BC mantém Selic em 15% ao ano e adia início do ciclo de cortes para 2026

A decisão reforçou o sinal de que o Banco Central pretende estender a fase de estabilidade antes de iniciar o ciclo de cortes.

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Publicado em 10/12/2025 às 18:39h - Atualizado 1 dia atrás Publicado em 10/12/2025 às 18:39h Atualizado 1 dia atrás por Matheus Silva
A decisão já era amplamente esperada pelo mercado financeiro (Imagem: Shutterstock)
A decisão já era amplamente esperada pelo mercado financeiro (Imagem: Shutterstock)

🚨 O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano na reunião desta quarta-feira (10), preservando o nível mais alto desde 2016 e consolidando a quarta manutenção consecutiva. 

A decisão, unânime e amplamente esperada pelos investidores, reforça o sinal de que o Banco Central pretende estender a fase de estabilidade antes de iniciar o ciclo de cortes, movimento que o mercado projeta apenas para 2026, diante da combinação de inflação resistente, incertezas fiscais e maior volatilidade política em um ano pré-eleitoral.

Com a manutenção, o BC segue a linha de comunicação adotada nos últimos meses, indicando que mudanças na taxa só ocorrerão quando houver maior clareza sobre a trajetória das contas públicas e quando as expectativas de inflação estiverem mais ancoradas no médio prazo. 

O cenário recente, com dados de atividade mostrando desaceleração gradual e IPCA ainda pressionado em componentes de serviços, reforçou a postura conservadora.

📊 Veja abaixo o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após reunião de política monetária:

"O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, como observado na última divulgação do PIB, enquanto o mercado de trabalho mostra resiliência. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes seguiram apresentando algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,4% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,2% no cenário de referência.

Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.

O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego."

Trajetória da taxa de juros

O atual ciclo de aperto monetário começou em setembro de 2024, quando o Banco Central elevou a Selic de 10,50% para 10,75% para conter a retomada mais forte da economia e uma inflação que voltava a ganhar tração. 
A partir dali, o Copom adotou uma postura mais agressiva, reforçando sucessivas vezes que os juros precisariam avançar até um patamar “suficientemente contracionista” para ancorar expectativas.
Em novembro, a Selic subiu novamente, alcançando 11,25%, e 2024 terminou com a taxa em 12,25%, mas já com duas altas adicionais de 1 ponto percentual previamente sinalizadas nas comunicações do comitê. Esse compromisso explícito antecipou ao mercado que 2025 começaria com novos aumentos.
Cumprindo o que havia indicado, o BC manteve o ritmo em 2025. A Selic avançou para 13,25% em janeiro, 14,25% em março e atingiu 14,75% em maio. O último ajuste, que levou a taxa ao nível atual de 15% ao ano, ocorreu na reunião de junho. 
📈 Desde então, o Copom optou por interromper as elevações, avaliando que o juro em 15% era suficiente para desacelerar a economia e garantir a convergência da inflação à meta.