Carrefour Brasil dá adeus à Bolsa: veja o que motivou a saída após anos de perdas

Após uma passagem de oito anos, a companhia se despediu com uma perda de 44% em valor de mercado.

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Publicado em 31/05/2025 às 18:11h - Atualizado 1 dia atrás Publicado em 31/05/2025 às 18:11h Atualizado 1 dia atrás por Matheus Silva
O IPO do Carrefour Brasil movimentou R$ 5,1 bilhões em 2017 (Imagem: Shutterstock)
O IPO do Carrefour Brasil movimentou R$ 5,1 bilhões em 2017 (Imagem: Shutterstock)

📉 O relacionamento entre Carrefour Brasil (CRFB3) e a B3 (B3SA3) terminou oficialmente na última sexta-feira (30), após uma passagem de oito anos marcada por expectativas frustradas e uma perda de 44% em valor de mercado desde a abertura de capital em 2017.

Com a operação, o grupo francês assume integralmente o controle da operação brasileira e retira a empresa do mercado local de ações.

A decisão de encerrar a jornada da varejista na bolsa brasileira reflete uma trajetória repleta de desafios, da euforia inicial com o IPO bilionário à decepção com resultados abaixo do esperado, culminando com o enfraquecimento das ações e perda de competitividade frente aos principais rivais no segmento de atacarejo.

Uma estreia promissora que virou frustração

O IPO do Carrefour Brasil, que movimentou R$ 5,1 bilhões em 2017, foi celebrado como a maior abertura de capital do país em quatro anos.

Na época, o Atacadão, principal braço do grupo, era visto como peça-chave para dominar o mercado brasileiro de atacarejo, setor que crescia com a busca dos consumidores por preços mais baixos.

O momento parecia favorável com inflação em alta, consumidores migrando para opções de custo reduzido e um forte apelo do Atacadão.

O entusiasmo levou as ações CRFB3 a atingirem a máxima histórica de R$ 23,17 em 2022.

No entanto, uma sequência de decisões estratégicas questionáveis e o agravamento do ambiente macroeconômico começaram a corroer o valor da companhia.

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Aquisição do Grupo BIG: aposta cara e problemática

O divisor de águas veio com a compra do Grupo BIG, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. Inicialmente a operação foi vista como uma jogada ousada para fortalecer a presença da rede no varejo alimentar.

Contudo, a integração revelou-se mais complexa do que o planejado: conversões lentas, fechamento de lojas e prejuízos consecutivos minaram a eficiência operacional.

O impacto foi direto nos resultados financeiros, no primeiro trimestre de 2023, o Carrefour Brasil reportou prejuízo de R$ 375 milhões — o primeiro desde o IPO.

A margem Ebitda caiu drasticamente de 4,4% para 2,1%, refletindo os custos da integração e um cenário de juros elevados, que aumentaram o peso da dívida da companhia.

Enquanto isso, concorrentes como Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) ganharam espaço.

O Assaí acelerou sua expansão e reforçou seu domínio no atacarejo, enquanto o Pão de Açúcar focava em clientes premium e reestruturava suas operações.

Crises institucionais e conflitos comerciais

O ambiente operacional adverso foi agravado por crises institucionais. Em 2024, uma declaração do então CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que o grupo deixaria de comprar carne de países do Mercosul — incluindo o Brasil — gerou forte reação no mercado.

A medida provocou boicotes de frigoríficos brasileiros e pressão diplomática, forçando o Carrefour a recuar publicamente. O episódio desgastou ainda mais a imagem da empresa no mercado nacional.

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O fim da CRFB3 e a nova fase com BDRs

Com o fraco desempenho das ações e dificuldades operacionais, a matriz francesa decidiu simplificar sua estrutura e comprou os 30% restantes das ações que ainda estavam em circulação na B3.

As ações CRFB3 foram retiradas da bolsa brasileira e substituídas por BDRs da matriz listada em Paris, a Carrefour S.A. (CSA).

Os acionistas puderam escolher entre três alternativas:

  • Receber 100% em dinheiro;
  • Receber parte em dinheiro e parte em BDRs;
  • Trocar 100% das ações por BDRs da CSA.

Quem não fez nenhuma escolha automática recebeu BDRs da Carrefour S.A., que já começam a ser negociados na B3.

Além da conversão, os acionistas que optaram pelas BDRs terão direito a dividendos: 0,92 euro por ação ordinária e um dividendo extraordinário de 0,23 euro por ação, pagos no dia 3 de junho.

💲 Os valores, no entanto, estão sujeitos à variação cambial e descontos de impostos como IR e IOF.

CRFB3

Atacadão - Carrefour
Cotação

R$ 8,48

Variação (12M)

-13,30 % Logo Atacadão - Carrefour

Margem Líquida

1,65 %

DY

1.12%

P/L

9,22

P/VP

0.85