Ataque especulativo contra o real? Veja o que dizem Haddad e Galípolo

Debate veio à tona diante da recente desvalorização do real, mas parece dividir até o governo.

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Publicado em 19/12/2024 às 14:46h - Atualizado 6 meses atrás Publicado em 19/12/2024 às 14:46h Atualizado 6 meses atrás por Marina Barbosa
Dólar atingiu R$ 6,30 nesta 5ª feira, mas recuou depois de intervenção do BC (Imagem: Shutterstock)
Dólar atingiu R$ 6,30 nesta 5ª feira, mas recuou depois de intervenção do BC (Imagem: Shutterstock)

A recente disparada do dólar gerou debates sobre um possível ataque especulativo contra o real. A dúvida é se há investidores forçando a desvalorização da moeda brasileira e, assim, ganhando dinheiro com isso. O assunto, no entanto, é polêmico e parece criar divisões até dentro do governo.

🗣️ Questionado sobre o assunto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não descartou a possibilidade de um ataque especulativo nessa quarta-feira (18). O próximo presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, por sua vez, disse nesta quinta-feira (19) que a ideia não representa bem o que está acontecendo no Brasil.

Veja o que disse Haddad:

"Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo. Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central."

E o que falou Galípolo:

"Eu acho que não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias. Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza uma direção, você tem vencedores e perdedores. Eu acho que a ideia de um ataque especulativo, enquanto algo coordenado, não representa bem."

O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, reforçou o entendimento do seu sucessor, dizendo que "o mercado é um conjunto de preços que tenta refletir opiniões que não são só de investidores financeiros, são do mundo real também".

Campos Neto disse ainda que há diferentes fatores pressionando o câmbio, para além das incertezas fiscais. Empresas multinacionais que operam no Brasil, por exemplo, costumam remeter lucros e dividendos para o exterior nesta época do ano, o que amplia a demanda por dólar. Contudo, esses lucros foram maiores neste ano, elevando o fluxo de dólares. Além disso, pessoas físicas também estariam enviando recursos ao exterior.

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Intervenção do BC

🏦 Segundo Roberto Campos Neto, essa "saída maior, atípica" de dólares justifica as recentes intervenções da autoridade monetária no câmbio. Ele ressaltou, no entanto, que o objetivo do BC não é defender um determinado valor para o dólar, mas combater disfuncionalidades no mercado.

"O Banco Central deve agir no câmbio quando entende que tem alguma disfuncionalidade no fluxo, por alguma operação pontual, alguma saída extraordinária ou algum fator de mercado", declarou. E reforçou: "Não tem nenhum desejo do Banco Central de proteger nenhum nível de câmbio".

Apesar disso, Campos Neto não descartou novas intervenções. Segundo ele "o BC tem muita reserva e vai atuar, se for necessário".

💵 O BC vem intervindo câmbio há seis pregões consecutivos e injetou US$ 8 bilhões no mercado só nesta quinta-feira (19). A autoridade monetária fez um leilão de US$ 3 bilhões na abertura da sessão e logo depois fez um novo leilão de US$ 5 bilhões.

Esta foi o maior leilão de dólares já realizado pelo BC desde o início da série histórica, em 1999. Com isso, o dólar opera em forte queda nesta quinta-feira (19). A moeda chegou a tocar na máxima histórica de R$ 6,30 no início da sessão, mas recuava 2,34% e era negociada por R$ 6,14 às 14h10.

Segundo Campos Neto, o leilão de US$ 5 bilhões foi realizado porque o BC observou uma "demanda muito maior do que o esperado" na primeira intervenção.