Após operação no RJ, Senado se movimenta para criar CPI do crime organizado

Comissão Parlamentar de Inquérito será instaurada na próxima semana, em Brasília.

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Publicado em 30/10/2025 às 11:16h - Atualizado Agora Publicado em 30/10/2025 às 11:16h Atualizado Agora por Wesley Santana
Senadores vão atuar ao longo de quatro meses para investigar milicias e facções (Imagem: Lula Marques/Agência Brasil)
Senadores vão atuar ao longo de quatro meses para investigar milicias e facções (Imagem: Lula Marques/Agência Brasil)

O Senado Federal deve instalar, na próxima terça-feira (4), uma CPI para investigar o crime organizado no Brasil. A decisão acontece na mesma semana em que o Rio de Janeiro foi alvo de uma megaoperação que matou mais de 110 pessoas, de acordo com as estatísticas oficiais, entre membros de facções e policiais em serviço.

Segundo o presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (União), os trabalhos da Comissão vão investigar a expansão de milícias e de facções criminosas no país. O colegiado terá 120 dias para funcionar em Brasília, sendo composto por 11 senadores titulares e sete suplentes.

“Determinei a instalação da CPI do Crime Organizado para a próxima terça-feira (4), em entendimento com o senador Alessandro Vieira. A comissão irá apurar a estruturação, a expansão e o funcionamento do crime organizado, com foco na atuação de milícias e facções. É hora de enfrentar esses grupos criminosos com a união de todas as instituições do Estado brasileiro, assegurando a proteção da população diante da violência que ameaça o país”, disse Alcolumbre em nota.

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O presidente do Senado já indicou alguns dos senadores que devem compor a CPI, dando destaque à oposição do governo federal. Flávio Bolsonaro (PL), Sérgio Moro (União), Marcos do Val (Podemos), Magno Malta (PL) e Eduardo Girão (Novo) já constam na lista divulgada pela Casa. Entre os governistas, o time conta com Jaques Wagner (PT), Otto Alencar (PSD), Jorge Kajuru (PSB) e Alessandro Vieira (MDB).

Caberá aos senadores investigar o modus operandi do crime organizado, “bem como as respectivas estruturas de tomada de decisão, de modo a permitir a identificação de soluções adequadas para o seu combate, especialmente por meio do aperfeiçoamento da legislação atualmente em vigor”, completou Alcolumbre.

Ainda não se sabe quem vai assumir a principal cadeira da CPI, que é a de presidente. No entanto, os nomes mais cotados são de ex-delegados que hoje atuam como parlamentares, como Alessandro e Fabiano.

Críticas ao governo

Vieira foi quem entrou com o pedido de instalação da CPI, argumentando que os governos não sabem como combater o crime organizado. Em entrevista nesta quinta (30), ele disse que essa falta de coordenação ficou ainda mais evidente depois da megaoperação realizada no RJ.

“Se tem uma coisa que ficou muito clara depois dessa semana é que nem no governo federal nem em muitos governos estaduais se tem a menor ideia do que fazer. Não existe um planejamento centralizado e minimamente organizado que nos leve a ter uma esperança de melhora no médio ou longo prazo”, afirmou o senador em entrevista à GloboNews.

A ideia, segundo ele, é investigar, mas também propor estratégias para que a União e os governos estaduais — que são responsáveis pela segurança pública — possam atuar contra as facções que dominam diversos estados do país. Ele afirmou que, se for indicado como presidente da CPI, pretende convidar nomes experientes, com projetos que deram certo dentro e fora do país, para servir de exemplo.

“Vamos trazer autoridades como secretários, técnicos e governadores de estados que estão funcionando, tanto no Brasil como fora, de combate à criminalidade violenta que deram certo. Essas respostas a CPI deve alinhar e, com esse conjunto, proporcionar ao Brasil um endereçamento de encaminhamentos, como reforço orçamentário expressivo, plano nacional de segurança verdadeiro, integração na situação de prevenção e repressão — e ela não precisa de PEC”, afirmou.

Atualização da megaoperação

Na manhã desta quinta, a Polícia Civil do Rio de Janeiro atualizou o número de vítimas na operação realizada na última terça. Segundo os dados oficiais, 121 pessoas foram mortas nesta que já é considerada a ação policial mais letal da história do RJ.

A Operação Contenção ocorreu ao longo da terça, quando cerca de 2,5 mil agentes policiais entraram nos Complexos do Alemão e da Penha para prender suspeitos de integrarem o Comando Vermelho. No total, foram presas 113 pessoas, além de 118 armas — sendo 91 fuzis —, 14 artefatos explosivos e uma grande quantidade de drogas.

A estratégia da Polícia foi criar o chamado “muro do Bope”, em que os bandidos ficaram encurralados em uma região de mata fechada entre as duas comunidades cariocas. Na tentativa de fugir dos agentes, eles foram levados a um lugar onde não havia moradores, o que facilitou a incursão dos militares contra os suspeitos.

"O que a gente traz de diferente nessa operação, em que as imagens mostram marginais da lei, narcoterroristas fortemente armados que buscavam refúgio na área de mata dessa região, foi a incursão dos agentes do Bope na área mais alta da montanha da Serra da Misericórdia, que divide esses dois complexos. Criamos o que a gente chamou de 'Muro do Bope', ou seja, policiais impulsionados nessa área fazendo com que os marginais fossem empurrados, através das nossas incursões, para áreas mais altas", disse o secretário da Polícia Militar, Marcelo Menezes.