Swap cambial: entenda esse mecanismo para estabilizar o câmbio

Author
Publicado em 23/07/2025 às 21:34h - Atualizado 5 horas atrás Publicado em 23/07/2025 às 21:34h Atualizado 5 horas atrás por Carlos Filadelpho
Entenda o que é swap cambial - (Imagem: Shutterstock)
Entenda o que é swap cambial - (Imagem: Shutterstock)

O swap cambial é uma ferramenta sofisticada, mas amplamente utilizada pelo Banco Central do Brasil para controlar a volatilidade do dólar e dar previsibilidade ao mercado financeiro.

Embora o nome soe complexo, entender como esse mecanismo funciona é essencial para qualquer investidor que acompanha o câmbio, os juros e os movimentos da política monetária.

É hora de compreender como os swaps cambiais influenciam os ativos de renda variável, os contratos futuros, a política monetária e a credibilidade do país perante o mercado.

O que é swap cambial?

De maneira simplificada, o swap cambial é um contrato derivativo usado para trocar a variação do câmbio (dólar) pela variação dos juros (CDI), ou vice-versa.

O termo “swap” vem do inglês e significa “troca”. No mercado financeiro, swaps são contratos onde duas partes concordam em trocar fluxos de caixa futuros com base em diferentes critérios de remuneração.

No caso do swap cambial tradicional, o Banco Central oferece proteção contra a variação cambial, assumindo o risco da variação dos juros.

Na prática, o BC faz isso sem movimentar reservas internacionais, ou seja, sem vender dólares de fato. Ele apenas simula a venda de dólares, ofertando contratos no mercado futuro que protegem os agentes da oscilação da moeda.

Por que o Banco Central usa o swap cambial?

O principal objetivo do Banco Central ao realizar swaps cambiais é controlar a volatilidade do dólar e garantir liquidez nos mercados futuros.

Na prática, isso é especialmente importante em momentos de incerteza, fuga de capitais, tensões políticas ou crises internacionais, quando a demanda por dólar sobe bruscamente.

Ao ofertar contratos de swap cambial, o Banco Central:

  • Reduz a pressão sobre a cotação do dólar;
  • Evita oscilações abruptas no câmbio;
  • Protege empresas expostas à variação cambial (importadoras e exportadoras);
  • Garante previsibilidade para o mercado financeiro;
  • Ajuda a ancorar expectativas de inflação.

É importante destacar que o BC não usa o swap para definir um valor exato do câmbio, mas sim para suavizar movimentos extremos e manter a estabilidade financeira.

Como funciona o swap cambial?

O swap cambial tradicional oferecido pelo Banco Central funciona como uma troca de rentabilidades entre dois índices:

  • De um lado, o BC assume a variação da taxa de câmbio (dólar);
  • Do outro lado, o mercado assume a variação da taxa de juros (CDI).

Ao final do contrato (geralmente de 30, 60 ou 90 dias), ocorre a liquidação financeira da diferença entre os dois indexadores, sem troca física de moeda.

Exemplo prático:

Suponha que o BC ofereça um contrato de swap cambial tradicional com vencimento em 30 dias:

  • O investidor que compra o contrato recebe a variação do dólar;
  • Em troca, ele paga a variação do CDI no período.

Se, durante o período, o dólar sobe 2% e o CDI rende 1%, o investidor recebe a diferença de 1%. O Banco Central, nesse caso, registra um prejuízo contábil (assumiu a alta do dólar), mas aliviou a pressão no mercado de câmbio.

Por outro lado, se o dólar cair 1% e o CDI render 1%, o investidor perde 2% (pagou CDI, mas o dólar caiu). Neste cenário, o Banco Central registra um ganho financeiro, ainda que seu objetivo não seja lucrar, mas estabilizar a moeda.

Tipos de swap cambial

Tipos de swap cambial - (Imagem: Shutterstock)

Podemos afirmar que existem dois tipos de swap utilizados pelo Banco Central:

1.Swap cambial tradicional (mais comum)

  • O BC paga a variação do dólar ao investidor;
  • O investidor paga a variação do CDI ao BC;
  • Serve como hedge (proteção) para quem teme a alta do dólar.

Esse é o modelo mais utilizado para suavizar a pressão cambial e evitar picos no dólar.

2.Swap reverso

  • O BC paga CDI ao investidor;
  • O investidor paga a variação do dólar ao BC;
  • Serve para reduzir a pressão baixista sobre o câmbio (ou seja, quando o dólar está caindo demais).

Esse tipo é pouco utilizado, mas pode ser adotado em momentos de forte entrada de capital estrangeiro, que derruba o dólar de forma agressiva.

O swap cambial movimenta reservas internacionais?

Não. Uma das vantagens do swap cambial tradicional é que o Banco Central não precisa usar suas reservas internacionais de dólares.

Isso é diferente da intervenção direta, onde o BC vende dólares à vista. No swap, o BC entra no mercado futuro, oferecendo contratos que protegem os agentes do risco cambial sem que haja saída física de divisas do país.

Por isso, os swaps são considerados uma forma mais eficiente e menos arriscada de intervenção, preservando as reservas internacionais e mantendo a liquidez em dólar no mercado.

Swap cambial tem custo?

Sim. Apesar de não envolver a venda física de dólares, os swaps cambiais podem gerar resultados positivos ou negativos para o Banco Central, dependendo da variação entre o dólar e o CDI.

Esses ganhos ou perdas são apurados diariamente e fazem parte da contabilidade do resultado cambial, que é repassado ao Tesouro Nacional.

Quando o dólar sobe mais que o CDI, o BC registra prejuízo. Quando o CDI supera a variação do dólar, o BC registra lucro.

No entanto, o objetivo principal não é financeiro, mas sim de política monetária e cambial.

Quando o Banco Central decide fazer swap cambial?

O BC atua com swaps cambiais em momentos de excesso de demanda por dólar no mercado futuro, o que eleva a taxa de câmbio e pode causar instabilidade.

Alguns gatilhos comuns para atuação com swaps:

  • Crises internacionais (como guerras ou colapsos financeiros);
  • Tensão política ou fiscal no país;
  • Aumento da percepção de risco Brasil;
  • Alta abrupta no dólar futuro;
  • Interrupção de fluxo de capital estrangeiro.

A atuação do BC costuma ser anunciada publicamente, gerando impacto imediato nos mercados e servindo como um sinal de contenção de volatilidade.

Swap cambial e inflação: qual a relação?

A relação entre swap cambial e inflação se dá de forma indireta. Quando o dólar sobe, há impacto nos preços de produtos importados, combustíveis e matérias-primas — o que pode gerar pressão inflacionária.

Ao conter movimentos abruptos do câmbio com swaps cambiais, o Banco Central busca também:

  • Evitar repasses de preço para o consumidor;
  • Controlar a expectativa inflacionária;
  • Ajudar na condução da política monetária (Selic).

Por isso, os swaps são considerados uma ferramenta complementar ao controle da inflação, ainda que não substituam os ajustes na taxa de juros.

Impacto dos swaps no mercado financeiro

A atuação do Banco Central por meio de swaps cambiais afeta diretamente diversos segmentos do mercado financeiro brasileiro, influenciando desde o comportamento dos investidores até a precificação de ativos de renda fixa e variável.

Por ser um instrumento de política cambial com efeitos indiretos sobre os juros e as expectativas inflacionárias, os swaps têm uma função estratégica não apenas na estabilização do câmbio, mas também na dinâmica dos mercados como um todo.

A seguir, veja como os swaps impactam diferentes áreas do mercado financeiro:

1.Bolsa de Valores

O mercado acionário, especialmente o Ibovespa, reage com sensibilidade à variação do dólar. Empresas que atuam com forte presença internacional — como exportadoras de commodities — tendem a se beneficiar da valorização da moeda americana, uma vez que suas receitas são, em grande parte, denominadas em dólar.

Nesse contexto, os swaps cambiais, ao influenciarem a trajetória do dólar futuro, impactam indiretamente a expectativa de lucros e margens dessas empresas, afetando sua precificação na bolsa.

Por outro lado, ao conter movimentos abruptos de valorização do dólar, a atuação do Banco Central com swaps ajuda a reduzir a volatilidade do Ibovespa, trazendo mais estabilidade aos mercados e favorecendo o apetite ao risco.

2.Mercado futuro

Swap cambial e o mercado futuro- (Imagem: Shutterstock)

O mercado de derivativos, em especial o de contratos futuros de dólar na B3, é diretamente impactado pelos leilões de swap cambial.

Como o swap é um contrato negociado no ambiente futuro, sua oferta e demanda afetam a formação da taxa de câmbio futura, influenciando operações de hedge, especulação e arbitragem.

Quando o Banco Central realiza leilões de swap, aumenta a liquidez no mercado futuro de dólar, reduz o custo da proteção cambial (hedge) para empresas e instituições financeiras, e interfere na curva de preços dos contratos futuros.

Com isso, investidores e empresas que atuam com importações, exportações ou investimentos internacionais conseguem se proteger com mais eficiência contra oscilações do câmbio.

3.Renda fixa e variável corporativa

Empresas brasileiras com endividamento em dólar (empréstimos externos, debêntures internacionais, bonds, etc.) são sensíveis à variação do câmbio.

Quando o dólar se valoriza, o custo da dívida dessas companhias aumenta em reais, pressionando o fluxo de caixa e impactando os indicadores financeiros, como alavancagem e cobertura de juros.

Dentre os setores mais afetados, podemos citar:

  • Aéreo;
  • Mineração;
  • Papel e celulose;
  • Petróleo;
  • Transporte marítimo.

Nesse contexto, a atuação do BC com swaps ajuda a reduzir a pressão sobre o câmbio, permitindo que essas empresas se planejem melhor e mantenham suas operações financeiras sob controle.

4.Fluxo de capital estrangeiro

A atuação do Banco Central com swaps também influencia as decisões de investidores estrangeiros, que avaliam constantemente o risco Brasil e a estabilidade cambial antes de alocar recursos em ações, títulos públicos e projetos de investimento direto.

Quando o mercado percebe que o BC tem capacidade e disposição para intervir de forma técnica e eficaz com swaps, a confiança aumenta. Isso contribui para manter ou atrair capital estrangeiro, favorecendo o equilíbrio do balanço de pagamentos e ajudando a valorizar os ativos brasileiros.

Por outro lado, falhas de comunicação, atraso nas intervenções ou uso excessivo do instrumento podem gerar desconfiança e provocar saída de capital — o que reforça a importância de uma atuação transparente, coordenada e previsível por parte das autoridades monetárias.

Como o investidor pode acompanhar os swaps cambiais?

O Banco Central divulga informações atualizadas sobre swaps cambiais em seu site oficial e por meio de comunicados ao mercado. Alguns pontos para acompanhar:

  • Volume total de contratos em aberto;
  • Calendário de leilões;
  • Resultados acumulados (lucros ou prejuízos);
  • Atuação emergencial em momentos de crise.

Investidores e analistas também acompanham os efeitos dos swaps nos gráficos de dólar futuro, curva de juros e índice de risco-país (CDS).

Conclusão: swap cambial como instrumento de estabilidade

O swap cambial é uma das principais ferramentas utilizadas pelo Banco Central para estabilizar o mercado de câmbio sem comprometer as reservas internacionais.

Ele permite ao BC conter movimentos bruscos do dólar, preservar a confiança do mercado e apoiar o controle da inflação, tudo isso com mais agilidade e flexibilidade do que as intervenções tradicionais.

Para o investidor, compreender o funcionamento dos swaps cambiais ajuda a interpretar melhor os movimentos do dólar, antecipar tendências de política monetária e tomar decisões mais informadas em relação a ativos como câmbio, ações, renda fixa e fundos multimercado.

Se você quer continuar aprendendo sobre câmbio, macroeconomia e investimentos de forma clara e aprofundada, acompanhe os conteúdos do Investidor10.

Agora, se o seu objetivo é ter acesso ilimitado a gráficos e ferramentas que podem tornar suas decisões como investidor mais assertivas, conheça e assine o Investidor10 PRO.