Commodities agrícolas: oportunidades, riscos e estratégias de investimento

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Publicado em 26/12/2025 às 14:58h - Atualizado Agora Publicado em 26/12/2025 às 14:58h Atualizado Agora por Carlos Filadelpho
Commodities agrícolas: oportunidades, riscos e estratégias de investimento - Imagem: Shutterstock
Commodities agrícolas: oportunidades, riscos e estratégias de investimento - Imagem: Shutterstock

As commodities agrícolas estão entre os ativos mais relevantes da economia global. E o Brasil, como potência agroexportadora, tem papel central nesse cenário. 

Para quem deseja diversificar a carteira de investimentos e aproveitar as oportunidades do agronegócio, entender como funciona o mercado de commodities agrícolas é fundamental.

Neste artigo, você vai descobrir o que são esses ativos, como funciona sua negociação, quais fatores influenciam os preços e, principalmente, como investir de forma estratégica.

O que são commodities agrícolas?

As commodities agrícolas são produtos de origem natural, cultivados em larga escala e com baixo nível de industrialização, como soja, milho, café e algodão. Por serem bens padronizados e homogêneos, não apresentam diferenciação relevante entre produtores, o que facilita sua negociação em mercados organizados.

Esses produtos são essenciais para setores como:

  • Alimentação

  • Indústria têxtil

  • Energia (biocombustíveis)

  • Indústria farmacêutica

A negociação ocorre tanto no mercado físico quanto no mercado futuro, em bolsas como a B3.

Por que investir em commodities agrícolas?

Investir em commodities agrícolas pode ser uma estratégia inteligente por diversos motivos. Veja os principais:

  • Diversificação da carteira: Commodities têm comportamento distinto de ações e renda fixa, ajudando a reduzir riscos.

  • Proteção contra inflação: Em muitos casos, os preços das commodities sobem com a inflação, funcionando como uma espécie de hedge.

  • Alta demanda global: Alimentos e matérias-primas são essenciais em qualquer economia, o que garante demanda constante.

  • Força do Brasil no setor: O país é líder mundial na produção de diversos produtos agrícolas, o que gera oportunidades para investidores locais.

Por sinal, é justamente de olho nessas características, que muitos investidores estão alocando recursos no setor agrícola, como estratégia para diversificação da carteira.

Como funciona o mercado de commodities agrícolas?

O funcionamento do mercado de commodities agrícolas envolve produção, comercialização e negociação em bolsa. Vamos entender cada etapa:

Produção rural

A cadeia começa no campo, dependendo de fatores como clima, tecnologia, crédito rural, fertilidade do solo e políticas públicas.

Comercialização e exportação

Após a colheita ou abate, os produtos são vendidos no mercado interno ou externo. O Brasil é destaque mundial na exportação de soja, milho, café, açúcar e proteínas animais, atendendo mercados como China, Europa e Estados Unidos.

Negociação em bolsas

Grande parte das commodities é negociada por meio de contratos futuros, que permitem:

  • Hedge para produtores

  • Exposição especulativa ou estratégica para investidores

Os preços variam conforme:

  • Oferta e demanda global

  • Estoques internacionais

  • Condições climáticas

  • Câmbio (dólar x real)

  • Cenário geopolítico

Principais tipos de commodities agrícolas

As commodities agrícolas são classificadas conforme sua origem e utilização. Veja as principais categorias:

  1. Grãos e cereais
  • Soja: Usada para produção de óleo, farelo e ração.
  • Milho: Base da alimentação humana e animal, além de fonte de etanol.
  • Trigo: Essencial na produção de pães, massas e biscoitos
  1. Produtos agroindustriais
  • Açúcar: Utilizado na alimentação e como fonte de biocombustível.
  • Café: Grão que dá origem a uma das bebidas mais consumidas no mundo.
  • Cacau: Base para chocolates e cosméticos.
  1. Fibras e derivados
  • Algodão: Essencial para a indústria têxtil.
  • Borracha natural: Usada na fabricação de pneus e equipamentos industriais.
  1. Proteínas animais
  • Carne bovina: Proteína premium com forte demanda na Ásia.
  • Carne de frango: Campeã de exportações no Brasil.
  • Carne suína: Muito consumida na China e Europa.
  • Leite e derivados: Utilizados para produção de queijos, leite em pó e manteiga.
  1. Oleaginosas e óleos vegetais
  • Óleo de soja: Usado na culinária e na indústria de alimentos.
  • Óleo de palma: Muito presente em cosméticos e alimentos industrializados.

Saiba mais: O que são commodities: guia completo para investir

O que influencia o preço das commodities agrícolas?

O mercado agrícola é dinâmico e sujeito a diversos fatores que afetam diretamente o preço das commodities, dentre os quais, podemos destacar:

Clima e fenômenos naturais: Secas, geadas, excesso de chuvas ou pragas podem prejudicar safras inteiras. Fenômenos como o El Niño ou La Niña têm impacto global sobre a produção.

Câmbio: Como a maior parte das commodities é cotada em dólar, a variação da moeda impacta diretamente os preços. Quando o real se desvaloriza, as exportações se tornam mais competitivas.

Estoques e safra mundial: Relatórios de estoques globais (como os do USDA) influenciam a percepção de escassez ou abundância, impactando diretamente os contratos futuros.

Demanda internacional: Crescimento populacional, mudanças nos hábitos alimentares e industrialização em países emergentes afetam a demanda por alimentos e matérias-primas.

Conflitos e políticas comerciais: Guerras, embargos, tarifas de exportação e acordos comerciais podem distorcer o mercado, afetando oferta e demanda.

Como investir em commodities agrícolas?

 Imagem: Shutterstock

Se você deseja investir nesse setor, existem diferentes caminhos, desde o mercado financeiro, a investimentos diretos em empresas do agronegócio. Confira:

1. Contratos futuros

Negociados na B3, os contratos futuros permitem especular sobre a alta ou baixa dos preços, sendo indicados para investidores com perfil arrojado e conhecimento técnico.

Vantagens:

  • Alavancagem financeira.
  • Alta liquidez.
  • Proteção (hedge).

Desvantagens:

  • Alta volatilidade.
  • Risco elevado.

2. Fundos de investimento

Existem fundos de investimento que aplicam em commodities ou ativos relacionados ao setor agrícola (fundos de ações agro, fundos multimercado com exposição agrícola).

Vantagens:

  • Gestão profissional.
  • Diversificação.

Desvantagens:

  • Taxas de administração.
  • Dependência da estratégia do gestor.

3. Ações de empresas do agronegócio

Você pode investir em companhias listadas na B3 com forte atuação no setor, dentre elas:

Vantagens:

  • Participação no crescimento do agronegócio.
  • Possibilidade de receber dividendos.

Desvantagens:

  • Volatilidade de mercado.
  • Riscos setoriais (clima, regulação, demanda).

4. ETFs e fundos internacionais

Por fim, existem ETFs internacionais que replicam o desempenho de índices agrícolas. 

Apesar de ainda pouco disponíveis no Brasil, esses ETFs também podem ser acessados via corretoras com conta internacional.

Principais commodities agrícolas do Brasil

O Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo, sendo referência global na produção e exportação de diversas commodities. 

A seguir, você confere as principais commodities agrícolas brasileiras, com destaque para volume de exportação, aplicações e mercados consumidores:

Soja

A soja é a commodity agrícola mais relevante do Brasil e representa a espinha dorsal do agronegócio nacional.

  • Participação nas exportações: Em 2024, a soja foi responsável por 40,7% de todas as exportações do agronegócio brasileiro, movimentando bilhões de dólares.

  • Produtos derivados: A soja é processada para gerar farelo, utilizado como ração animal, óleo de soja, usado na alimentação e na indústria, e também como matéria-prima para biocombustíveis.

  • Destino das exportações: A China é o principal comprador da soja brasileira, consumindo grandes volumes para abastecer sua indústria de proteína animal.

  • Fatores de valorização: A crescente demanda por proteínas no mercado asiático impulsiona a procura por soja, já que ela é essencial na alimentação de aves e suínos.

Além do volume, o Brasil se destaca pela tecnologia no campo, logística de exportação e expansão contínua da área plantada.

Milho

O milho é outra commodity estratégica, com grande importância no mercado interno e externo.

  • Alimentação animal: É a base da ração para bovinos, aves e suínos, sendo essencial para a cadeia produtiva da carne.

  • Biocombustível: Também é matéria-prima para a produção de etanol de milho, que vem crescendo como alternativa energética no Brasil e nos EUA.

  • Exportações em alta: O milho brasileiro teve crescimento expressivo nas exportações em 2024, com destaque para mercados na Ásia e no Oriente Médio.

  • Competitividade: O Brasil disputa com os Estados Unidos a liderança no mercado mundial de milho, beneficiado pelo clima tropical e colheitas em diferentes épocas do ano.

Com o avanço tecnológico no campo, o milho brasileiro vem ganhando mais produtividade e espaço no cenário global.

Café

O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, sendo referência histórica nesse mercado.

  • Participação global: O país é responsável por cerca de 35% da produção mundial de café.

  • Tipos exportados: O destaque vai para o café arábica, conhecido por seu sabor mais suave e valorizado nos mercados dos Estados Unidos, Europa e Japão.

  • Versatilidade de consumo: O café brasileiro está presente em mais de 100 países, em versões gourmet, solúvel, torrado e em cápsulas.

  • Valor agregado: Além da commodity bruta, o Brasil vem ampliando a exportação de cafés especiais, com maior valor por saca e certificações de origem.

A estabilidade da produção, o clima favorável e os investimentos em qualidade mantêm o Brasil na liderança mundial desse mercado.

Carne bovina

O Brasil também se destaca como o maior exportador de carne bovina do mundo, com uma cadeia produtiva robusta e altamente competitiva.

  • Qualidade reconhecida: A carne bovina brasileira é valorizada globalmente pela nutrição do rebanho, extensão de pastagens e controle sanitário.

  • Mercados estratégicos: A China, que responde por mais de 50% das exportações brasileiras, é o principal destino, seguida por países do Oriente Médio, Europa e América do Sul.

  • Receita expressiva: Em 2024, a exportação de carne bovina gerou cerca de US$ 11,8 bilhões, o que representa 14,3% de todas as exportações do agro brasileiro.

  • Expansão do consumo global: O aumento da renda per capita em países emergentes continua impulsionando a demanda por proteínas de alta qualidade.

O setor também tem investido em rastreabilidade e sustentabilidade, fatores cada vez mais exigidos por mercados desenvolvidos.

Açúcar

Açúcar e etanol formam um dos complexos agroindustriais mais importantes do Brasil, com enorme peso nas exportações.

  • Origem: O açúcar brasileiro é extraído principalmente da cana-de-açúcar, com processamento em usinas localizadas no Centro-Sul do país.

  • Usos industriais: Além do consumo alimentar, o açúcar é base para a produção de etanol combustível, tornando o Brasil referência em energia renovável.

  • Liderança mundial: O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do planeta, com forte atuação na Ásia, Europa e África.

  • Vantagens competitivas: A combinação de clima favorável, grandes áreas de cultivo e integração com o etanol dá ao Brasil um dos menores custos de produção do mundo.

  • Exportações em 2024: O volume exportado manteve o Brasil na liderança global, com destaque para a Índia, Indonésia e Irã entre os principais compradores.

Além disso, o açúcar brasileiro vem conquistando espaço no mercado de açúcares orgânicos e sustentáveis, agregando valor à commodity.

Quais os riscos de investir em commodities agrícolas?

Embora o investimento em commodities agrícolas ofereça grandes oportunidades de retorno, é importante destacar que esse mercado carrega uma série de riscos específicos. 

Por sua vez, conhecer tais riscos é essencial para tomar decisões mais conscientes e proteger seu capital.

Volatilidade de preços

Um dos principais riscos é a alta volatilidade. Os preços das commodities agrícolas podem oscilar fortemente em curtos períodos, tanto por fatores sazonais quanto por eventos inesperados.

  • Uma notícia sobre quebra de safra nos EUA pode elevar o preço da soja em poucas horas.

  • Por outro lado, uma colheita recorde no Brasil pode derrubar os preços do milho ou do café.

Essa instabilidade pode ser vantajosa para traders experientes, mas representa risco elevado para investidores iniciantes ou com perfil mais conservador.

Exposição ao clima

A produção agrícola está diretamente ligada às condições climáticas, incluindo fenômenos como:

  • Secas prolongadas;

  • Chuvas excessivas;

  • Geadas;

  • Pragas e doenças agrícolas;

Esses fatores podem afetar drasticamente o rendimento das lavouras. Isso impacta diretamente a oferta do produto no mercado, gerando flutuações nos preços e prejuízos operacionais para empresas do setor.

Mesmo com uso de tecnologias de previsão e gestão agrícola, o clima ainda é um fator imprevisível que influencia o desempenho dos ativos ligados ao agro.

Risco cambial

Como a maior parte das commodities é negociada em dólar, qualquer variação na cotação da moeda americana pode afetar os resultados dos investimentos.

  • Alta do dólar: Beneficia os exportadores, pois aumenta a receita em reais.

  • Queda do dólar: Reduz o valor recebido nas exportações, afetando a lucratividade das empresas.

Quem investe em ações de empresas agrícolas ou em contratos futuros precisa ficar atento à volatilidade do câmbio, especialmente em países como o Brasil, onde o real é uma moeda emergente e sensível a fatores externos.

Intervenção política e regulatória

O setor agrícola é frequentemente impactado por decisões políticas, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Entre os riscos possíveis estão:

  • Alterações em incentivos fiscais e subsídios agrícolas;

  • Imposição de taxas de exportação ou barreiras comerciais;

  • Embargos sanitários por questões fitossanitárias;

  • Reformas legislativas que alteram a carga tributária do setor.

Essas medidas podem mudar rapidamente o ambiente de negócios para produtores e exportadores, afetando diretamente o desempenho das empresas e dos fundos que atuam no agro.

Risco operacional e de gestão

Investir diretamente em empresas agrícolas também exige atenção à gestão dos negócios. Uma companhia pode ser impactada por fatores como:

  • Endividamento elevado;

  • Baixa eficiência na produção;

  • Problemas logísticos e de escoamento;

  • Falta de governança ou transparência.

Por isso, ao investir em ações do setor ou fundos agro, é muito importante analisar os indicadores fundamentalistas, histórico de gestão e estratégias de mitigação de riscos adotadas pelas empresas.

Vale a pena investir em commodities agrícolas?

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Diante dos riscos apresentados, a dúvida que fica é: vale a pena investir nesse setor?

A resposta é: sim, desde que o investimento esteja alinhado ao seu perfil e aos seus objetivos financeiros.

Investir em commodities agrícolas pode ser altamente vantajoso por vários motivos, dentre os quais, podemos destacar:

  • Diversificação: Os ativos agrícolas têm comportamento diferente de ações, FIIs e renda fixa, ajudando a reduzir a correlação e os riscos da carteira.

  • Proteção contra a inflação: Em momentos de alta inflacionária, os preços dos alimentos e insumos agrícolas tendem a subir, favorecendo as commodities.

  • Exposição a um setor essencial: A alimentação global é uma necessidade básica e contínua, o que torna o setor agrícola resiliente a longo prazo.

  • Potencial de crescimento no Brasil: O país tem vantagens naturais (clima, solo e tecnologia) e um mercado externo em expansão, especialmente na Ásia.

No entanto, apesar das vantagens, é fundamental considerar alguns pontos antes de investir:

  • Perfil de risco: Commodities podem ser muito voláteis. Avalie se você tem perfil moderado ou arrojado para lidar com oscilações.

  • Horizonte de investimento: Ativos do agro podem ter melhor desempenho no longo prazo, sendo menos indicados para especulações de curto prazo (exceto para traders experientes).

  • Tipo de ativo: Contratos futuros são mais arriscados; fundos e ações oferecem exposição indireta com menor complexidade.

  • Momento de mercado: Preços já muito elevados ou instabilidades globais podem alterar o risco-benefício do investimento.

Por isso, antes de investir, estude o mercado, acompanhe relatórios da Conab, USDA, e as cotações em bolsas como CBOT (Chicago Board of Trade) e B3. 

Com conhecimento, análise e cautela, as commodities agrícolas podem ser uma peça importante na sua estratégia de diversificação e geração de valor no longo prazo.

Saiba mais: Ações de commodities: entenda o que são e as principais empresas na B3

Conclusão: oportunidade em meio à volatilidade

As commodities agrícolas ocupam um papel central na economia global e representam uma oportunidade relevante para investidores que buscam diversificação, proteção contra a inflação e exposição a um setor essencial e resiliente

Apesar da volatilidade e dos riscos inerentes, como clima, câmbio e fatores geopolíticos, o agronegócio segue sendo um dos pilares do crescimento econômico, especialmente no Brasil.

Entretanto, investir nesse mercado exige conhecimento, acompanhamento constante de indicadores e escolha criteriosa dos instrumentos financeiros, seja por meio de contratos futuros, fundos, ações ou ETFs. 

Quando bem planejada e alinhada ao perfil do investidor, a exposição às commodities agrícolas pode contribuir para equilíbrio da carteira, geração de valor no longo prazo e melhor leitura do cenário macroeconômico.

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