Governo brasileiro emitirá títulos verdes em Nova York

Executivo pretende captar cerca de R$ 10 bilhões para investimentos sustentáveis

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Publicado em 22/09/2023 às 18:02h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 22/09/2023 às 18:02h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa
Haddad disse que o Brasil tem condições de captar muitos recursos no exterior. Foto: Ministério da Fazenda
Haddad disse que o Brasil tem condições de captar muitos recursos no exterior. Foto: Ministério da Fazenda

O governo brasileiro emitirá títulos verdes na Bolsa de Nova York, a NYSE. O instrumento, também chamado de green bond, já foi apresentado a dezenas de bancos e fundos de investimentos e pode captar cerca de R$ 10 bilhões, que seriam usados em projetos sustentáveis no Brasil. 

A emissão de títulos soberanos sustentáveis vem sendo desenhada há meses pelo Ministério da Fazenda e foi confirmada pelo governo brasileiro em Nova York. Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade para a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a comitiva do Executivo aproveita para discutir esta e outras propostas de investimento com o governo e o mercado americano.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo espera captar pelo menos R$ 10 bilhões com a iniciativa. Isto é, cerca de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões na cotação atual. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, por sua vez, que este pode ser só o “começo do processo”. Ele lembrou que esta será a primeira vez que o Brasil lançará títulos verdes no exterior.

“Do ponto de vista do plano como um todo, esse é um recurso inicial muito pequeno. O Brasil tem condições de captar muitos recursos no exterior, porque tem a melhor matriz energética do mundo, uma das mais limpas, e tem condições de dobrar a produção de energia limpa em prazo inferior a 10 anos”, afirmou o ministro, no domingo (18/09).

Haddad, por sua vez, não quis detalhar os números. Ele alegou que o governo está em período de silêncio e que caberá ao Tesouro Nacional “julgar a conveniência de quanto e quando colocar esses títulos”.

O Tesouro Nacional, por sinal, já conduziu uma série de reuniões com investidores estrangeiros antes da comitiva brasileira chegar a Nova York. As conversas começaram depois que o órgão lançou o Arcabouço Brasileiro Para Títulos Soberanos Sustentáveis, no início de setembro. O documento servirá de referência para a emissão de títulos de dívida soberana que ajudarão a financiar projetos de desenvolvimento sustentável no país.

“A Fazenda concluiu um roadshow com 36 eventos diferenciados. Atendemos mais de 60 fundos de investimento. A receptividade é a melhor possível, sobretudo porque esse recurso fica carimbado para financiar projetos sustentáveis, com taxas de juros mais convidativas do que as temos hoje”, afirmou Haddad.

Energia limpa e manufatura verde

O ministro também não deu detalhes sobre os projetos que devem receber esses recursos, mas indicou que a produção de energia limpa e de produtos manufaturados verdes estão na lista de prioridades do governo. 

Segundo ele, o Brasil pode exportar energia limpa por meio de veículos como o hidrogênio verde, mas também receber negócios que necessitam de energia intensiva para funcionar, como data centers, ou passar a produzir e exportar produtos manufaturados com emissão de carbono neutra.

“Estamos começando a discutir a industrialização do Brasil a partir dessa matriz. Não precisamos nos resignar à condição de exportadores de energia limpa. Boa parte deve ser consumida no Brasil para manufaturar produtos verdes”, afirmou.

Para Haddad, o país pode ganhar mercado internacional com manufaturados verdes. Ele já negocia, portanto, parcerias com os americanos. O ministro teve reunião com o enviado presidencial do governo dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, nesta segunda-feira (18/09) e acompanhará Lula em reunião com o presidente americano, Joe Biden, na quarta-feira (20/09).

“Temos que abrir espaço para que empresas possam fazer mais parcerias, porque nem tudo interessa produzir nos Estados Unidos. Parte da produção manufatureira americana que tem como destino o mercado de consumo nos Estados Unidos, por exemplo, é produzida no México. Tem coisas que podem ser produzidas no Brasil, até porque o México não tem matriz energética verde como nós”, disse Haddad, depois da reunião com Kerry.