Tipos de inflação: entenda os impactos na economia e nos investimentos

Inflação é um dos termos mais ouvidos por quem acompanha o noticiário econômico, mas poucos compreendem de fato todas as suas nuances e o seu impacto real.
Mais do que um conceito único, existem vários tipos de inflação, cada um com causas e efeitos diferentes sobre a economia, o mercado financeiro e o seu bolso.
Você sabia, por exemplo, que o simples fato de os produtores esperarem que os preços vão subir já pode fazer com que a inflação se concretize?
Diante da importância do assunto, é hora de conferir quais são os principais tipos de inflação, como isso afeta a economia e, principalmente, como pode impactar os seus investimentos.
O que é inflação?
De forma simples, a inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços dos produtos e serviços ao longo do tempo. Ela representa a perda do poder de compra da moeda, ou seja, quando o mesmo valor em dinheiro compra menos do que comprava antes.
Por exemplo, se você gastava R$ 200,00 por semana no supermercado e hoje precisa de R$ 250,00 para comprar os mesmos itens, isso é inflação.
No entanto, vale destacar que esse aumento de preços não pode ser isolado. Na prática, não basta um único produto estar mais caro para caracterizar inflação.
É necessário haver uma alta nos preços médios de uma cesta de consumo da população, que inclui alimentação, transporte, moradia, vestuário, educação, entre outros.
Como a inflação é medida no Brasil?
A inflação é medida por meio de índices de preços ao consumidor, que monitoram a variação média de valores em uma cesta de produtos e serviços consumidos pela população.
Esses índices são produzidos por instituições como o IBGE, a FGV e a Fipe, e cada um possui características próprias, com diferentes metodologias, abrangências e objetivos. A seguir, conheça os principais.
IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)
O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil, calculado mensalmente pelo IBGE. Ele serve como referência principal para a meta de inflação do Banco Central, e seus resultados influenciam diretamente as decisões sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic.
Esse índice considera os hábitos de consumo de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos e abrange 13 regiões metropolitanas brasileiras, além de alguns municípios com grande relevância populacional.
A cesta de produtos e serviços monitorada inclui alimentação, habitação, transporte, saúde, educação, vestuário, entre outros itens que compõem o orçamento médio das famílias.
A metodologia do IPCA leva em conta a ponderação dos itens, ou seja, quanto maior o peso de determinado produto no orçamento doméstico, maior será o impacto da sua variação de preço no resultado final do índice.
Assim, aumentos em alimentos básicos, por exemplo, podem ter impacto significativo sobre o IPCA, especialmente em épocas de alta na inflação dos alimentos.
INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
Também calculado pelo IBGE, o INPC tem uma estrutura muito semelhante à do IPCA, mas é voltado para um público específico: famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos, nas quais a maior parte da renda provém do trabalho assalariado.
Sendo assim, o INPC retrata o comportamento de preços para a camada de menor poder aquisitivo da população.
Essa diferença de público gera impactos diretos nos resultados do índice, já que produtos essenciais, como alimentação e transporte público, possuem maior participação no orçamento das famílias de baixa renda.
Assim, em momentos de alta no preço de itens básicos, é comum que o INPC registre variações maiores que o IPCA.
O INPC é amplamente utilizado como referência para reajustes salariais, benefícios previdenciários e pensões, sendo um indicador estratégico em negociações entre sindicatos, empresas e governo.
IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado)
O IGP-M é calculado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e se diferencia dos anteriores por abranger diferentes etapas da cadeia econômica.
Ele é composto por três subíndices: o IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado), o IPC-M (Índice de Preços ao Consumidor – Mercado) e o INCC-M (Índice Nacional do Custo da Construção – Mercado). Cada um desses representa, respectivamente, 60%, 30% e 10% do peso total do IGP-M.
O IPA-M reflete a variação de preços no atacado, incluindo produtos agropecuários e industriais. Já o IPC-M acompanha os preços pagos diretamente pelos consumidores em diversas capitais, e o INCC-M mede a variação dos custos da construção civil, considerando tanto materiais quanto mão de obra.
Essa composição torna o IGP-M um índice mais volátil e sensível a fatores externos, como variações cambiais e oscilações nos preços internacionais de commodities. Por esse motivo, ele costuma registrar variações mais bruscas do que o IPCA e o INPC.
O IGP-M é amplamente utilizado no mercado como índice de reajuste de contratos, sendo o principal indicador usado na correção de aluguéis, tarifas de serviços, mensalidades escolares e contratos de concessão pública.
Em anos de forte oscilação cambial ou de aumento nas matérias-primas, o índice pode apresentar disparadas, o que leva muitos setores a renegociarem os contratos com base em outro indicador mais estável.
Quais são os principais tipos de inflação?
Quais são os principais tipos de inflação - (Imagem: Shutterstock)
A seguir, vamos conhecer os 10 principais tipos de inflação e como cada um deles atua no comportamento da economia e dos investimentos.
1. Inflação de demanda
Acontece quando a procura por bens e serviços supera a capacidade de oferta da economia. Quando consumidores, empresas e governo compram mais do que o país consegue produzir, os preços sobem.
Causas comuns:
- Expansão de crédito
- Aumento da renda
- Redução dos juros
- Incentivos fiscais
Impacto nos investimentos: Favorece empresas com maior capacidade produtiva, mas pode levar o Banco Central a subir os juros para conter a aceleração do consumo. Por sua vez, o aumento dos juros afeta negativamente a renda variável.
Com uma remuneração mais atrativa sendo ofertada nas aplicações de renda fixa (que possuem riscos menores), muitos investidores optam pelo rebalanceamento das suas carteiras, vendendo ações, para comprar CDBs ou títulos do Tesouro Direto.
2. Inflação de custos (ou inflação de oferta)
Neste caso, o aumento dos preços acontece porque os custos de produção aumentam. Isso pode envolver elevação do preço de matérias-primas, combustíveis, energia, salários ou até câmbio desfavorável.
Exemplo: A alta do petróleo impacta o custo do transporte e, por consequência, o preço de quase tudo.
Impacto nos investimentos: Prejudica empresas com margens de lucro apertadas, que por lucrar menos, reduzem o valor da distribuição de lucros destinada aos seus acionistas.
3. Inflação estrutural
É causada por deficiências da estrutura produtiva de um país, como logística ineficiente, falta de investimentos em tecnologia e gargalos regulatórios.
O Brasil, por exemplo, sofre com altos custos de transporte devido à má conservação das rodovias.
Impacto nos investimentos: Afeta negativamente setores fortemente dependentes de infraestrutura. Diante disso, os investidores precisam buscar por empresas resilientes e diversificadas, que consigam manter suas operações apesar desses gargalos.
4. Inflação espiral
Ocorre quando há um ciclo vicioso de reajustes salariais e preços. Salários sobem para compensar a inflação, e os preços sobem ainda mais para compensar os custos das empresas, alimentando uma espiral.
Impacto nos investimentos: Torna o cenário muito volátil e dificulta a precificação dos ativos. É comum ocorrer revisão das projeções econômicas e aumento do risco.
5. Inflação global
Reflete a elevação simultânea dos preços em diversas economias do mundo. É muito comum em momentos de pandemia ou guerra, que impactam o preço de commodities, transporte global e cadeias produtivas.
Exemplo: A pandemia de Covid-19 gerou escassez de chips, contêineres e aumento dos fretes, impactando preços no mundo todo.
Impacto nos investimentos: Afeta o desempenho de todos os tipos de ativos, elevando principalmente, os riscos e incertezas da renda variável.
Além disso, às condições anormais de mercado, podem causar grande fuga de capitais para países economicamente mais seguros, impactando o câmbio.
6. Inflação inercial
Tem origem na expectativa dos agentes econômicos de que a inflação vai continuar acontecendo. Baseia-se no comportamento passado e nos reajustes automáticos de contratos.
Exemplo: Contratos de aluguel reajustados pelo IGP-M, mesmo sem aumento real de custos.
Impacto nos investimentos: Dificulta o controle da inflação e a previsibilidade de receitas e despesas. Prejudica ativos de renda fixa prefixados, pois o rendimento real pode ficar abaixo da inflação.
7. Inflação monetária
É causada pela emissão excessiva de moeda pelo governo, sem lastro na capacidade de produção do país. Mais dinheiro circulando com a mesma quantidade de produtos sendo ofertada no mercado, resulta em preços mais altos.
Impacto nos investimentos: Desvaloriza a moeda nacional, aumenta a procura por ativos reais (como imóveis) e investimentos atrelados à inflação, como Tesouro IPCA+.
8. Inflação reprimida
Acontece quando o governo segura artificialmente os preços através de controle estatal, como congelamento de preços de combustíveis, energia ou alimentos. Mais cedo ou mais tarde, essa inflação “represada” volta com força total.
Impacto nos investimentos: Gera distúrbios na precificação dos ativos, desincentiva investimentos no setor regulado e pode causar inflação futura muito mais alta.
9. Estagflação
É o pior dos mundos econômicos: inflação alta com crescimento econômico nulo ou negativo. O consumo cai, mas os preços não cedem.
Impacto nos investimentos: Cenário extremamente desafiador, onde a renda variável sofre, as empresas lucram menos, e até ativos de renda fixa podem perder atratividade. Investidores buscam proteção cambial, ouro, commodities e ativos atrelados à inflação.
10. Hiperinflação
Ocorre quando a inflação atinge níveis extremos, superiores a 50% ao mês. O dinheiro perde completamente o valor. Os preços disparam a cada dia e a economia entra em colapso.
Exemplo: Brasil nos anos 80 e início dos anos 90, antes da entrada em vigor do Plano Real. Mais recentemente, a Venezuela.
Impacto nos investimentos: Destruição de valor generalizada. Apenas ativos dolarizados ou atrelados a bens reais conseguem proteger o investidor.
Qual o cenário atual da inflação no Brasil?
Nos últimos anos, o Brasil passou por diferentes tipos de inflação simultaneamente.
A pandemia e a guerra na Ucrânia trouxeram inflação global e de custos, enquanto os reajustes automáticos em contratos alimentaram a inflação inercial. Além disso, também foi possível observar uma pressão de demanda pontual em alguns setores.
O Banco Central tem atuado com altas sucessivas de juros (Taxa Selic) para conter essa inflação. Apesar disso, o IPCA e o IGP-M ainda mostram variações que exigem atenção do investidor.
Como a inflação impacta os seus investimentos?
A inflação é um dos fatores que afetam a rentabilidade real dos seus investimentos. Isso porque, quando os preços sobem e o valor da moeda cai, o rendimento que parecia ser satisfatório na aparência pode, na prática, não representar um ganho real.
Em outras palavras, se um investimento rende 10% ao ano, mas a inflação no mesmo período foi de 8%, o retorno líquido real foi de apenas 2%.
Por isso, é fundamental entender como diferentes ativos reagem à alta dos preços e quais são mais indicados para preservar o poder de compra ao longo do tempo.
Impacto da inflação sobre a renda fixa
Os investimentos em renda fixa são os mais diretamente afetados pela inflação. Aqueles com rentabilidade prefixada, ou seja, que oferecem um retorno fixo previamente acordado, perdem atratividade em momentos de alta inflacionária.
Na prática, isso acontece porque, se os preços subirem acima da taxa contratada, o investidor verá o seu ganho real corroído. Por exemplo, se você aplica em um título que paga 9% ao ano e a inflação atinge 10%, o poder de compra do seu capital terá diminuído, mesmo com o rendimento bruto positivo.
Por outro lado, os títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, funcionam como um importante instrumento de proteção. Esses ativos oferecem uma rentabilidade composta por uma taxa de juros real somada à variação do IPCA, garantindo que o investidor preserve o seu capital em termos reais, independentemente das oscilações nos preços.
Assim, se o IPCA for de 6% e a taxa real do título for de 5%, o retorno total será de 11%, protegendo efetivamente o valor do dinheiro investido.
Produtos bancários como CDBs, LCIs e LCAs, quando atrelados ao CDI, tendem a acompanhar a taxa Selic, que costuma subir em cenários inflacionários como forma de contenção.
Porém, esses ativos não oferecem proteção automática contra a inflação. Se a Selic não acompanhar o ritmo de alta dos preços, o rendimento desses investimentos também pode ser superado pela inflação, exigindo dos investidores, um nível bem maior de atenção ao cenário macroeconômico.
Impacto da inflação sobre as ações (renda variável)
No universo da renda variável, o impacto da inflação é mais complexo e depende das características de cada empresa e setor.
Empresas com maior poder de repasse de preços ao consumidor — como companhias de energia elétrica, saneamento, alimentos e outros serviços essenciais — geralmente conseguem preservar suas margens de lucro mesmo em ambientes inflacionários.
Essas companhias conseguem reajustar seus preços com mais facilidade sem perder competitividade, o que as torna mais resilientes.
Já setores com margens de lucro reduzidas ou fortemente dependentes do consumo, como varejo, construção civil e companhias aéreas, tendem a ser mais penalizados.
Quando os preços sobem, os custos operacionais aumentam e o poder de compra da população diminui, o que impacta as receitas e os lucros dessas empresas.
Impacto da inflação sobre os fundos imobiliários (FIIs)
No caso dos fundos imobiliários, os efeitos da inflação variam conforme o tipo de ativo que compõe o fundo.
Os chamados FIIs de papel, que investem em títulos de renda fixa ligados ao setor imobiliário, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), geralmente oferecem proteção contra a inflação.
Já os FIIs de tijolo, que são aqueles que investem diretamente em imóveis físicos (shoppings, galpões logísticos, lajes corporativas etc.), dependem da capacidade de repassar a inflação para os aluguéis.
Em cenários econômicos favoráveis, essa indexação funciona bem. No entanto, em momentos de estagflação (inflação alta com crescimento econômico fraco), pode haver dificuldades em reajustar contratos, o que eleva o risco de vacância e de inadimplência.
Além disso, o valor dos imóveis pode não se valorizar no mesmo ritmo da inflação, reduzindo a atratividade desses fundos em determinados períodos.
Impacto da inflação sobre o câmbio e ativos dolarizados
A inflação também influencia diretamente o valor da moeda nacional em relação a outras moedas. Quando a inflação interna está muito alta, o país tende a perder competitividade, o que pode levar à desvalorização do real frente ao dólar e outras moedas fortes.
Essa dinâmica é ainda mais forte se houver fuga de capitais estrangeiros em busca de economias mais estáveis.
Para o investidor, esse cenário pode gerar ganhos em ativos internacionais, como ações estrangeiras, ETFs atrelados ao mercado global, fundos cambiais e até mesmo criptomoedas.
O ouro, por ser historicamente considerado uma reserva de valor, também costuma se valorizar em momentos de pressão inflacionária e perda de confiança na moeda nacional.
Sendo assim, investir parte da carteira em ativos dolarizados pode funcionar como um hedge (proteção) natural contra a inflação e a instabilidade econômica local.
Como se proteger da inflação?
Como se proteger da inflação - (Imagem: Shutterstock)
A melhor forma de lidar com a inflação enquanto investidor é adotar uma estratégia de diversificação inteligente, combinando ativos que consigam, em conjunto, preservar o poder de compra do seu patrimônio ao longo do tempo.
Investimentos atrelados ao IPCA ou ao IGP-M são essenciais em qualquer carteira voltada à proteção contra a inflação. Isso inclui títulos públicos como o Tesouro IPCA+, CRIs e LCIs indexadas, além de fundos imobiliários de papel. Eles funcionam como um escudo que ajusta sua rentabilidade de acordo com o comportamento dos preços.
Outra forma comum de proteção é investir em ações de empresas com bom poder de precificação, ou seja, que conseguem repassar aumentos de custos ao consumidor sem perder demanda.
Também é recomendável incluir na carteira ativos internacionais ou dolarizados, que servem como reserva de valor em momentos de desvalorização da moeda nacional.
Por fim, também é importante ter liquidez e flexibilidade para rebalancear a carteira com agilidade sempre que houver mudanças severas no cenário macroeconômico. O investidor bem informado é aquele que se antecipa, e não apenas reage à inflação.
Conclusão: conhecer os tipos de inflação é essencial para o investidor
Saber o que é inflação já não é suficiente. Compreender quais são os tipos de inflação, suas causas e efeitos é uma ferramenta poderosa para qualquer pessoa que investe ou pretende investir.
Ao entender que inflação não é apenas um fenômeno único, mas sim um conjunto de causas e reações, o investidor consegue proteger seu patrimônio e tomar decisões com mais segurança em qualquer cenário econômico.
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