Tarifas de 50% dos EUA contra o Brasil entram em vigor

Produtos como combustíveis, veículos, peças de avião e certos tipos de metais e madeira seguem livres da tarifa.

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Publicado em 06/08/2025 às 06:51h - Atualizado 1 minuto atrás Publicado em 06/08/2025 às 06:51h Atualizado 1 minuto atrás por Elanny Vlaxio
As tarifas também podem afetar algumas empresas listadas na B3 (Imagem: Shutterstock)
As tarifas também podem afetar algumas empresas listadas na B3 (Imagem: Shutterstock)

💲 Entram em vigor nesta quarta-feira (6) as tarifas de 50% impostas pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), sobre diversos produtos brasileiros. A medida, anunciada em julho, marca uma nova etapa nas relações comerciais entre os dois países. O Brasil foi o país que recebeu a maior tarifa entre as nações taxadas pelos Estados Unidos. 

Poucos sinais de negociação

O governo Lula, apesar de ter sinalizado, logo no início do anúncio, uma retaliação com base na Lei da Reciprocidade Econômica, mantém as negociações abertas com EUA. Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil pode discutir a inclusão da exploração de minerais críticos e terras raras nas negociações com os EUA, algo que já foi negado em outras ocasiões pelo presidente da República.

Os dois chefes de estado parecem estar em um cabo de guerra. De um lado, Trump declarou no início da semana, durante uma coletiva, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode telefonar “quando quiser”. Já Lula afirmou na terça-feira (5) que não irá “ligar para Trump para comercializar, porque ele não quer falar”. Em julho, o petista já havia dito que Trump não estava disposto a discutir a negociar.

💰  Mais recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Viera, afirmou que o Itamaraty divulgará a resposta às tarifas aplicadas pelos EUA no dia 18 de agosto. Ele chegou a se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, no dia 30 de julho. “Negociações pragmáticas são a solução mais promissora para o empresariado, para os trabalhadores e para os consumidores do Brasil”, afirmou.

No melhor cenário das negociações, o ideal seria adotar medidas compensatórias internas no Brasil, como apoio financeiro, linhas de crédito, seguro à exportação, tudo isso sem recorrer à retaliação comercial direta, é o que explicou Raissa Florence, diretora e economista da Oz Câmbio.

Já para Fernando Marx, contribuidor do TradersClub, a pior reação seria retaliar. "Qualquer tipo de retaliação apenas iria piorar a situação abrindo margem para escalada. O Brasil não tem como ganhar brigando com os EUA, uma possível escalada apenas nos prejudicaria."

O que justifica as tarifas para o Brasil

A medida foi justificada pela Casa Branca como resposta a políticas e ações “incomuns e extraordinárias” do governo brasileiro. Segundo a Casa Branca, o Brasil estaria promovendo “perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.

O texto cita ainda o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como responsável por “ameaçar, perseguir e intimidar milhares de seus opositores políticos, proteger aliados corruptos e suprimir dissidências, frequentemente em coordenação com outros membros do STF”.

Na mesma semana em que anunciou as tarifas para o Brasil, o governo de Trump também sancionou Moraes com a lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros. Segundo o governo dos EUA, estão bloqueados todos os possíveis bens do ministro no país, bem como qualquer empresa a ele associada.

"Alexandre de Moraes assumiu para si o papel de juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas dos Estados Unidos e do Brasil", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Em resposta, oo ministro disse que a Corte não cederá a "ameaças covardes e infrutíferas", e declarou que pretende "ignorar as sanções aplicadas" pelo governo dos Estados Unidos contra ele.

Veja o que entra na lista de tarifas e o que foi isento

💸 As taxas atingem uma ampla gama de produtos, especialmente café, carne bovina e frutas. Além disso, setores como o de máquinas agrícolas e industriais também foram impactados. Entre os produtos mais vendidos pelo Brasil e que não estão isentos, estão:

  • Café;
  • Carne bovina;
  • Frutas;
  • Máquinas agrícolas e industriais;
  • Móveis;
  • Têxteis;
  • Calçados.

Mesmo com o anúncio da tarifa de 50% sobre importações do Brasil, o governo dos Estados Unidos decidiu excluir diversos itens da cobrança. Segundo o texto, produtos como suco de laranja, combustíveis, veículos, peças de avião e certos tipos de metais e madeira seguem livres da tarifa. Veja os produtos que não serão taxados: 

  • Artigos de aeronaves civis;
  • Veículos e peças específicas;
  • Produtos de ferro, aço, alumínio e cobre;
  • Fertilizantes;
  • Produtos agrícolas e de madeira;
  • Metais e minerais específicos;
  • Energia e produtos energéticos;
  • Bens retornados aos EUA;
  • Bens em trânsito;
  • Produtos de uso pessoal;
  • Donativos e materiais informativos.

Quem ganha e quem perde na B3

As tarifas de Trump afetam diretamente setores exportadores e desencadeia uma reavaliação das expectativas sobre empresas da B3 que têm presença ou dependência do mercado americano. Entre as empresas que mais devem sofrer estão as exportadoras de proteína animal, como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), que devem enfrentar queda nas margens e pressão sobre a competitividade frente às tarifas americanas. 

No caso da WEG (WEGE3), os impactos das tarifas são mais acentuados. A empresa sofreu com a ausência de isenção para motores de uso geral e também com a inclusão de produtos de cobre. Como esse insumo representa entre 10% e 15% dos custos com materiais, a medida agrava a pressão sobre os resultados, representando no total cerca de R$ 2,3 bilhões do Ebitda estimado para 2025, analisou Kevin C. Gervasoni, contribuidor TradersClub.

A Embraer desponta como a grande vencedora da mais recente reviravolta no cenário tarifário. A razão está no forte peso do mercado americano na receita da companhia. A Gerdau (GGBR4) também tem sido apontada como possível beneficiária dessa nova etapa comercial. Com operações nos Estados Unidos, a siderúrgica pode atender à demanda local sem depender de exportações diretas do Brasil, evitando o impacto das tarifas. 

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