Correios enfrentam o maior prejuízo da história após "taxa das blusinhas"

Entre janeiro e setembro, a empresa registrou um prejuízo de R$ 2 bilhões, o maior para o período em mais de meio século de operações.

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Publicado em 03/12/2024 às 10:59h - Atualizado 16 horas atrás Publicado em 03/12/2024 às 10:59h Atualizado 16 horas atrás por Matheus Rodrigues
Os números de 2024 já colocam o período como um dos piores da trajetória dos Correios (Imagem: Shutterstock)
Os números de 2024 já colocam o período como um dos piores da trajetória dos Correios (Imagem: Shutterstock)

🚨 Os Correios, uma das principais estatais brasileiras e responsáveis pela logística em um país de dimensões continentais, enfrentam uma das maiores crises de sua história.

Entre janeiro e setembro de 2024, a empresa registrou um prejuízo de R$ 2 bilhões, o maior para o período em mais de meio século de operações.

O alerta sobre risco de insolvência, emitido pela própria estatal, acendeu um sinal vermelho para o futuro de uma empresa que já foi símbolo de eficiência logística no Brasil.

Os números de 2024 já colocam o período como um dos piores da trajetória dos Correios, superando até mesmo o déficit histórico de R$ 2,1 bilhões registrado em 2015.

A deterioração das contas fez a estatal anunciar, em outubro, um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões para o ano, além de uma série de medidas emergenciais para conter o rombo.

As medidas adotadas para conter a crise

Em busca de reequilibrar as finanças, os Correios adotaram uma série de ações que impactam diretamente as operações e contratos. Entre elas, destacam-se:

  • Suspensão de contratações temporárias por 120 dias: A estatal, que costuma recorrer a mão de obra extra em períodos de maior demanda, decidiu congelar novas contratações.
  • Corte em contratos vigentes: A empresa ordenou uma renegociação geral, buscando uma redução mínima de 10% no valor dos contratos em vigor.
  • Revisão de contratos futuros: Prorrogações de acordos só serão aprovadas caso apresentem economia significativa nos custos.

Apesar dessas medidas de austeridade, a projeção de receitas para 2024 foi revisada para baixo, de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, deixando um déficit estimado de pelo menos R$ 1,7 bilhão.

Gestão questionada e decisões controversas

Desde que Fabiano Silva dos Santos assumiu a presidência dos Correios, indicado pelo grupo Prerrogativas e próximo ao governo Lula, as decisões administrativas têm gerado controvérsias.

Sob sua gestão, os Correios optaram por não recorrer em ações trabalhistas milionárias, o que impactou significativamente o caixa da empresa:

  • Em 2023, a estatal abriu mão de contestar uma ação trabalhista no valor de R$ 600 milhões, lançando o prejuízo em 2022 por meio de uma manobra contábil, segundo apuração do Tribunal de Contas da União (TCU).
  • Outra ação de aproximadamente R$ 400 milhões também foi encerrada sem litígio, com a empresa optando por pagar os valores reivindicados pelos funcionários.

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Além disso, os Correios assumiram, em 2024, uma dívida de R$ 7,6 bilhões relacionada ao Postalis, fundo de pensão dos empregados da estatal, cujo déficit é resultado de anos de má gestão e falta de novas adesões desde 2008.

Privatização e risco de intervenção do Tesouro

O alerta de insolvência indica que, caso as medidas de contenção de gastos não sejam suficientes, os Correios poderão precisar de aportes do Tesouro Nacional para continuar operando.

Esse cenário reacende o debate sobre a privatização da estatal, uma discussão que ganhou força durante o governo anterior, mas que perdeu tração na gestão atual.

Embora a administração atual culpe a gestão passada pelos problemas financeiros, os números mostram que os Correios registraram lucro em três dos quatro anos do governo Bolsonaro, o que amplia as críticas sobre a condução estratégica adotada nos últimos meses.

Contradições e polêmicas

Em meio à crise, a estatal surpreendeu ao lançar um concurso público para contratar 3.511 novos funcionários, com salários entre R$ 2.429 e R$ 6.872.

A decisão contraria o discurso de austeridade e levanta dúvidas sobre a real capacidade de equilíbrio das contas.

Além disso, a proximidade de Fabiano com o grupo Prerrogativas e a realização de eventos envolvendo figuras ligadas ao governo atual geram especulações sobre influências políticas nas decisões estratégicas da empresa.

A crise dos Correios transcende o âmbito financeiro. Como principal operadora logística do país, qualquer desestruturação na estatal pode impactar diretamente o comércio eletrônico, pequenos empreendedores e consumidores, especialmente em regiões remotas onde alternativas privadas são limitadas ou inexistentes.

A possível necessidade de intervenção do governo ou mesmo de uma reestruturação mais ampla, como a privatização, coloca em pauta o papel das empresas públicas no Brasil e a eficiência de sua gestão em tempos de adversidade econômica.

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O futuro dos Correios

A crise que hoje abala os Correios expõe não apenas os desafios internos de uma estatal com estrutura inchada e dívidas históricas, mas também um problema maior de governança e gestão pública no Brasil.

O risco de insolvência é um reflexo da falta de planejamento e da interferência política que, ao longo de décadas, minaram a capacidade da empresa de competir em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.

Enquanto as medidas de contenção ainda estão em curso, o futuro dos Correios permanece incerto, e o impacto de uma eventual insolvência poderá reverberar por toda a economia brasileira.,

📈 O que está em jogo não é apenas a sobrevivência de uma estatal, mas a confiança em um modelo de gestão que precisa urgentemente ser revisado.