Economia global se prepara para freada brusca e Brasil pode levar a “pior”, diz FGV
O protecionismo pode trazer implicações negativas para o Brasil, que tem os EUA como um de seus principais mercados.

🚨 A economia mundial dá sinais claros de desaceleração, e o Brasil pode sofrer impactos diretos desse movimento.
O alto custo do dinheiro, a inflação persistente e a instabilidade política no cenário nacional são fatores que agravam ainda mais a situação econômica do país, segundo especialistas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).
Durante o I Seminário de Análise Conjuntural, realizado em parceria com o Estadão, economistas apontaram que as políticas protecionistas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também podem afetar o desempenho brasileiro, sobretudo no setor siderúrgico.
Protecionismo de Trump e a incerteza global
José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, vê com ceticismo a capacidade de Trump cumprir sua promessa de fortalecer a indústria americana.
Para ele, "a chance de que Trump alcance o objetivo de ‘fazer a América grande novamente’ (...) é quase zero".
O protecionismo em relação ao aço e ao alumínio pode trazer implicações negativas para o Brasil, que tem os EUA como um de seus principais mercados para exportação desses produtos.
A insegurança causada por reviravoltas políticas também é um fator relevante. Senna cita o próprio acordo comercial entre Canadá, México e Estados Unidos, assinado na primeira administração de Trump, que foi desfeito e renegociado posteriormente.
"Como confiar em um país que altera suas próprias regras comerciais?", questiona o economista.
Inflação desafia a política econômica
No cenário doméstico, a inflação brasileira segue pressionada, tornando o ambiente econômico ainda mais desafiador.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua apresentando alta, dificultando os esforços do Banco Central para conter a escalada dos preços.
O pesquisador Armando Castelar, do Ibre/FGV, observa que "há um processo de desaceleração econômica, mas, ao mesmo tempo, a inflação segue bastante alta".
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O cenário fiscal também preocupa. Castelar lembra que "a própria ministra do Planejamento (Simone Tebet) disse nesta semana que o arcabouço fiscal não é sustentável daqui a dois anos".
Isso coloca um alerta sobre a necessidade de ajustes para evitar um aumento ainda maior no endividamento público.
Crescimento do PIB pode surpreender no 1º trimestre
Apesar do quadro de incerteza, o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre de 2025 pode surpreender positivamente, impulsionado pelo setor agropecuário e pelo consumo.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, destaca que "o Brasil ainda está crescendo acima do potencial" e prevê um PIB em torno de 1,7% para o ano.
Entretanto, ela faz uma ressalva sobre o ritmo de consumo das famílias, que pode ser afetado por medidas do governo para estimular a demanda.
"Se o consumo não desacelerar, os efeitos sobre a inflação continuarão", explica Matos.
Banco Central deve pausar alta da Selic após maio
📊 O Comitê de Política Monetária (Copom) enfrenta um dilema na condução da taxa de juros.
José Júlio Senna acredita que o Banco Central terá de interromper a elevação da Selic após maio, argumentando que "não há espaço para levar os juros a 17% ou 18%".
Segundo ele, a autoridade monetária precisa equilibrar o compromisso com a meta de inflação sem sufocar completamente a atividade econômica.
A expectativa do mercado para a reunião de maio do Copom é de uma alta de 50 pontos-base na taxa Selic. No entanto, Senna acredita que esse número pode ser maior, chegando a 75 pontos-base.
Ele alerta que "o fiscal não ajuda e a estabilidade de preços não parece ser prioridade do governo".
Risco fiscal e eleições
A questão fiscal continua sendo um dos principais fatores de preocupação para o mercado.
Armando Castelar ressalta que as contas públicas estão diretamente atreladas às expectativas eleitorais, e a possibilidade de mudanças na administração federal pode influenciar os preços dos ativos.
Ele lembra que, quando uma pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro mostrou aumento na rejeição ao governo Lula, "todos os ativos se valorizaram significativamente".
A tendência, segundo Castelar, é de que o governo adote medidas para ampliar sua popularidade, o que pode ter reflexos sobre a política fiscal.
💲 "Se o governo ganhar mais apoio popular, pode reduzir a pressão sobre os gastos públicos. Mas, paradoxalmente, isso pode gerar mais incertezas no mercado financeiro", pondera.

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