CVC (CVCB3) deve ter pouso forçado pela Decolar? Analistas explicam

Decolar inaugurou oito lojas físicas no Brasil; analistas avaliam que turismo têm tendência de melhora para os próximos meses

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Publicado em 25/11/2023 às 14:00h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 25/11/2023 às 14:00h Atualizado 3 meses atrás por Juliano Passaro
(Shutterstock)
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A CVC (CVCB3), desde meados de março de 2020, viu suas ações despencarem na bolsa de valores de São Paulo (B3). Isso porque o mercado avaliava que, com a chegada da pandemia de Covid-19, o turismo não teria um horizonte tão favorável dali em diante. A tendência se confirmou e a CVC tem encontrado dificuldades para voltar a crescer, principalmente devido à falta de poder aquisitivo da população e às despesas financeiras da companhia — piorada pela (ainda alta) taxa de juros (Selic). 

Em janeiro de 2020, as ações da CVC eram cotadas a R$ 39,52. Atualmente, estão no patamar de R$ 3,25. Agora, para além do cenário econômico já desafiador para a companhia de turismo, existe um novo obstáculo em seu caminho: a concorrência. A Decolar, agência — até então — online de viagens, abriu suas primeiras lojas físicas no Brasil, fazendo sombra à CVC. 

De acordo com Gianluca Di Mattina, analista da Hike Capital, a tendência, com a entrada da Decolar no mercado de unidades físicas para pacotes de turismo, é que as margens da CVC diminuam e "crie um fluxo de caixa negativo", como reflexo de uma maior pressão competitiva. 

"Devido à uma análise feita pela companhia 47% das reservas no Brasil são feitas em pontos físicos e o restante on-line, com isso a Decolar achou uma brecha para explorar confrontando sua concorrente CVC, pressionando suas margens de lucratividade com esses investimentos anteriores e a concorrência entrando neste mercado no Brasil", disse Di Mattina, analista da Hike Capital.

Por outro lado, segundo o analista CNPI do canal Hub do Valuation, Hugo Queiroz, existe um horizonte econômico que pode dar mais fôlego para as empresas de turismo, o que beneficiaria tanto CVC quanto Decolar.

"É de se imaginar que isso [juros, inflação e crédito] vai melhorar bem daqui pra frente, então vai incentivar as pessoas a gastarem mais com viagens, turismo, e, consequentemente, a gente deve ver um crescimento maior [dessas empresas]", avaliou Queiroz.

Em relação à competição entre Decolar e CVC, Queiroz destaca que a maioria dos players de turismo estão com uma situação semelhante, se adequando operacionalmente em termos de capital.

"Não vejo a Decolar gerando grandes impactos e reflexos, dado que o ambiente ficou menos competitivo depois da pandemia para cá. Claro que é um player importante, que vai adotar estratégias parecidas com a da CVC, porém a gente tem dois players relevantes disputando o mercado que antes era muito fragmentado e diversos saíram, então esses diversos que saíram vão ser divididos pelos restantes", disse Queiroz.

O terceiro tri da CVC

Para o analista da "HUB do Valuation", a CVC deve focar em se reorganizar operacionalmente e financeiramente. Queiroz salientou que os números reportados pela CVC no terceiro trimestre mostram uma companhia ainda em reestruturação.

"Tanto na operação quanto na parte financeira, na estrutura de capital, a CVC ainda está em processo de reestruturação, porém já colhendo alguns benefícios de toda essa construção que foi feita com a chegada do novo sócio e a troca dos comandantes de cada uma das unidades", afirmou Queiroz.

A CVC viu seu prejuízo aumentar em 16% no terceiro trimestre de 2023, para R$ 87,5 milhões. No terceiro trimestre de 2022, a companhia registrou R$ 75 milhões de prejuízo. 

"Quando a gente olha o segundo pilar, que é geração de caixa e dívida, aí o cenário para a companhia fica bem desafiador. A gente está falando de uma companhia que ainda queima a caixa na sua operação. Ela ainda tem os reflexos desta reorganização operacional e financeira", disse Queiroz.

Apesar de ter apresentado uma alta na receita líquida de 11,3% no trimestre, para R$ 375,8 milhões, a queima de caixa da CVC ainda preocupa o mercado. A dívida líquida da empresa no 3T23 ficou em R$ 639 milhões.

"A gente está falando de uma empresa que queimou R$ 300 milhões de caixa nesse último trimestre, porém sem esses ajustes, é provável que nos próximos trimestres ela passe a gerar caixa de novo. Já na dívida, a gente vê uma companhia com endividamento equacionado para 2024, então tira esse risco ali, porém a gente está falando de um endividamento ainda muito pesado", afirmou o analista.

Caso ocorra a manutenção do cenário de queda de juros e arrefecimento da inflação, as reservas, não só para CVC, mas para outras companhias de turismo, devem crescer novamente, o que deve melhorar os resultados financeiros dessas companhias.

Mesmo assim e apesar de considerar um papel "barato", Queiroz alerta que o setor de turismo é muito cíclico e, por ter muitos fatores que impactam, é um setor que não faz muito sentido no portfólio de investimentos de longo prazo. Por outro lado, para uma estratégia de valor, pode ser uma alternativa.

"A gente já viu esse esse segmento negociando 15x 16x, né? Então existe, sim, um potencial upside que a companhia pode destravar conforme os números da operação e do resultado financeiro se mantiverem", finalizou o analista.