Megaoperação no RJ expõe facção que fatura mais do que empresas da Bolsa

Por trás do confronto, está uma facção com faturamento estimado em R$ 6 bilhões por ano, segundo dados da segurança pública do RJ.

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Publicado em 28/10/2025 às 17:16h - Atualizado 8 horas atrás Publicado em 28/10/2025 às 17:16h Atualizado 8 horas atrás por Matheus Silva
A ofensiva, considerada a mais letal da história do estado, envolveu cerca de 2.500 agentes (Imagem: Shutterstock)
A ofensiva, considerada a mais letal da história do estado, envolveu cerca de 2.500 agentes (Imagem: Shutterstock)
🚨 Uma megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) deixou ao menos sessenta e quatro mortos e oitenta e um presos nesta terça-feira (28), nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. 
A ofensiva, considerada a mais letal da história do estado, envolveu cerca de 2.500 agentes e é parte da Operação Contenção, que mira a atuação financeira e territorial da facção no estado e em outras regiões do país.
A ação foi marcada por intenso confronto armado, barricadas em chamas e ataques com drones por parte de criminosos. 
Em retaliação, traficantes organizaram bloqueios em vias importantes como a Linha Amarela, Grajaú-Jacarepaguá e Rua Dias da Cruz, deixando a cidade em alerta. 
O Centro de Operações e Resiliência (COR) elevou o nível de risco para 2, em uma escala de cinco, diante do caos urbano e da mobilização emergencial.
Por trás do confronto, está uma facção com estrutura de grande porte e faturamento estimado em R$ 6 bilhões por ano, segundo dados da inteligência de segurança pública do RJ. Esse valor coloca o CV entre os maiores “conglomerados” de atividades ilegais do Brasil.

A economia paralela do Comando Vermelho

Embora as estimativas variem por ausência de números oficiais, investigações recentes apontam que o Comando Vermelho é responsável por uma fatia relevante dos R$ 146 bilhões movimentados anualmente pelo crime organizado no Brasil, segundo dados de 2022, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A estrutura do CV vai muito além do narcotráfico. A facção tem operações consolidadas em ao menos 19 estados brasileiros, com forte presença na Região Sudeste e crescente expansão no Norte e Nordeste. Os principais pilares financeiros do grupo são:
  • Tráfico de drogas, com destaque para cocaína, responsável por boa parte do faturamento;
  • Exploração de serviços em comunidades, como gás, internet clandestina (chamado “CVNet”), transporte alternativo e até construções irregulares;
  • Extorsão a comerciantes, mototaxistas e prestadores de serviços locais;
  • Roubos e fraudes bancárias, com atuação crescente em golpes cibernéticos;
  • Mercado paralelo, incluindo contrabando de ouro, combustíveis, cigarros e bebidas.
Em favelas como a Rocinha, estima-se que apenas 25% da receita vem da venda de drogas. O restante provém de extorsões e domínio sobre serviços essenciais, com lucros mensais que variam entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões.

Como o CV movimenta e lava dinheiro

A facção utiliza diferentes mecanismos para movimentar e ocultar seus recursos ilícitos. Entre as estratégias mais comuns, estão as empresas de fachada e laranjas, registradas em nome de terceiros e operando em setores diversos como fornecimento de gás, serviços de internet e comércio de pescados. 
Além disso, o grupo tem se valido de fintechs clandestinas, como foi o caso da “4TBank”, revelada em 2024, que teria lavado cerca de R$ 6 bilhões em nome do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital (PCC). 
Outra frente importante é o uso de criptomoedas e plataformas de apostas online, que permitem ocultar recursos e dificultam o rastreamento por parte das autoridades financeiras. 
Por fim, o CV também recorre a transferências pulverizadas, com depósitos fracionados em diversas contas e empresas “limpas”, o que complica ainda mais a identificação e o bloqueio dos valores movimentados.

Investigação e resposta estatal

Órgãos como o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) vêm monitorando as transações do CV. Até setembro de 2025, o comitê de inteligência do RJ analisou R$ 65 bilhões em operações suspeitas. 
A própria Operação Contenção, em curso desde 2024, teve como alvo o núcleo financeiro da facção, com bloqueios de contas que somam valores bilionários.
💲 Segundo a Polícia Civil, os recursos movimentados são usados para compra de armas, financiamento de novos pontos de venda de drogas e ampliação da atuação nacional, especialmente em regiões com baixa presença do Estado.