Lula critica sanções dos EUA e defende soberania em discurso na ONU

Presidente também destacou a condenação de Bolsonaro e cobrou soluções para fome e guerra no Oriente Médio.

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Publicado em 23/09/2025 às 11:54h - Atualizado 1 minuto atrás Publicado em 23/09/2025 às 11:54h Atualizado 1 minuto atrás por Wesley Santana
Presidente brasileiro é sempre o primeiro líder a discursar no evento multilateral (Imagem: Shutterstock)
Presidente brasileiro é sempre o primeiro líder a discursar no evento multilateral (Imagem: Shutterstock)

Nesta terça-feira (23), o presidente Lula da Silva fez seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que acontece em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O pronunciamento do petista durou pouco mais de 10 minutos, tempo que ele usou para enviar um claro recado ao presidente Donald Trump, falar sobre a fome no mundo e das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

O mandatário brasileiro usou palavras duras para se referir a uma “ingerência” de países em assuntos internos de outros. Ele usou termos como “autoritarismo” e “soberania nacional”, este último que tem sido mote de uma campanha de seu governo frente à pressão dos EUA.

“O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e aqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse. "Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra. Existe um verdadeiro paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, continuou. 

Lula também usou o espaço para falar sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe de Estado. Esse é um dos pontos que distanciam Brasília de Washington, e que fizeram com que Trump impusesse sanções ao Brasil e a alguns representantes. 

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“Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrática de Direito. Foi investigado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso”, disse. “Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”, afirmou.

Mais no sentido global, Lula falou sobre a fome, que atinge mais de 670 milhões de pessoas no mundo. “A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza. Esse é o objetivo da Aliança Global que lançamos no G20, que já conta com apoio de 103 países”, ressaltou. 

A Assembleia da ONU acontece em um momento de forte tensões nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. Além da guerra comercial em marcha pelos EUA, o presidente Donald Trump tem um foco especial no Brasil promovendo retaliações ao governo em decorrência do julgamento de seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal). 

A Comitiva brasileira na ONU foi reduzida nos últimos dias, depois que vários membros tiveram uma autorização especial para circular por Nova Iorque. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, por exemplo, só poderia se dirigir para os locais oficiais do evento, sem poder de locomação por outras partes da cidade. 

Palestina no centro do debate

Na véspera, Lula discursou na Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina, onde defendeu a existênciad e dois Estados no Oriente Médio. O Brasil tem posição favorável ao reconhecimento da Palestina como Estado desde 2010.

Durante seu pronunciamento, Lula criticou a guerra entre Israel e o Hamas, dizendo que este é o maior obstáculo enfrentado pelo multilateralismo na atualidade. O presidente brasileiro ainda teceu críticas à ONU, dizendo que o veto de Israel e dos Estados Unidos sabota a razão de ser da instituição global.

“[O veto] também vai contra sua vocação universal, bloqueando a admissão, como membro pleno, de um Estado cuja criação deriva da autoridade da própria Assembleia Geral. Um Estado se assenta sobre três pilares: o território, a população e o governo. Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino. Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento?”, indagou Lula.

Atualmente, 140 países-membros da ONU reconhecem oficialmente o Estado Palestina, e essa lista têm crescido nos últimos dias. Canadá, Reino Unido e Austrália foram os mais recentes países a adotarem postura a favor de um novo Estado no Oriente Médio.