Ibovespa caiu nos últimos ciclos de alta da Selic: Agora vai ser diferente?

A taxa básica de juros brasileira subiu, pela primeira vez em dois anos, na quarta-feira (18).

Author
Publicado em 19/09/2024 às 06:53h - Atualizado 2 meses atrás Publicado em 19/09/2024 às 06:53h Atualizado 2 meses atrás por Marina Barbosa
Mercado vê o Ibovespa batendo novos recordes em 2024 (Imagem: Shutterstock)
Mercado vê o Ibovespa batendo novos recordes em 2024 (Imagem: Shutterstock)

A bolsa brasileira caiu nos últimos ciclos de alta da Selic, a taxa básica de juros brasileira. Desta vez, no entanto, a expectativa do mercado é de que o Ibovespa volte a bater recordes em 2024, mesmo com o aumento dos juros.

Especialistas ouvidos pelo Investidor10 explicam que a alta dos juros costuma ser negativa para a bolsa, já que aumenta a atratividade dos ativos de renda fixa e eleva o custo das empresas, afetando o valuation das companhias listadas.

No entanto, desta vez há a expectativa de que outros fatores amenizem esses impactose permitam que o Ibovespa siga uma trajetória de alta, impulsionado pelo capital estrangeiro.

💲 No geral, o entendimento é de que a bolsa brasileira está "barata" frente a outras bolsas e tem boas empresas. Por isso, pode atrair o fluxo de investimento estrangeiro neste momento em que outros países, sobretudo os Estados Unidos, estão reduzindo os juros, na contramão do Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, de 10,50% para 10,75% ao ano nesta quarta-feira (18). Já o Fed (Federal Reserve) anunciou a primeira redução em quatro anos dos juros americanos e optou por começar esse ciclo de corte com um movimento agressivo, de 0,50 ponto percentual.

"A bolsa pode continuar tendo um potencial de valorização elevado porque, enquanto nós estamos elevando os juros, os Estados Unidos estão diminuindo. Então, o dinheiro tende a vir buscar maior retorno", explicou o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.

Segundo ele, a redução dos juros americanos é um "fator primordial para que o investidor estrangeiro, que é o principal motor da bolsa brasileira, volte para o mercado". Afinal, "se os juros estão diminuindo lá, o investidor vai buscar opções de retorno maior em outros lugares".

Leia também: Selic a 10,75%: Quanto rende o seu dinheiro em LCA e LCI

Diante desse cenário, o economista da Valor investimentos, Gabriel Meira, também vê o investidor estrangeiro voltando ao mercado brasileiro e, consequentemente, impulsionando o Ibovespa nos últimos meses deste ano.

"O que muda desta vez é que há um fluxo represado muito grande lá fora, principalmente nos Estados Unidos, que pode vir para cá", comentou Gabriel Meira.

Os especialistas reconhecem que há outras opções para os investidores que tendem a buscar ativos de maior risco na esteira da queda dos juros americanos. Contudo, dizem que a bolsa brasileira é boa opção. 

"A bolsa brasileira está relativamente barata frente a outras. Além disso, tem algumas boas empresas, que são bem geridas e têm apresentado resultados bons. Então, há uma reprecificação em relação ao target do Ibovespa", disse o economista da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM, Alexandre Espírito Santo.

"Nossa bolsa ainda tem bastante oportunidade, segue negociando a múltiplos descontados e tem empresas bem posicionadas", reforçou Rodrigo Moliterno.

Leia também: Poupança renderá mais com Selic a 10,75%? 

Mercado vê novos recordes do Ibovespa

📈 Com isso, o mercado projeta novos recordes do Ibovespa neste ano. A Way Investimentos, por exemplo, vê o Ibovespa saindo dos atuais 133 mil pontos para 140 mil pontos ao final de 2024. E essa projeção é uma das mais conservadoras do mercado no momento.

A Monte Bravo, por exemplo, acredita que o Ibovespa baterá os 145 mil pontos em 2024. Já a XP Investimentos vê o Ibovespa chegando aos 155 mil pontos nos próximos 12 meses e o Itaú BBA mira os 165 mil pontos em 2025.

Se as projeções se confirmarem, o Ibovespa terá um comportamento inédito em ao menos 10 anos. Isso porque o principal índice da B3 recuou nos últimos ciclos de alta da Selic. 

Entre março de 2021 e agosto de 2022, quando a Selic saltou de 2% para 13,75% ao ano, por exemplo, o Ibovespa perdeu cerca de 9%. Já entre outubro de 2014 e julho de 2025, quando a Selic subiu de 11% para 14,25% ao ano, o tombo foi de 4%.

Os especialistas ressaltam, no entanto, que um ciclo de alta prolongado dos juros pode afetar o desempenho das empresas e da bolsa brasileira. Contudo, esta não é a expectativa no momento. Segundo o Boletim Focus, o mercado espera que a taxa chegue a 11,25% até o final de 2024, mas volte para 10,50% em 2025.