Brasileiros ganham R$ 500 por mês para treinar inteligência artificial

Operários de dados são contratados para refinar algorítmos

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Publicado em 18/06/2024 às 14:01h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 18/06/2024 às 14:01h Atualizado 3 meses atrás por Wesley Santana
Valor recebido pelos brasileiros está abaixo da média dos EUA. Foto: Shutterstock
Valor recebido pelos brasileiros está abaixo da média dos EUA. Foto: Shutterstock

🤖 A inteligência artificial está em plena discussão ao redor do mundo, sobretudo depois que surgiu o ChatGPT, criado pela OpenAI. Depois dele, outras diversas tecnologias de IA generativa despontaram com benefícios para áreas como saúde, turismo e indústria.

Em diversos países, há uma forte demanda por profissionais especializadas que recebem bons salários para operacionalizar a IA. No entanto, há brasileiros que ganham menos de R$ 500 para treinar os softwares de inteligência artificial, conforme destacou a BBC News.

Chamados “operários de dados”, esses trabalhadores executam funções por trás das máquinas, ou seja, que não demandam um certo conhecimento técnico. Eles são contratados para realizar microtarefas manuais, a fim de refinar o algoritmo de IA.

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De acordo com a pesquisa "Microtrabalho no Brasil", em média, esses funcionários ganham R$ 582 por mês. O vínculo de trabalho é por tarefa, mas corresponde a cerca de 15 horas de dedicação por semana, equivalente a US$ 1,60 (ou R$ 9 por hora).

O valor é um bem menor que nos Estados Unidos, onde essas mesmas pessoas ganham US$ 4,70. Já na África, a cifra de pagamento não passa de US$ 1,33 por hora, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.

"Eles inserem dados para treinar e moderar sistemas e atividades de IA", explicou Rafael Grohmann, professor da Universidade de Toronto que pesquisa o trabalho no mundo contemporâneo, à reportagem. “Temos usado muito o termo data workers [operários de dados, em tradução livre do inglês], o que os diferencia dos tech workers [profissionais de tecnologia], que são os responsáveis por produzir, projetar e analisar os dados da IA", completou.

Em uma comparação com o trabalho de uma indústria de automóveis, por exemplo, esses trabalhadores seriam equivalentes aos que atuam no chão de fábrica. No caso das redes sociais, as funções seriam de moderação de conteúdo e detecção de ações que ferem as leis locais.

Abaixo do esperado

No geral, o valor pago a estes trabalhadores é bastante inferior ao que foi prometido a eles na contratação. 477 pessoas que desenvolvem essas tarefas responderam, de forma anônima, que esperavam receber até R$ 1,6 mil por mês.

Diante disso, eles são obrigados a acumular funções, já que o valor não é suficiente para pagar as contas básicas de casa. A maior parte deles vive no estado de São Paulo (24%), onde o custo de vida é um dos mais altos do país.

Aos 24 anos, Guilherme Graper conta que trabalha por meio de uma plataforma da Amazon, mas contratado por outras empresas. Ele diz que seu trabalho é colocar nomes de médicos em sistemas para treinar os algoritmos.

Em um mês, seu saldo chegou a ser de R$ 300, mas também já conseguiu passar de R$ 5 mil. Sua média mensal é de R$ 2 mil, disse à reportagem.

Segundo o pesquisador em inovação e ciência de dados Mauro Zackiewicz, o principal problema para a baixa remuneração está no fato de que há concorrência entre candidatos. "As plataformas querem garantir mão-de-obra suficiente para atender picos de demandas. O resultado é que, na maior parte do tempo, há excesso de trabalhadores e, por consequência, muita competição entre eles", explica.