Investidores estrangeiros tiram R$ 22,9 bilhões da B3 no 1º trimestre

É a primeira vez em quatro anos que a bolsa brasileira registra saída líquida de capital externo no 1º trimestre.

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Publicado em 03/04/2024 às 15:31h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 03/04/2024 às 15:31h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa
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Os investidores estrangeiros tiraram R$ 22,9 bilhões da B3 no primeiro trimestre de 2024. É a primeira vez desde 2020, no início da pandemia de covid-19, que os três primeiros meses do ano são negativos em termos de atração de capital externo para a bolsa brasileira.

📉 A saída de R$ 22,9 bilhões ocorre em meio a incertezas sobre o rumo dos juros dos Estados Unidos e pressões sobre algumas das principais empresas da bolsa brasileira. A Vale (VALE3), por exemplo, enfrentou um início de ano turbulento devido ao processo sucessório e à queda dos preços do minério de ferro. Já a Petrobras (PETR4) teve um março negativo diante da crise dos dividendos extraordinários.

A debandada contrasta com o que foi visto nos anos anteriores na B3 e também com as expectativas para 2024. É que o começo de ano vinha sendo positivo para a bolsa brasileira e o mercado esperava que este ano trouxesse novos recordes para o Ibovespa.

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Em 2023, por exemplo, os estrangeiros injetaram R$ 8,5 bilhões na bolsa brasileira no primeiro trimestre, mesmo diante das dúvidas que rondam o início de um novo governo. Em 2022, ano de captação recorde de investimento estrangeiro, o aporte foi ainda maior: R$ 65,4 bilhões.

Em 2021, o primeiro trimestre também registrou entrada de capital externo no mercado secundário de ações do Brasil. A última vez que os estrangeiros tiraram recursos da B3 no acumulado dos três primeiros meses do ano foi, portanto, em 2020, em meio à crise da covid-19.

Veja o saldo de capital externo na B3 no 1º trimestre:

  • 2020: R$ -64,4 bilhões;
  • 2021: R$ 12,2 bilhões;
  • 2022: R$ 65,4 bilhões;
  • 2023: R$ 8,5 bilhões;
  • 2024: R$ -22,9 bilhões.

Debandada continua

O mercado secundário de ações do Brasil registrou saída líquida de capital externo nos três primeiros meses de 2024. Março, contudo, teve a menor saída do ano, até agora. Veja o saldo por mês:

  • Janeiro: R$ -7,9 bilhões;
  • Fevereiro: R$ -9,4 bilhões;
  • Março: R$ -5,5 bilhões.

Apesar da redução observada em março, abril começou com novos saques. Só em 1º de abril, os investidores estrangeiros retiraram R$ 1,25 bilhão do mercado acionário brasileiro, segundo os últimos dados da B3. O saldo acumulado do ano, portanto, está negativo em R$ 24,1 bilhão.

💸 O saldo negativo já representa mais da metade de todo o ingresso de capital externo registrado em todo o ano passado. Os investidores estrangeiros injetaram R$ 44,9 bilhões na B3 em 2023, diante da expectativa de que os juros americanos começassem a cair ainda no primeiro trimestre de 2024, o que acabou não se confirmando e contribui com a atual onda de aversão ao risco do mercado.

O corte dos juros nos Estados Unidos seria positivo para a B3 porque reduziria o retorno dos Treasuries americanos, fazendo com que os investidores externos olhassem para outros ativos, como as ações brasileiros.

Impacto no Ibovespa

Os estrangeiros respondem por mais da metade dos negócios realizados no mercado acionário brasileiro. Por isso, a debandada de capital externa observada no primeiro trimestre deste ano pesou no Ibovespa.

O principal índice da B3 fechou o primeiro trimestre com um recuo de 4,53%, enquanto o dólar avançou 3,35% no período. É um desempenho bem aquém do de outras bolsas mundiais. O S&P 500, por exemplo, disparou 10,2% entre janeiro e março de 2024, tendo o melhor primeiro trimestre desde 2019.

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