Brasil não vale o risco? A dura avaliação estrangeira sobre a economia brasileira

Investidores estrangeiros apontam uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que os tem levado a repensar sua exposição ao país.

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Publicado em 15/07/2025 às 11:02h - Atualizado Agora Publicado em 15/07/2025 às 11:02h Atualizado Agora por Matheus Silva
O mercado brasileiro deve ser evitado em relação a outros emergentes, segundo a BCA (Imagem: Shutterstock)
O mercado brasileiro deve ser evitado em relação a outros emergentes, segundo a BCA (Imagem: Shutterstock)

🚨 A consultoria internacional BCA Research publicou na última segunda-feira (14), um relatório contundente sobre o Brasil.

O documento, intitulado "Brazil: Not Worth The Risk" (“Brasil: não vale o risco”), traz uma análise que aponta sérios desafios fiscais, cambiais e de crescimento para o país nos próximos meses.

A conclusão? O mercado brasileiro deve ser evitado em relação a outros emergentes, segundo a BCA.

A economia brasileira atravessa um momento que inspira atenção redobrada. Análises recentes, como a da BCA Research, apontam uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que ajudam a entender por que tantos investidores estão repensando sua exposição ao país.

Dívida pública em rota insustentável

Um dos principais alertas da BCA é sobre o crescimento constante da dívida pública brasileira em relação ao PIB.

Segundo a consultoria, mesmo com ajustes fiscais modestos, como o contingenciamento anunciado pelo governo (0,26% do PIB) e a tentativa de aumentar a arrecadação em 0,15% do PIB, o déficit primário não será suficiente para conter a elevação da dívida.

Pior: mesmo cenários considerados "otimistas" pelo governo preveem crescimento da relação dívida/PIB até pelo menos 2028.

A razão? Juros reais elevados e crescimento baixo. Segundo a BCA, enquanto os juros reais continuarem acima do crescimento do PIB nominal, a dívida seguirá subindo.

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Crescimento: desaceleração à vista

Apesar de o mercado projetar um crescimento de 2% para 2025, a BCA prevê uma desaceleração abrupta da economia brasileira nos próximos seis a nove meses. Os motivos incluem:

  • Efeitos defasados do aperto monetário iniciado em 2024;
  • Corte nos gastos públicos primários, que já estão caindo em termos nominais;
  • Aumento da inadimplência das famílias, com níveis de inadimplência no consumo chegando aos patamares mais altos da década;
  • Queda nos preços das commodities, que afeta diretamente as exportações brasileiras;
  • Possível desvalorização do real, que pode pressionar a inflação e manter o Banco Central em postura conservadora por mais tempo.

Câmbio: real entre os mais vulneráveis

A BCA também destaca que o real está entre as moedas emergentes mais vulneráveis devido ao duplo déficit (fiscal e em conta corrente). Outros fatores que pesam contra o real incluem:

  • Alta dependência de exportação de commodities primárias;
  • Saída de capitais de investidores estrangeiros;
  • Elevado passivo externo em ativos de portfólio.

Mesmo com a previsão de enfraquecimento do dólar, a BCA acredita que o real deve se manter lateralizado ou desvalorizar, enquanto outras moedas emergentes com superávits em conta corrente devem se valorizar.

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Sem solução política viável

Tanto o atual governo quanto uma eventual administração de direita em 2027 teriam dificuldade para promover os cortes de gastos necessários para estabilizar a dívida.

A BCA cita que nem mesmo sob governos anteriores mais ortodoxos, como os de Michel Temer e Jair Bolsonaro, houve redução sustentável da dívida.

Com a popularidade de Lula em queda e as eleições se aproximando, a consultoria acredita que haverá mais pressão por gastos populistas.

Mesmo que um governo mais liberal assuma em 2027, o custo político de um ajuste fiscal severo seria alto demais para ser viável.

Atenção na hora de investir

📊 Diante desse cenário, a BCA Research recomendou evitar exposição ao Brasil nos seguintes aspectos:

  • Ações: o mercado acionário brasileiro deve ficar para trás em relação a outros emergentes, tanto pelo baixo crescimento quanto pelos riscos fiscais;
  • Títulos locais: embora favoráveis ao mercado de dívida local de emergentes, a BCA mantém uma posição abaixo da média para os títulos brasileiros;
  • Crédito soberano: também com posição subponderada, devido à fragilidade fiscal;
  • Moeda: o real deve seguir pressionado frente ao dólar e outras moedas emergentes mais robustas.

A única aposta favorável mencionada é o recebimento de taxas de swap de dois anos, baseando-se na expectativa de que o Banco Central eventualmente corte juros diante do esfriamento da economia.

O alerta está dado

A análise da BCA Research é uma opinião importante para investidores que acompanham o Brasil. Embora não se trate de uma previsão catastrófica, o estudo mostra que os desafios fiscais e externos do país são reais, persistentes e de solução complexa.

📈 Em um ambiente global cada vez mais seletivo, com investidores exigindo mais dos mercados emergentes, o Brasil parece estar ficando para trás. E, como bem resume o título da publicação da BCA Research: “Brasil: not worth the risk”.