George Soros, o homem que quebrou o Banco da Inglaterra

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Publicado em 13/09/2023 às 09:27h - Atualizado 7 meses atrás Publicado em 13/09/2023 às 09:27h Atualizado 7 meses atrás por Redação
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Bilionário, filantropo e polêmico. Assim é George Soros, o investidor que ficou conhecido como o “homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Ele usou a maior parte da sua fortuna para abrir uma sociedade filantrópica e é criticado pela extrema direita por defender uma sociedade aberta e democrática. Nascido na Hungria em 1930, George Soros é filósofo, mas ingressou no mercado financeiro ainda jovem e fez fortuna ao empregar táticas arrojadas e especulativas de investimento a partir dos Estados Unidos. Segundo ele, um dos segredos para ter sucesso no mundo dos negócios é manter-se bem informado, seguir a intuição e aprender com os erros.

Trajetória

De família judia, o bilionário enfrenta questões humanitárias desde a infância. Registrado após o nascimento como György Schwartz, ele mudou de nome e recorreu a documentos falsos para se proteger dos ataques aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O recém batizado George Soros e sua família conseguiram passar ilesos pelos primeiros anos de guerra e ainda ajudaram outros judeus a escapar dos nazistas. Contudo, viram o cerco se fechar quando a Hungria rompeu com a Alemanha e foi invadida, em 1944. Pouco depois, a União Soviética tomou o controle do país e Soros deixou sua terra natal. Aos 17 anos, o húngaro seguiu para Londres. Trabalhando como porteiro ferroviário e garçom para bancar os estudos, ele ingressou na London School of Economics para estudar filosofia. Foi lá que conheceu o filósofo Karl Popper, autor do livro “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”. Popper defende que as sociedades só podem florescer quando abrem espaço para a democracia, a liberdade de expressão e o respeito pelos direitos individuais. Este pensamento atraiu Soros e, desde então, vem influenciado os projetos filantrópicos do bilionário. A instituição filantrópica que ele fundou anos depois, por sinal, chama-se Open Society Foundation. Depois de concluir a graduação e o mestrado em filosofia na London School of Economics, Soros pensava em escrever um livro, mas acabou ingressando no mercado financeiro. Ele começou como atendente em um banco de investimento de Londres e logo foi transferido para a área de negociação de ativos. Dois anos depois, em 1956, mudou-se para os Estados Unidos, onde fez fortuna.

O homem que quebrou o Banco da Inglaterra

Nos Estados Unidos, George Soros trabalhou em gestoras financeiras até que, em 1966, abriu seu próprio fundo de investimentos. Em 1970, inaugurou a própria gestora, a Soros Fund Management, com base em uma estratégia de altos investimentos com retorno de curto prazo. Depois de cerca de 20 anos de trabalho, ele de fato entrou na lista dos investidores mais famosos e bem-sucedidos do mundo. A grande aposta de Soros foi em 1992, quando operou pesado contra a libra esterlina. Ele dizia que a moeda estava supervalorizada e que eventualmente teria que ser desvalorizada, devido aos altos juros no Reino Unido e o desemprego também. Com isto em mente, Soros e seus parceiros investiram cerca de US$ 10 bilhões contra a libra. O Banco Central da Inglaterra e outras autoridades monetárias compraram libra para tentar impedir o colapso da divisa, mas não adiantou. Em 16 de setembro de 1992, uma quarta-feira, a libra colapsou. O Banco Central Europeu elevou a taxa básica de juros para 15% e anunciou a saída do sistema cambial europeu. O movimento, traumático para os ingleses, ficou conhecido como a Quarta-Feira Negra, ou Black Wednesday. Já Soros embolsou cerca de US$ 1 bilhão nesta empreitada e passou a ser chamado de “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Ele diz, contudo, que o título é injusto, porque não agiu sozinho. Depois disso, o bilionário continuou implementando uma estratégia arrojada de investimentos em seu fundo, que obteve altos retornos por anos. Em 2011, no entanto, o fundo foi fechado, como consequência de mudanças na regulação do mercado financeiro americano. A partir daí, o Soros Fund Management passou a gerir apenas recursos de familiares. Neste período de trade diário, Soros ainda desenvolveu a Teoria da Reflexividade. Segundo ele, os investidores não baseiam suas decisões na realidade, mas na sua própria percepção de realidade. As ações que resultam dessas percepções, contudo, acabam tendo um impacto real, afetando preços e as percepções dos investidores. É um círculo vicioso que, na visão de Soros, pode descolar os preços da realidade. Um exemplo citado pelo gestor e filósofo foi a bolha de especulação imobiliária que levou à crise de 2008.

Filantropia

George Soros ficou conhecido como o homem que quebrou o Banco da Inglaterra

O bilionário George Soros também é filósofo e filantropo. Foto: George Soros / Divulgação[/caption] George Soros está à frente de projetos filantrópicos que visam à propagação da democracia e dos direitos humanos desde 1979. Hoje, é fundador de uma fundação filantrópica que está presente em mais de 120 países, incluindo o Brasil, a Open Society Foundations. O bilionário começou este projeto concedendo bolsas de estudo a estudantes universitários da África do Sul durante o Apartheid. Logo depois, focou no seu país de origem, promovendo troca de ideias entre a Hungria comunista e o Ocidente. Em 1991, também fundou a Central European University como um espaço de pensamento crítico em Budapeste. Com o fim da Guerra Fria e o crescimento da sua fortuna, as ações foram se expandindo por todo o mundo, dando origem à Open Society Foundations. Hoje, a rede trabalha com o objetivo de promover princípios democráticos, direitos humanos e justiça, além de criar sociedades mais respeitáveis, transparentes e democráticas.

Fortuna

George Soros chegou a ter uma fortuna de US$ 25,2 bilhões em 2017, segundo a Forbes. Mas seu patrimônio reduziu-se a US$ 8 bilhões no ano seguinte, por causa de uma doação bilionária a sua própria instituição filantrópica, a Open Society Foundations. Em vídeo publicado no site da fundação, Soros diz que “tentar melhorar o mundo é mais difícil que fazer dinheiro”. Em 2023, ele registrava uma fortuna de US$ de 6,7 bilhões e ocupava a 393ª posição do ranking de bilionários da Forbes. “O meu sucesso nos mercados financeiros proporcionou-me um maior grau de independência do que a maioria das outras pessoas. Isto permite-me tomar posição sobre questões controversas: na verdade, obriga-me a fazê-lo”, explicou Soros.

Polêmico e alvo da direita

Além de financiar projetos que buscam promover a democracia e os direitos humanos pelo mundo, George Soros não se furta a criticar políticos e movimentos que seguem na direção contrária. Por isso, tornou-se alvo de militantes da extrema direita em todo o mundo, mas especialmente nos Estados Unidos. Os atritos políticos ganharam força depois que o bilionário condenou a Guerra ao Iraque e passou a fazer doações milionárias ao Partido Democrata. Mas as polêmicas ganharam força durante o governo de Donald Trump. À época, Soros foi relacionado a uma série de teorias da conspiração. Foi-se dito, por exemplo, que ele teria financiado um protesto, que acabou em confronto, contra um grupo de neonazistas na Virgínia em 2017. Ele também foi apontado como o financiador da caravana de imigrantes que marchou da Hungria aos Estados Unidos em 2018. Na esteira dessas acusações, uma bomba foi deixada na caixa de correio do bilionário, em Nova York. O explosivo foi encontrado por um dos funcionários de Soros e desativado pela polícia sem deixar feridos. Dias depois, um homem armado, que posteriormente se revelou obcecado por George Soros, invadiu uma sinagoga em Pittsburgh e assassinou 11 judeus. Ainda em 2018, Soros voltou a ser criticado na Inglaterra por ter feito uma doação milionária ao grupo Best for Britain, que tentava impedir a instalação do Brexit na Inglaterra. Em carta, ele disse que a proposta era um “erro trágico” que traria perdas econômicas tanto para a Inglaterra quanto para a União Europeia, além de enfraquecer a defesa dos valores democráticos. Ele ainda se envolveu em polêmicas em outras partes do mundo, inclusive na Hungria. Durante o Fórum Econômico Mundial de 2020, por exemplo, chamou de autoritários os governos da Rússia, China e Índia. Além disso, falou que o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro havia falhado na missão de evitar o desmatamento de florestas tropicais. Recentemente, até Elon Musk teceu críticas ao magnata húngaro. Com Soros sendo associado a teorias antissemitas, Musk disse que o filantropo queria destruir a humanidade. Como resposta, o húngaro se desfez das ações da Tesla que mantinha em seu portfólio.

Vida pessoal

George Soros teve 3 casamentos e 5 filhos, além de um caso amoroso que acabou nos jornais e na Justiça. Antes de conhecer a sua terceira e atual esposa, Tamiko Bolton; o bilionário teve um romance com a atriz brasileira Adriana Ferreyr, que participou da regravação da novela mexicana Marisol. Adriana conheceu Soros em Nova York, onde tentava expandir sua carreira artística, no início dos anos 2000. Depois que engataram um romance, o bilionário teria prometido a ela um apartamento em Nova York. Ele, no entanto, acabou conhecendo a atual esposa e entregando o imóvel para ela. Inconformada, Adriana levou o caso à Justiça, mas a questão acabou sendo arquivada depois de ela pedir uma indenização considerada alta demais.