Renda fixa com susto: debêntures incentivadas rendem menos que o CDI em outubro

Mesmo com isenção de IR, títulos de infraestrutura decepcionam e acendem alerta entre investidores.

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Publicado em 11/11/2025 às 12:32h - Atualizado Agora Publicado em 11/11/2025 às 12:32h Atualizado Agora por Wesley Santana
Debêntures incentivadas já ocuparam o pódio da renda fixa, pagando mais de 2% ao mês (Imagem: Shutterstock)
Debêntures incentivadas já ocuparam o pódio da renda fixa, pagando mais de 2% ao mês (Imagem: Shutterstock)

Quem costuma diversificar os investimentos já conhece bem as debêntures incentivadas. Esses títulos de dívida, emitidos por empresas, costumam pagar mais que os outros produtos da renda fixa, mas também trazem um risco maior aos investidores.

O último mês de outubro, porém, foi quase uma exceção, já que grande parte das debêntures incentivadas que circulam no mercado pagou menos que o CDI. Isso aconteceu porque o Congresso tirou de pauta o projeto que podia taxar novas emissões desses títulos, o que vinha aumentando a procura pela categoria antes de uma eventual mudança.

Um relatório recente publicado pelo Bradesco mostrou que houve uma abertura de 40 pontos-base nos spreads dos títulos nas duas últimas semanas. Em alguns casos, a diferença foi de 53 pontos-base, mas hoje a média se acomodou em 6 pontos-base.

Além do investidor pessoa física, quem mais se viu impactado por esse movimento foram os fundos de investimento em renda fixa, que registraram quedas importantes ao longo do mês. Obviamente, os cotistas se preocuparam com o movimento, e os gestores agora trabalham para acalmar os ânimos do mercado.

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“Historicamente, quando os fundos que buscam bater o CDI dão retorno negativo no mês, acontece uma onda de resgates na sequência. Os dados devem mostrar esse impacto nas próximas semanas, já que os fundos de debêntures incentivadas têm pelo menos 30 dias entre os pedidos de resgate e a cotização. Caso isso ocorra, a já escassa demanda esperada pode nem existir, e esse movimento de salto nas taxas pode se intensificar”, escreveu a gestora Sparta em carta divulgada na semana passada.

A preocupação, neste momento, está na possibilidade de que os cotistas comecem a resgatar seus patrimônios, o que poderia ocasionar um problema sistêmico. Isso porque, para devolver os recursos aos investidores, os fundos teriam que vender suaas debêntures e, no final, reduziriam ainda mais os preços dos títulos.

“Confie no piloto. Se não, você não pode entrar no avião”, afirma. “E se você investiu esperando que esses fundos não vão chacoalhar, está com a expectativa errada. Se você não está confortável com esse comportamento, talvez não devesse estar investindo nesse tipo de produto ou poderia investir uma fatia menor da carteira”, continuou a gestora.

Os principais analistas descartam que haja o problema maior que esse, mesmo considerando que o mês passado foi de grande tensão dado os casos de empresas como Raízen, Ambipar e Braskem. Eles pontuam que as empresas que emitem esses títulos de infraestrutura costumam ter boas notas de crédito, já que trabalham com previsibilidade de receitas e são menos propensas a impactos pelo cenário monetário. 

As debêntures incentivadas são títulos de dívida emitidos por empresas exclusivamente para a captação de recursos para infraestrutura. Para fazer com que mais pessoas escolham essa opção, os títulos não pagam Imposto de Renda -diferente do que acontece com o CDB ou Tesouro Direto, por exemplo.