Enquanto Milei tenta reforma trabalhista, inflação na Argentina volta a crescer

Alta do dólar nos últimos meses impactou os preços internos do país vizinho, que cresceram 2,5% em novembro.

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Publicado em 12/12/2025 às 12:24h - Atualizado 1 minuto atrás Publicado em 12/12/2025 às 12:24h Atualizado 1 minuto atrás por Wesley Santana
Inflação na Argentina vai a 31% nos últimos 12 meses (Imagem: Shutterstuck)
Inflação na Argentina vai a 31% nos últimos 12 meses (Imagem: Shutterstuck)

Os preços voltaram a subir na Argentina em novembro, conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgados nesta quinta-feira (11). Na comparação com outubro, a inflação de novembro foi de 2,5%.

Esse já é o terceiro mês consecutivo em que os preços apresentam alta no país vizinho, depois de um período de baixas. No acumulado dos últimos 12 meses, os preços registram avanço de 31,4%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).

A alta da inflação foi puxada sobretudo pelos custos relacionados à habitação, água, eletricidade e gás, que cresceram 3,4% no período. Além disso, o transporte e os alimentos, que subiram cerca de 3%, também pressionaram o indicador.

A alta dos preços atinge especialmente um dos produtos mais consumidos pela população argentina: a carne bovina, que vem registrando aumentos frequentes. Com uma média de 90 kg por ano, o país é um dos que mais consomem essa proteína, atrás apenas dos Estados Unidos e Austrália.

Os analistas passaram a prever aceleração inflacionária em maio, quando o dólar começou a subir de forma escalonada. O governo estabeleceu uma banda de flutuação cambial e, desde então, a moeda norte-americana tem operado próxima ao limite superior.

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2 anos de Milei

Nesta semana, Javier Milei completou dois anos à frente do governo da Argentina. Durante seu mandato, ele conduziu diversas reformas econômicas com o objetivo de frear o aumento dos preços, que chegaram ao patamar de 210% em um ano.

Com a motosserra que simbolizou sua candidatura, o principal foco do governo esteve em diminuir os gastos públicos, o que afetou grande parte dos subsídios dados à população. Dessa forma, as contas de água e luz, além do transporte público, ficaram mais caras.

As reduções de gastos, combinadas a outras medidas de ajuste, contribuíram para uma série de superávits fiscais. Em alguns momentos do ano passado, a bolsa de valores de Buenos Aires ficou entre as mais valorizadas da América Latina.

Neste semestre, ele passou por dois testes de ferro, de onde saiu com resultados mistos. O primeiro foi na eleição da Província de Buenos Aires, onde a oposição levou a melhor e conseguiu eleger grande parte dos deputados.

Após receber apoio público do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Milei saiu fortalecido da segunda votação. Neste caso, conseguiu ampliar as cadeiras, o que aumentou seu poder.

Agora, seu principal projeto é fazer uma reforma trabalhista em todo o país, que tem um alto índice de empregados informais. O texto da reforma trabalhista enviado ao Congresso propõe flexibilizações em jornadas e férias, permitindo que empregadores e trabalhadores negociem rotinas que podem chegar a 12 horas diárias, desde que respeitados limites semanais previstos.

"Esperamos que isso, aos poucos, inicie um processo para mudar a dinâmica da perda de empregos", disse ele. "A Argentina precisa gerar empregos formais”, continuou.

A vida do argentino melhorou?

Não há dúvidas de que o governo de Milei tenha conseguido ao menos controlar os preços em comparação com seus antecessores. No entanto, não há unanimidade sobre como isso tem sido benéfico para a população argentina.

Neste período de cortes, o governo precisou congelar grande parte das obras públicas e diminuir financiamentos às províncias. Os projetos de infraestrutura na Argentina caíram de forma exponencial, afetando outras áreas da vida cotidiana.

Os cortes impactaram, por exemplo, a taxa de desemprego, que vem crescendo ao longo dos últimos meses. Além disso, o poder de compra da população caiu significativamente, já que os preços se mantiveram altos e os salários — especialmente de aposentados e pensionistas — não tiveram reajustes reais.

No último mês de julho, uma pesquisa encomendada pela consultoria Zuban Córdoba mostrou que seis em cada dez argentinos tinham dificuldades para se sustentar. Em média, a população conseguia chegar apenas ao dia 20 de cada mês.

Polêmicas

Esses dois anos de Milei também tiveram algumas polêmicas e até denúncias de corrupção. O caso mais grave envolveu sua irmã, Karina, que foi acusada de receber propina na compra de medicamentos para pessoas com deficiência.

Gravações que circularam no mês de agosto davam conta de que supostamente o presidente sabia da atuação de sua irmã, que também atua como secretária da Casa Rosada. Os dois negam as acusações e dizem que são temas implantados pela oposição.

Outro caso de repercussão foi o da criptomoeda LIBRA, que Milei promoveu publicamente em fevereiro deste ano. Na ocasião, cerca de 40 mil pessoas saíram para comprar o ativo digital, que, no final, se mostrou um golpe e gerou um prejuízo de US$ 4 bilhões aos investidores.

Milei fortalecido

Os resultados das últimas eleições deram ao presidente um capital político muito forte e a confirmação de que pode continuar com suas reformas estruturantes. Além de ter parte do mercado ao seu lado, ele conquistou um aliado importante, que é Trump.

Segundo analistas, foram as palavras do líder da Casa Branca que acalmaram o mercado em outubro e ajudaram Milei na vitória do Congresso. “Estou com este homem porque sua filosofia está correta, e ele pode vencer, ou não. Mas acho que ele vai vencer, e se vencer, continuaremos com ele, e se não vencer, estamos fora”, disse o republicano.

Depois disso, Washington concedeu um empréstimo de US$ 20 bilhões a Buenos Aires, por meio de acordo de swap cambial. Os EUA também viabilizaram o caminho da Argentina para pagar seu empréstimo junto ao FMI dentro do prazo.