Debêntures impulsionaram mercado de capitais em 2023, entenda

Debêntures captaram R$ 236,3 bilhões em 2023, enquanto as ações levantaram R$ 31 bilhões

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Publicado em 19/01/2024 às 20:47h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 19/01/2024 às 20:47h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa
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As empresas brasileiras captaram R$ 463,7 bilhões no mercado de capitais doméstico em 2023. E mais da metade disso foi levantado por meio de um único tipo de ativo: debêntures.

💰 Títulos de renda fixa emitidos por empresas para captar recursos, as debêntures levantaram R$ 236,3 bilhões em 2023, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Já as ações captaram apenas R$ 31 bilhões no período. Sem a estreia de nenhuma empresa na B3, a captação da renda variável caiu 46% em relação a 2022 e foi sustentada por follow-ons, isto é, oferta subsequente de ações.

Veja a captação do mercado de capitais brasileiro em 2023, por ativo:

  • Debêntures: R$ 236,3 bilhões;
  • CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários): R$ 47,8 bilhões;
  • CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio): R$ 43,1 bilhões;
  • FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios): R$ 38,7 bilhões;
  • Ações: R$ 31 bilhões;
  • FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário): R$ 29,9 bilhões;
  • Notas comerciais: R$ 27,9 bilhões;
  • Fiagros: R$ 8,8 bilhões.

Debêntures em alta

As debêntures são emitidas pelas empresas para o financiamento de projetos ou gerenciamento de dívidas. Em 2023, 30,9% dos recursos levantados por debêntures foram para investimentos em infraestrutura, uma fatia bem maior que a registrada em 2022 (20,2%). 

💡 Segundo a Anbima, os setores de energia elétrica (R$ 62,4 bilhões), transporte e logística (R$ 30,6 bilhões) e saneamento (R$ 28,4 bilhões) foram os maiores beneficiados por esses recursos.

O gestor da BlueMetrix Asset, Renan Silva, explicou que muitas empresas recorreram a esse tipo de título para destravar projetos de investimento quando o cenário econômico sugeriu uma recuperação. 

"Com a inflação e os juros caindo, há uma perspectiva de maior consumo à frente. Por isso, as empresas começaram a antecipar projetos para captar esse consumo reprimido", disse Silva.

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💲 As debêntures também são um tipo de investimento atrativo para o investidor. A principal vantagem é que as debêntures cujos recursos são direcionados para investimentos em infraestrutura são  isentas de IR (Imposto de Renda). São as chamadas  debêntures incentivadas

Além disso, por serem títulos de renda fixa, as debêntures oferecem o pagamento do valor investido acrescido de um prêmio. E esse prêmio normalmente supera os do Tesouro Direto, já que as empresas oferecem um risco maior que o governo. 

Renan Silva lembrou, por sua vez, que muitas debêntures são emitidas por empresas listadas em Bolsa, que têm uma política de transparência bem definida. Então, o investidor pode colher informações sobre as empresas antes de tomar a decisão de investir em uma debênture.

Mercado em queda

📉 Não foram só as ações que registraram queda no volume de captações em 2023. Até as debêntures, que responderam por mais da metade do mercado, tiveram um ano negativo em relação a 2022, com recuo de 12,7% nas captações.

Segundo dados da Anbima, só três tipos de ativo ampliaram as captações em 2023:

  • Fundos imobiliários: 20,9%;
  • Fiagros: 20,8%;
  • CRA: 2,1%.

Ao todo, o volume de emissões do mercado de capitais brasileiro caiu 14,9% em 2023, em relação a 2022, quando atingiu R$ 544,8 bilhões, segundo a Anbima.

As captações recuaram em meio a um cenário de inflação e juros altos, além de incertezas sobre as contas públicas brasileiras e a economia global. Eventos corporativos, como a crise das Americanas (AMER3) logo no início do ano, também afetaram o resultado. 

📈 A Anbima diz, contudo, que o mercado já vem dando sinais de recuperação. Segundo a associação, as captações voltaram a ganhar força a partir do segundo semestre de 2023, tanto que o melhor desempenho mensal do ano foi registrado em dezembro: R$ 74,5 bilhões.

"A redução da taxa básica de juros contribuiu para essa retomada, assim como o comportamento do câmbio e o desempenho da economia norte-americana, afastando o temor de uma recessão", comentou o presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, Guilherme Maranhão.