Pacote do ‘tarifaço’ derruba Ibovespa em 0,89% e dólar volta a subir

O movimento refletiu uma combinação de incertezas fiscais no Brasil e ajustes no mercado de commodities.

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Publicado em 13/08/2025 às 17:39h - Atualizado 9 horas atrás Publicado em 13/08/2025 às 17:39h Atualizado 9 horas atrás por Matheus Silva
No câmbio, o dólar à vista avançou 0,27%, encerrando cotado a R$ 5,4018 (Imagem: Shutterstock)
No câmbio, o dólar à vista avançou 0,27%, encerrando cotado a R$ 5,4018 (Imagem: Shutterstock)

🚨 O pregão desta quarta-feira (13) foi marcado por um movimento de cautela na bolsa brasileira, em um dia em que fatores domésticos e externos se entrelaçaram para moldar o humor dos investidores.

O Ibovespa (IBOV), principal índice da B3 (B3SA3), encerrou o dia em queda de 0,89%, aos 136.687,32 pontos, devolvendo parte dos ganhos expressivos registrados na véspera.

No câmbio, o dólar à vista avançou 0,27%, encerrando cotado a R$ 5,4018. O movimento refletiu uma combinação de incertezas fiscais no Brasil, ajustes no mercado de commodities e um ambiente global ainda sensível às expectativas sobre política monetária nos Estados Unidos.

Pacote do ‘tarifaço’ eleva dúvidas sobre sustentabilidade fiscal

O ponto central de atenção no mercado doméstico foi a assinatura, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de uma medida provisória que institui um pacote de contingência para amortecer os impactos do chamado ‘tarifaço’ — expressão utilizada para se referir a aumentos de tarifas que pressionam setores produtivos e consumidores.

O conjunto de medidas prevê:

  • R$ 30 bilhões em linhas de crédito para empresas afetadas;
  • R$ 4,5 bilhões em aportes a fundos garantidores, para dar suporte a operações de crédito;
  • Concessão de até R$ 5 bilhões em créditos tributários a exportadores;
  • Prorrogação de um ano no prazo do regime de drawback, que permite isenção ou suspensão de tributos na compra de insumos para exportação;
  • Ampliação do Reintegra até dezembro de 2026, com créditos adicionais de até R$ 5 bilhões.

Apesar do alívio de curto prazo para setores sensíveis, analistas destacam que a conta fiscal dessas medidas ainda não está clara, reacendendo discussões sobre a trajetória das contas públicas e sobre o espaço do governo para cumprir a meta de resultado primário.

Em um cenário já desafiador, com arrecadação pressionada e crescimento econômico moderado, qualquer nova despesa exige compensações ou revisão das projeções fiscais.

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MRV surpreende e CVC decepciona

O desempenho das ações de empresas listadas na B3 também ajudou a definir o tom do pregão.

Na ponta positiva, MRV&Co (MRVE3) registrou alta de mais de 6%, mesmo após divulgar prejuízo líquido ajustado de R$ 774,7 milhões no segundo trimestre, revertendo lucro de R$ 29,4 milhões no mesmo período de 2024.

O resultado negativo foi concentrado nas operações da subsidiária norte-americana Resia, em processo de reestruturação.

No entanto, a operação de incorporação no Brasil, especialmente no segmento de habitação popular, apresentou forte crescimento, beneficiada por ajustes no programa Minha Casa, Minha Vida e por subsídios estaduais adicionais.

Já na ponta negativa, a CVC (CVCB3) despencou mais de 10% após divulgar prejuízo líquido de R$ 46,4 milhões, um aumento de 109,4% em relação ao ano anterior.

Embora a companhia tenha registrado crescimento de reservas e alta de 28,3% no Ebitda ajustado, o resultado foi fortemente pressionado por maiores despesas financeiras e tributárias, frustrando as expectativas do mercado.

Petrobras e Vale recuam

O desempenho de gigantes como Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) também contribuiu para o viés negativo.

As ações da estatal recuaram acompanhando a queda do petróleo Brent no mercado internacional, influenciada por sinais mistos de demanda global e estoques elevados nos EUA.

A Vale, por sua vez, fechou em leve baixa, pressionada pela desvalorização do minério de ferro na China, em meio a novas incertezas sobre a recuperação do setor imobiliário chinês e intervenções regulatórias em mercados de commodities.

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Wall Street renova recordes

No cenário internacional, o clima foi mais positivo. Os principais índices de Wall Street avançaram, impulsionados pela expectativa quase unânime de um corte de 50 pontos-base na taxa de juros dos EUA pelo Federal Reserve já na próxima reunião.

  • Dow Jones: +1,04%, aos 44.922,27 pontos;
  • S&P 500: +0,32%, aos 6.466,58 pontos (nova máxima histórica);
  • Nasdaq: +0,14%, aos 21.713,14 pontos (nova máxima histórica).

O otimismo foi reforçado por declarações do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, que afirmou que os juros atuais estão “muito restritivos” e que seria adequado reduzir o nível de aperto monetário, considerando a desaceleração do mercado de trabalho.

Ásia e Europa seguem o otimismo

Os mercados asiáticos e europeus repercutiram o clima positivo vindo dos EUA. No Japão, o Nikkei avançou 1,30% e renovou recorde histórico. Em Hong Kong, o Hang Seng subiu 2,58%.

Na Europa, o índice pan-europeu Stoxx 600 ganhou 0,54%, acompanhando a tendência de valorização.

Veja o que esperar para os próximos pregões:

  • Detalhes sobre a implementação do pacote do ‘tarifaço’;
  • Evolução dos preços das commodities, especialmente petróleo e minério;
  • Divulgação de novos balanços corporativos no Brasil;
  • Indicadores de inflação e emprego nos EUA, que podem confirmar ou não o corte de juros projetado pelo mercado.

📊 A combinação de incerteza fiscal doméstica e perspectiva de juros mais baixos no exterior cria um ambiente misto para ativos brasileiros, com potencial para alta volatilidade nos próximos dias.