Copom rachado e sem guidance: Veja análise do mercado

Copom cortou Selic de 10,75% para 10,50% com placar apertado, de 5 a 4.

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Publicado em 08/05/2024 às 21:28h - Atualizado 11 dias atrás Publicado em 08/05/2024 às 21:28h Atualizado 11 dias atrás por Marina Barbosa
O Copom é formado pelos diretores do Banco Central e se reúne a cada 45 dias para decidir a Selic (Raphael Ribeiro/BCB)
O Copom é formado pelos diretores do Banco Central e se reúne a cada 45 dias para decidir a Selic (Raphael Ribeiro/BCB)

O Copom (Comitê de Política Monetária) se dividiu ao cortar a Selic de 10,75% para 10,50% nesta quarta-feira (8). Além disso, optou por retirar o seu guidance. Ou seja, não deixou nenhuma orientação para a próxima decisão de juros. 

🏦 A redução do ritmo de corte dos juros era esperada pelo mercado, mas passou com um placar apertado de 5 a 4. Quatro diretores, além do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, apoiaram a decisão, mas outros quatro diretores preferiam cortar a Selic para 10,25%. 

A divisão chamou a atenção dos analistas. É que os quatro diretores que votaram a favor de um corte mais agressivo dos juros, de 0,5 ponto percentual, foram indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já os que passaram o corte de 0,25 ponto percentual foram indicados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e serão os próximos a deixar o BC

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Além de Roberto Campos Neto, Carolina de Assis Barros e Otávio Ribeiro Damaso deixam o Banco Central no fim deste ano. Já Diogo Abry Guillen e Renato Dias de Brito Gomes, indicados no último ano do governo Bolsonaro, têm mandato até dezembro de 2025.

Os outros quatro diretores indicados pelo governo Lula (Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira) têm mandato até dezembro de 2027.

Para analistas, a votação deixa claro o racha do Copom e indica que o comitê pode adotar uma postura mais agressiva nos corte de juros a partir de 2025, quando o BC não será mais comandado por Roberto Campos Neto.

"Isso é muito relevante, porque sinaliza como vai ser o BC no futuro", afirmou o economista e diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia.

"Os diretores do BC que votaram por um corte menor vão ficar cada vez mais isoladas. Então, o mercado vai precificar juros menores para 2025 e 2026, porque está claro que os outros diretores apontados por Lula já entendem que a Selic deveria estar em patamar menores", avaliou o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do governo já fizeram diversas críticas aos juros altos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia citado a possibilidade de um corte de 0,50 ponto percentual da Selic nesta quarta-feira (8) e preferiu não comentar a decisão do comitê de cortar os juros em 0,25 ponto percentual.

Sem guidance

💲 Diante desse racha e do aumento das incertezas nos cenários doméstico e externo, o Copom não só abandonou o guidance que previa um corte de 0,5 ponto percentual da Selic nesta quarta-feira (8), como também preferiu não deixar nenhuma orientação para a próxima reunião de juros.

No comunicado, o Copom apenas condiciona as próximas decisões de juros aos dados e expectativas de inflação, mas não indica se pretende manter o novo ritmo de corte atual, como costumava fazer. 

"A extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz o comunicado.

Segundo analistas, a decisão deixa o comitê com total liberdade para a próxima reunião, em junho. 

"Não teve sinalização do novo corte de juros. Ou seja, pode ser 0,25 ponto percentual ou pode ser nada. Vai depender dos dados e das expectativas de inflação", disse o economista-chefe da Constância Investimentos, Alexandre Lohmann.

"Foi retirado por completo o guidance. Então, estamos no escuro em relação ao próximo Copom, olhando para os dados", reforçou Saadia.

Apesar da incerteza associada a essa mudança no posicionamento do Copom, os analistas acreditam que o comitê vai manter o novo ritmo de corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião. Ou seja, cortará a Selic de 10,50% para 10,25% em junho.

"Devem continuar com 0,25 p.p., porque o argumento para parar de cortar os juros seria muito difícil. Tem a classe política e os empresários contra uma Selic muito alta e a inflação está controlada em diversos aspectos", argumentou Gustavo Cruz.