendida em 2019.

Além de Pasadena, a Petrobras vendeu ativos de exploração de petróleo na África e fechou escritórios em locais como Nova York, Japão, México e China.

Por isso, antes desses últimos anúncios internacionais, a estatal concentrava suas operações basicamente no Brasil, Estados Unidos, Colômbia e Bolívia. A companhia também tem escritórios na Holanda e em Cingapura.

O que pensa o mercado?

A memória de casos como o de Pasadena ainda acende sinais de alerta no mercado quando se fala sobre a expansão internacional da Petrobras. Ainda assim, os mais recentes negócios externos da estatal têm sido vistos de forma positiva por muitos analistas.

Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, por exemplo, diz que o foco na exploração na Margem Equatorial não impede que a Petrobras pense em novas geografias, dada a necessidade de reposição de reservas. 

O analista também observa que, diante disso, a Petrobras tem focado na exploração e produção de petróleo, ou seja, na sua principal atividade, diferente do que ocorreu na Refinaria de Pasadena. "É isso o que o mercado quer ver: a companhia investimento em exploração e produção de petróleo de forma diligente e rentável", pontua.

Estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz reforça que "se fizer uma expansão mirando naquilo que é sua especialidade -perfuração e exploração de petróleo em terras profundas-, a Petrobras vai agradar muitos investidores". 

"A Namíbia e a África do Sul, por exemplo, são excelentes. Ruim é quando entra em outros países para fazer algo que não é especialista, para construir estrutura para que outros operam. Isso deixa o investidor receoso, por causa dos calotes que já tomou", explica.

Além disso, Ilan Arbetman lembra que a governança da estatal e a legislação brasileira avançaram depois dos escândalos da Lava Jato,para evitar a ocorrência de novos casos como o de Pasadena. Por isso, diz que "é necessário desassociar um pouco do passado".

"Os investimentos da Petrobras no exterior estiveram, no passado, associados a casos de corrupção. Mas estamos em uma fase diferente. O arcabouço regulamentar da Petrobras é mais robusto, temos a lei do petróleo e das SA. Então, é mais difícil que um problema daquele tamanho venha a se concretizar", acrescenta.

Já o analista Vitor Sousa, da Genial Investimentos, é mais cauteloso: "Sob uma ótica razoavelmente otimista, pode ser dito que com a inflexão esperada da produção do pré-sal a partir de 2030, faz sentido buscar novos ativos fora do Brasil. Outro ponto de vista é o uso da empresa como ferramenta de aproximação de geopolítica do país em países considerados aliados o que, do ponto de vista da empresa, eu julgo negativo".

Quanto ao impacto desse plano no bolso dos investidores, Ilan Arbetman admite que a expansão dos investimentos pode impactar o volume de dividendos pagos pela Petrobras no curto prazo. Contudo, diz que, "se forem investimentos bons, que aumentem a geração de caixa da companhia significativamente, são muito bem-vindos, porque aumentam a capacidade da companhia de pagar proventos de forma recorrente".

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