EUA critica "tarifas altas" do Brasil, sobretudo sobre etanol, filmes e bebidas

Prestes a anunciar novas tarifas, o governo americano listou as barreiras comerciais impostas pelo Brasil e outros 59 países aos produtos americanos.

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Publicado em 01/04/2025 às 08:21h - Atualizado 19 horas atrás Publicado em 01/04/2025 às 08:21h Atualizado 19 horas atrás por Marina Barbosa
Trump promete anunciar tarifas recíprocas a "todos os países" nesta 4ª feira (Imagem: Shutterstock)
Trump promete anunciar tarifas recíprocas a "todos os países" nesta 4ª feira (Imagem: Shutterstock)

O Brasil corre o risco de ser um dos grandes afetados pelas tarifas recíprocas prometidas para esta quarta-feira (2) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

💲 Isso porque, na avaliação do governo americano, o Brasil "impõe tarifas relativamente altas" sobre as importações de diversos produtos, o que "torna difícil para os exportadores dos Estados Unidos" fazer negócios no país.

A conclusão consta em um relatório de 397 páginas publicado nessa segunda-feira (31) pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos.

Conforme solicitado por Trump, o documento faz uma análise detalhada sobre as tarifas e barreiras comerciais que uma série de países impõe aos produtos americanos e reserva seis páginas apenas para o Brasil.

"O Brasil impõe tarifas relativamente altas sobre importações em uma ampla gama de setores, incluindo automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, máquinas industriais, aço e têxteis e vestuário", diz o relatório.

📊 O governo americano diz que o Brasil aplicava uma tarifa média de 11,2% aos produtos importados em 2023. Contudo, ressalta que as tarifas podem chegar a 35% para produtos não agropecuários e a 55% para produtos agrícolas.

Além disso, o documento alega que "as taxas consolidadas do Brasil são frequentemente muito mais altas do que suas taxas aplicadas" e diz que "os exportadores dos EUA enfrentam incertezas significativas no mercado brasileiro porque o governo frequentemente modifica as taxas tarifárias dentro das flexibilidades do Mercosul".

O estudo americano, no entanto, contrasta com os cálculos da indústria e do governo brasileiro. Segundo a CNI (Confederação Nacional de Indústria), o Brasil aplicava uma tarifa real de importação de 2,3% sobre os produtos americanos em 2023.

Etanol, bebidas e filmes na mira dos EUA

No relatório publicado nessa segunda-feira (31), o governo dos Estados Unidos queixa-se especialmente das tarifas aplicadas pelo Brasil à importação de etanol, bebidas alcóolicas, filmes e outras produções audiovisuais.

🏭 O documento ainda lembra que o governo brasileiro impõe restrições à entrada de certos tipos de bens remanufaturados, como equipamentos de terraplenagem, peças automotivas e equipamentos médicos.

A importação de bens de consumo usados, a exemplo de automóveis, equipamentos médicos e produtos de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), também geralmente é restrita.

De acordo com o texto, produtores de calçados, vestuário, automóveis e equipamentos pesados ainda se queixaram dos sistemas de licenciamento brasileiro.

Já o governo americano ressaltou que o mercado brasileiro segue fechado para a carne de porco dos Estados Unidos. Além disso, questionou as regras impostas a instituições financeiras e operadores de satélite estrangeiros.

O documento ainda fala sobre o sistema de compras governamentais brasileiro, que costuma dar preferência a empresas brasileiras ou pedir contrapartidas a produtores estrangeiros, como a fabricação nacional de parte dos equipamentos de saúde e defesa comprados no exterior. O objetivo dessas regras é estimular a indústria e a economia brasileira -ou seja, algo semelhante ao que Trump vem tentando fazer nos Estados Unidos com as tarifas.

Tarifas recíprocas

O relatório americano vem na véspera do 2 de abril, data em que Donald Trump promete anunciar tarifas recíprocas para todos as parceiros comerciais dos Estados Unidos e vem sendo chamado de "Dia da Libertação" pelo republicano.

O plano de Trump é cobrar tarifas semelhantes às que outros países cobram dos produtos americanos, de forma a proteger e estimular a indústria americana. Por isso, o presidente americano havia encomendado um estudo sobre essas tarifas para poder confirmar a taxação nesta quarta-feira (2).

No domingo (31), Trump disse que as tarifas recíprocas devem afetar "todos os países", descartando a hipótese de a taxação afetar apenas os países com os quais os Estados Unidos têm déficits comerciais maiores.

O relatório do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos dá força a esse plano, ao argumentar que barreiras comerciais afetam as exportações do país, já que elevam os custos dos produtos americanos em mercados estrangeiros.

"Essas práticas comerciais desleais prejudicam a competitividade dos exportadores dos EUA e, em alguns casos, impedem que os bens dos EUA entrem totalmente no mercado estrangeiro", diz o documento.

Ao apresentar o relatório, o chefe do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, acrescentou que o governo Trump está trabalhando para "abordar essas práticas injustas e não recíprocas, ajudando a restaurar a justiça e a colocar as empresas e os trabalhadores americanos em primeiro lugar no mercado global".

O tarifaço prometido por Donald Trump, no entanto, vem elevando o temor de uma recessão nos Estados Unidos. Analistas avaliam que as tarifas devem pressionar a inflação e, consequentemente, os juros americanos. Por isso, mercados de todo o mundo tiveram um dia de perdas nessa segunda-feira (31), na expectativa pelas tarifas.