Uso de armas nucleares volta à pauta na Rússia após ataques ucranianos; entenda

Segundo fontes próximos ao Kremlin, o ataque ucraniano renovou o debate sobre a necessidade de Moscou reafirmar sua soberania militar.

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Publicado em 04/06/2025 às 15:03h - Atualizado 1 dia atrás Publicado em 04/06/2025 às 15:03h Atualizado 1 dia atrás por Matheus Silva
Apesar da pressão crescente, o Kremlin tem mantido um tom cauteloso (Imagem: Shutterstock)
Apesar da pressão crescente, o Kremlin tem mantido um tom cauteloso (Imagem: Shutterstock)

🚨 O recente sucesso da Ucrânia com a chamada "Operação Teia de Aranha", que realizou ataques coordenados em profundidade no território russo, reabriu uma discussão delicada no país: o possível uso de armas nucleares como resposta.

Segundo fontes e analistas próximos ao Kremlin, o ataque renovou o debate nacional sobre a necessidade de Moscou reafirmar sua soberania militar diante de uma escalada que já se arrasta por mais de dois anos.

Desta vez, a discussão não está restrita a ameaças veladas — há quem defenda abertamente a adoção de medidas drásticas.

A doutrina nuclear revisada

A postura russa sobre o emprego de armamento nuclear foi alterada desde o início da guerra na Ucrânia.

Antes restrita a respostas contra ataques nucleares ou ameaças existenciais diretas, a doutrina revisada em 2024 inclui como justificativa ataques conduzidos por países não nucleares apoiados por potências nucleares — uma menção direta ao suporte militar fornecido por Estados Unidos e União Europeia à Ucrânia.

Dentro desse novo cenário, vozes influentes do setor de defesa russo passaram a defender uma reação extrema aos novos ataques ucranianos.

Um dos principais canais militares da Rússia, o “Two Majors”, com mais de um milhão de seguidores no Telegram, publicou que o episódio não apenas fornece um pretexto, mas uma “razão legítima” para um ataque nuclear, sugerindo que o bombardeio seria um alerta definitivo.

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Da internet para a TV estatal

O apelo ao uso de armas nucleares não ficou restrito às redes sociais. Vladmir Solovyov, um dos principais apresentadores da TV estatal russa e aliado próximo do presidente Vladimir Putin, também sugeriu publicamente que os ataques representam motivo suficiente para uma retaliação atômica.

Solovyov, que já havia defendido escaladas nucleares em episódios anteriores, é um porta-voz importante das posições mais agressivas dentro da elite política e militar russa.

Desde 2022, ele é alvo de sanções da União Europeia por apoiar abertamente a invasão da Ucrânia.

Resposta cautelosa do Kremlin

Apesar da pressão crescente, o Kremlin tem mantido um tom cauteloso. Após os ataques — que atingiram áreas sensíveis, incluindo regiões do Ártico e da Sibéria —, a resposta oficial foi discreta: Moscou prometeu uma investigação interna e manteve sua participação em eventos diplomáticos, como uma reunião recente na Turquia.

Esse silêncio, no entanto, não descarta uma retaliação mais severa. Em setembro do ano passado, o próprio Putin declarou que a Rússia poderia considerar o uso de armas nucleares em caso de ataque massivo com mísseis convencionais.

Ainda assim, a vida em Moscou segue quase inalterada. Não há alertas de ataque aéreo ou movimentações emergenciais, e o ministro de Situações de Emergência, Alexander Kurenkov, apenas recomendou à população que “mantenha a calma”.

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Sinais contraditórios

Enquanto os drones ucranianos atingem pontos estratégicos, o Kremlin parece interessado em manter uma imagem de normalidade.

Após o recente ataque à ponte que liga a Crimeia à Rússia continental, Moscou minimizou os danos, e o governo reafirmou a continuidade dos compromissos diplomáticos.

A Rússia também está avançando com uma troca de prisioneiros acordada com a Ucrânia, envolvendo 1.000 combatentes (500 de cada lado), prevista para o fim de semana. Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, confirmou que o acordo foi reafirmado por Moscou.

💣 O ambiente atual é de grande tensão, mas também de incerteza. De um lado, há uma pressão interna crescente para uma resposta que reafirme a força militar da Rússia; de outro, o Kremlin adota cautela, consciente dos riscos catastróficos de uma escalada nuclear.