Dólar ultrapassa R$ 5 e deve seguir pressionado em 2023
Para mercado, moeda não cederá muito e pode até subir mais por causa da alta dos juros nos Estados Unidos
O dólar voltou a ficar acima dos R$ 5 nesta quarta-feira (27/09) e pode continuar rondando este patamar até o fim do ano, na avaliação de analistas. A valorização da moeda reflete, sobretudo, a perspectiva de juros altos nos Estados Unidos.
A moeda norte-americana oscilou entre R$ 4,987 e R$ 5,078 nesta quarta-feira (27/09), terminando o dia cotada a R$ 5,047, com alta de 1,22%. O valor de fechamento é o maior desde 31 de maio, quando o dólar foi a R$ 5,057. Também foi a primeira vez em que a divisa fechou acima dos R$ 5 desde 1º de junho.
O dólar, que era negociado por cerca de R$ 4,70 dois meses atrás, vem se fortalecendo por causa da perspectiva de que o Fed (Federal Reserve) elevará novamente os juros nos Estados Unidos e manterá a política contracionista pelo tempo que for necessário para que a inflação americana volte à meta anual de 2%.
Juros
O recado foi dado há uma semana, quando o Fed manteve sua taxa no intervalo entre 5,25% e 5,5%, mas indicou que este não era o fim do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos. Essa perspectiva, contudo, vem ganhando força à medida que dirigentes do banco central americano vêm reforçando essa orientação de maneira dura ao longo da semana.
Além disso, contribuem com a valorização do dólar a perspectiva de que os juros também continuarão altos na Zona do Euro e as incertezas sobre a economia chinesa, que aumentaram depois que a imobiliária Evergrande revelou ter novos problemas para o pagamento das suas dívidas.
A situação doméstica também tem participação neste movimento. Afinal, a perspectiva é de que o BC (Banco Central) continuará cortando a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. Isso aumentará o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, fazendo com que os investidores tendam a direcionar recursos para os títulos americanos, que estarão pagando mais juros do que pagam hoje e oferecem menos risco do que o mercado brasileiro.
O mercado acredita que a taxa Selic sofrerá mais dois cortes de 0,5 ponto percentual em 2023, fechando o ano em 11,75%. Já nos Estados Unidos, é esperado um novo aumento da taxa de juros ainda em 2023. Por isso, analistas dizem que essa tendência de migração de recursos para o mercado americano deve continuar nos próximos meses. É um movimento chamado de “fly to quality”.
“Questões fiscais e políticas domésticas à parte, o que direciona o mercado é o diferencial de juros. Há uma perspectiva de redução constante da Selic, mas o Fed dificilmente vai imprimir um ritmo de queda aos juros americanos agora. Então, naturalmente o dólar sobe”, falou o especialista em câmbio Fernando Bergallo, da FB Capital.
“Nesse cenário de balanço de riscos, há uma tendência natural de investidores migrarem para títulos norte-americanos. Isto é, de migração de recursos de países de maior risco para países de menor risco. Essa saída de moeda tem pressionado bastante o real, que tem se desvalorizado perante o dólar", afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Dólar pressionado
Diante desse cenário, o mercado avalia que o dólar continuará valorizado nos próximos meses. Alguns analistas já dizem, inclusive, que a moeda não voltará para o patamar de R$ 4,70, que vinha pautando as negociações há poucos meses. Pelo contrário, deve fechar o ano perto dos R$ 5 ou valendo até mais do que isso.
O economista André Perfeito, por exemplo, diz que o dólar deve seguir na casa dos R$ 5 na reta final de 2023. “Se os juros curtos nos Estados Unidos não vão cair, se os juros longos dos Estados Unidos vão continuar pressionados e se por aqui a perspectiva é de queda da Selic até 9% a ‘conta erro’, por assim dizer, será um dólar mais forte”, afirmou, citando a perspectiva para o fechamento da Selic em 2024.
Fernando Bergallo diz que a moeda pode até passar disso, chegando a R$ 5,15 ou R$ 5,20. Ele explica que, além da questão dos juros, o fluxo de recursos das multinacionais deve pressionar o câmbio nos últimos meses do ano. Afinal, nesta época, as multinacionais tendem a enviar lucros e dividendos para as suas sedes no exterior, reduzindo a oferta de dólar no Brasil.
“Dificilmente o dólar vai ceder. Houve uma janela boa de oportunidade para quem queria se dolarizar. Agora, dificilmente vamos voltar ao patamar de um mês atrás, seja pelo diferencial de juros, seja pela relação oferta demanda”, explicou.
Para ele, o dólar não deve ceder mais neste ano, mas também não deve passar de R$ 5,15 ou R$ 5,20, já que os juros continuam altos no Brasil, mesmo com os cortes da Selic.
Alex Agostini, por sua vez, vê o dólar fechando o ano em R$ 4,95. “Pode até ter um momento de alta ainda, mas a expectativa é que, quando o cenário internacional ficar mais claro, a moeda fique estável nesse patamar”, explicou.
Segundo o último Boletim Focus, o consenso do mercado também é que o dólar feche o ano em R$ 4,95. Alguns bancos, contudo, já apontam valores superiores. É o caso do Santander, que vê o dólar em R$ 5,10 no fim de 2023, e do Itaú, cuja projeção é de um câmbio de R$ 5 ao fim do ano.
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