Trump liga Tylenol ao autismo e derruba ações da fabricante em Wall Street

Sem base científica, declaração do presidente afeta dona de marcas como Neutrogena, Listerine e Band-Aid.

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Publicado em 24/09/2025 às 12:30h - Atualizado 1 minuto atrás Publicado em 24/09/2025 às 12:30h Atualizado 1 minuto atrás por Wesley Santana
Tylenol é um analgésico usado para o tratamento de dor e febre (Imagem: Shutterstock)
Tylenol é um analgésico usado para o tratamento de dor e febre (Imagem: Shutterstock)

Não bastaram muitas palavras para que o presidente Donald Trump gerasse um prejuízo gigantesco à Kenvue. Nesta semana, ele aconselhou que mulheres grávidas não tomem o Tylenol, medicamento à base de parecetamol fabricado pela marca. 

Sem apresentar nenhuma comprovação científica, o chefe da Casa Branca fez uma correlação entre o medicamento e os casos de autismo. Ele se baseou em investigações inconclusivas e que não são consideradas pela comunidade científica para fazer a afirmação. 

"Eles recomendam fortemente que as mulheres limitem o uso de Tylenol durante a gravidez, a menos que seja medicamente necessário, como para tratar a febre, se você não puder resistir", disse Trump.

Ele chegou a fazer uma comparação duvidosa com Cuba, que, segundo ele, é um país sem casos de TEA (Transtorno do Espectro Autista). "Quero dizer, há um boato, e não sei se é verdade ou não, de que em Cuba eles não têm autismo porque não têm dinheiro para o Tylenol. Eles praticamente não têm autismo", disse, ainda sem apresentar provas.

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Essa foi a gota d’água para piorar a situação da empresa que já não passa por bons momentos na bolsa de valores de NYSE, onde está listada. Nos últimos 5 dias, a farmaceutica perdeu mais de 6% de seu valor de mercado, que hoje está avaliado em cerca de R$ 33 bilhões.

No acumulado do ano, o cenário é ainda mais complicado, já que o ticker recua quase 20%. Além do Tylenol, a Kenvue tem marcas como Neutrogena, Listerine e Band-Aid no seu portfólio. 

O Tylenol é um dos únicos medicamentos considerados seguros para o tratamento de dor e febre em mulheres grávidas. Por meio de nota, a fabricante defendeu o uso do medicamento e disse que a opção se destaca entre as demais disponíveis no mercado porque evita o risco de complicações, como aumento da pressão arterial, por exemplo, que pode causar sérios danos à saúde do bebê e da mãe.

"Acreditamos que a ciência independente e sólida demonstra claramente que tomar paracetamol não causa autismo. Discordamos veementemente de qualquer sugestão em contrário e estamos profundamente preocupados com o risco à saúde que isso representa para as mulheres grávidas", disse a Kenvue por meio de nota à BBC.

Casos de autismo no mundo 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que uma em cada 100 pessoas no mundo seja diagnosticada com TEA. Ainda não há um consenso da comunidade científica sobre as causas do transtorno, mas os especialistas dizem que fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o diagnóstico em uma criança. 

Esses mesmos profissionais já descartaram eventuais correlações entre vacinas, medicamentos e até alimentos com a condição de saúde, que não é considerada uma doença. O autismo é marcado por uma baixa interação social e de comunicação do portador, além de padrões atípicos de comportamento causados por alterações no neurodesenvolvimento.

“O autismo é um grupo de diversas condições relacionadas ao desenvolvimento do cérebro. As características podem ser detectadas na primeira infância, mas geralmente não é diagnosticado muito mais tarde”, diz a OMS. 

Por vezes, os EUA aparecem entre as primeiras posições na lista de países com o maior número de portadores de autismo. Também não se sabe se isso ocorre porque de fato há uma probabilidade maior no país ou apenas pela capacidade facilitada de diagnóstico.