O que o rating elevado da Moody's pode sinalizar para o Brasil?

A agência elevou o rating do país de Ba2 para Ba1.

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Publicado em 04/10/2024 às 16:08h - Atualizado 12 horas atrás Publicado em 04/10/2024 às 16:08h Atualizado 12 horas atrás por Elanny Vlaxio
Samar Maziad, da Moody's, atribuiu elevação do rating à rápida melhora do perfil de crédito do país (Imagem: Shutterstock)
Samar Maziad, da Moody's, atribuiu elevação do rating à rápida melhora do perfil de crédito do país (Imagem: Shutterstock)

🌟 A agência de classificação de risco Moody's anunciou recentemente um novo avanço para a economia brasileira. Em um curto período de cinco meses após revisar positivamente a perspectiva da nota do país, a agência elevou o rating soberano do Brasil de Ba2 para Ba1.

Com essa atualização, o Brasil se aproxima ainda mais do grau de investimento, faltando apenas um nível para alcançá-lo. A agência também confirmou a perspectiva positiva para a nota de crédito brasileira, realçando o forte desempenho da economia.

Crescimento em diferentes frentes

Especialistas consultados pelo Investidor10 afirmam que a decisão da agência de classificação de risco pode ser um catalisador para a captação de mais investimentos estrangeiros, além de indicar progressos significativos no ajuste fiscal brasileiro.

"A perspectiva positiva aponta para uma possível elevação da nota de crédito caso o país continue avançando no ajuste fiscal e consiga sustentar um crescimento mais robusto no futuro", analisou Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg.

🗣️ Segundo ele, caso o Brasil atinja o grau de investimento, os recursos externos podem aumentar. "Se conseguirmos atingir o grau de investimento, provavelmente observaríamos um volume maior de recursos externos migrando para o país, o que poderia fomentar investimentos produtivos e impulsionar o crescimento do PIB nos próximos anos."

Já para o professor de Gestão Financeira da Fundação Vanzolini, Michael Roubicek "A melhoria do rating sinaliza uma maior confiança dos investidores internacionais nas perspectivas da economia brasileira devido à melhora na gestão fiscal dos últimos anos."

Roubicek avaliou que o grau de investimento pode atrair ainda mais investimento para o país. "A possível melhoria do rating para grau de investimento terá um impacto na atração de maiores investimentos diretos no país, na redução do custo do financiamento do governo, das empresas privadas e uma provável apreciação do câmbio", disse.

O grau de investimento pode chegar ainda no governo Lula?

Embora o economista-chefe do Banco Bmg não veja o Brasil conquistando o grau de investimento durante este mandato, Roubicek mantém uma visão mais otimista, argumentando que a periodicidade das revisões de rating, que ocorrem a cada 12 a 18 meses, permite a possibilidade de uma reavaliação positiva.

"Uma elevação por parte das agências de classificação de risco para grau de investimento, ainda neste governo, não parece ser o cenário mais provável. As perspectivas para o endividamento ainda apontam para um crescimento relativamente rápido da dívida pública nos próximos anos", avaliou Serrano.

💬 Já o professor da Vanzolini, diz que o Brasil pode conseguir, no entanto, medidas como a contenção de gasto devem ser adotadas. "É possível, pois a nota Ba1 pode ser reavaliada em uma janela de 12 a 18 meses. Mas para isso, terão que ser adotadas medidas mais fortes do lado da contenção dos gastos, pois o arcabouço fiscal, da forma como está desenhada, não se sustentará sem reformas adicionais", analisou.

Ele acrescentou que o atual governo ainda "não mostrou apetite" para determinadas medidas. "Essas reformas incluem mudanças nos gastos obrigatórios em saúde, educação e algum tipo de reforma na Previdência, como a desvinculação das aposentadorias do aumento do salário-mínimo. Até agora, o Governo Lula não mostrou apetite para estas medidas, mas a meta de alcançar o grau de investimento pode ser um fator motivador para que sejam tomadas", disse.

Ritmo acelerado não deve se repetir nas próximas revisões

Mais cedo, Samar Maziad, da Moody's, atribuiu a recente elevação do rating do Brasil à rápida melhora do perfil de crédito do país. No entanto, ela ressalta que esse ritmo acelerado não deve se repetir nas próximas revisões, que tendem a seguir um cronograma mais padrão.

De acordo com a analista, um dos principais desafios para que o Brasil obtenha o grau de investimento é a rigidez da estrutura de gastos públicos. A necessidade de buscar 1,6% do PIB em receitas adicionais em 2024 evidencia a importância de endereçar essa questão.

“Queremos ver mais resiliência econômica, habilidade de lidar com choques quando eles chegarem; e a construção de um espaço fiscal em que seja possível lidar com esses choques sem um grande aumento da dívida”, ressaltou Maziad em "call" da agência de classificação sobre a nota brasileira.

Leia também: Moody's admite riscos fiscais, mas diz que cenário permite melhora do rating do Brasil

À reportagem, Serrano também foi na mesma linha da analista da agência e disse que o Brasil deve continuar melhorando a qualidade fiscal.

"Precisamos continuar trilhando um caminho de melhor qualidade fiscal para que esse esforço se traduza em estabilização da dívida pública. Cabe destacar que, apesar do crescimento econômico mais forte que o esperado em 2024, a dívida bruta - que cresceu de 71,7% do PIB em 2022 para 74,4% do PIB em 2023 - deverá mais uma vez crescer e encerrar este ano próxima de 80% do PIB", avaliou.

Ele finalizou destacando novamente o PIB na contribuição da decisão. "Não vislumbramos estabilização da dívida bruta antes de 2030 e cenários de dívida próxima a 90% do PIB não são improváveis se não perseverarmos na busca por resultados primários superavitários nos próximos anos", acrescentou.