Estrangeiros tiram R$ 32,1 bilhões da B3 em 2024, entenda

O saldo de capital externo só foi positivo em 3 dos 12 meses do ano passado.

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Publicado em 03/01/2025 às 14:34h - Atualizado 3 dias atrás Publicado em 03/01/2025 às 14:34h Atualizado 3 dias atrás por Marina Barbosa
Fuga de capital externo explica parte do tombo de 10,36% do Ibovespa em 2024 (Imagem: Shutterstock)
Fuga de capital externo explica parte do tombo de 10,36% do Ibovespa em 2024 (Imagem: Shutterstock)

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 32,1 bilhões da bolsa brasileira em 2024. Foi a maior fuga de capital externo desde 2020, no início da pandemia de covid-19.

📉A fuga de capital explica boa parte do tombo de 10,36% sofrido pelo Ibovespa no ano passado. Afinal, os investidores estrangeiros respondem por nada menos que 55,8% dos recursos que circulam no mercado acionário brasileiro.

"O capital estrangeiro desempenha um papel estratégico na B3, representando uma fonte significativa de liquidez e contribuindo para a valorização das ações", comentou o CEO da Elos Ayta Consultoria, Einar Rivero.

Segundo ele, "a saída de recursos em 2024 evidencia desafios estruturais e conjunturais, como a percepção de risco associado ao ambiente político e econômico no Brasil, além de movimentos globais de aversão ao risco".

9 meses de saldo negativo

💸 O ano de 2024 começou com uma saída massiva de recursos estrangeiros da B3 devido à percepção de que os juros americanos não iam ceder tão cedo quanto se esperava. A expectativa do mercado era de que os cortes começassem no primeiro trimestre, mas o relaxamento da política monetária americana só começou em setembro.

Além disso, as incertezas sobre a situação fiscal brasileira pesaram sobre a bolsa. Em abril, por exemplo, os investidores estrangeiros retiraram R$ 11,3 bilhões da B3. O saldo mensal foi o pior do ano e coincide com a flexibilização das metas fiscais. Ou seja, com a decisão do governo de adiar para a 2026 a previsão de superávit fiscal.

O governo também não convenceu o mercado com as medidas de cortes de gastos apresentadas no fim do ano para garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Contudo, o saldo de capital externo foi positivo em dezembro, o mês em que o dólar bateu recordes sucessivos devido à percepção de risco fiscal.

De acordo com os dados da B3, o saldo de capital estrangeiro foi negativo em 9 dos 12 meses de 2024. Além de dezembro, só houve entradas líquidas de recursos externos em julho e agosto, período em que o Ibovespa atingiu o patamar recorde dos 137 mil pontos.

Veja o saldo do investimento estrangeiro na B3 em 2024, mês a mês:

  • Janeiro: R$ -7,9 bi;
  • Fevereiro: R$ -9,4 bi;
  • Março: R$ -5,5 bi;
  • Abril: R$ -11,3 bi;
  • Maio: R$ -1,6 bi;
  • Junho: R$ -4,2 bi;
  • Julho: R$ 3,5 bi;
  • Agosto: R$ 10,0 bi;
  • Setembro: R$ -1,6 bi;
  • Outubro: R$ -2,5 bi;
  • Novembro: R$ -3,0 bi;
  • Dezembro: R$ 1,7 bi.

Pior resultado em 5 anos

Com esse resultado, a B3 não só registrou a maior fuga de capital externo desde 2020, como também interrompeu uma sequência de dois anos positivos de atração de recursos estrangeiros.

Em 2022, os gringos aportaram um valor recorde de R$ 100,8 bilhões na B3. O saldo também havia sido positivo em 2023, no primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Veja o saldo do investimento estrangeiro na B3 nos últimos 5 anos:

  • 2020: R$ -39,6 bi;
  • 2021: R$ -7,2 bi;
  • 2022: R$ 100,8 bi;
  • 2023: R$ 44,9 bi;
  • 2024: R$ -32,1 bi.

Considerando as ofertas de follow-on (oferta subsequente de ações), os estrangeiros tiraram R$ 24,2 bilhões da bolsa brasileira em 2024. A saída foi a maior desde 2016, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria.