Quais ações brasileiras ganham e perdem com a eleição de Trump?

Dólar forte e tarifas de importação podem pressionar empresas brasileiras, mas analistas apontam algumas ações que podem driblar esses efeitos.

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Publicado em 06/11/2024 às 15:43h - Atualizado 11 horas atrás Publicado em 06/11/2024 às 15:43h Atualizado 11 horas atrás por Marina Barbosa
Trump foi eleito presidente dos EUA com propostas econômicas que devem fortalecer o dólar (Imagem: Shutterstock)

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos pressiona o dólar e derruba a bolsa brasileira nesta quarta-feira (6). Analistas explicam que as propostas do republicano criam desafios adicionais para a economia brasileira. Contudo, também reconhecem que alguns ativos podem acabar se dando bem nesse cenário.

💵 Na volta à Casa Branca, Trump promete reforçar as tarifas de importação, cortar impostos de grandes empresas e aumentar a produção americana de petróleo. Além disso, promete estimular o mercado de criptomoedas e o desenvolvimento da IA (Inteligência Artificial). Já os incentivos a investimentos sustentáveis e as regras antitruste que têm enquadrado as big techs podem ser revistas.

Na avaliação de especialistas, o pacote econômico do próximo presidente americano pode afetar negativamente a economia brasileira em três frentes principais: o aumento do dólar, as barreiras a exportação e a potencial redução dos preços das commodities. Por outro lado, espera-se que empresas que têm operações em solo americano e que se beneficiam com a alta da moeda dos Estados Unidos driblem esses impactos.

O aumento do dólar é esperado porque, como colocado pelo diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia, "as medidas de Trump são, em um primeiro momento, inflacionárias". As tarifas de importação, por exemplo, tendem a elevar os preços dos produtos importados pelos Estados Unidos. E até a política de imigração de Trump, que deve barrar a entrada de imigrantes em solo americano, pode ter esse efeito, já que o nível dos salários tende a subir com a menor oferta de trabalhadores, segundo Saadia.

Diante disso, a expectativa é de que os Estados Unidos convivam com uma inflação e juros mais altos nos próximos anos. E a implicação disso para o Brasil, ressalta o diretor de Investimentos da Nomos, "é ruim, porque, com juros mais altos nos Estados Unidos, o dólar se valoriza".

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Quem perde?

📉 Um dólar mais forte eleva o custo de empresas como as companhias aéreas. Além disso, tende a elevar os preços dos produtos importados pelo Brasil, pressionando a inflação e os juros domésticos. É um cenário que deve pressionar empresas que têm sensibilidade a juros altos, como é o caso de varejistas e construtoras, além das companhias mais endividadas.

"É difícil ver um setor da bolsa brasileira que se beneficia, porque o setor doméstico vai ser pego pela alta da taxa de juros e o setor exportador, pelas tarifas de importação e pela queda das commodities", declara o economista Pedro Paulo Silveira.

Para ele, as tarifas de importação prometidas por Trump devem atingir, sobretudo, as mineradoras e siderúrgicas, como a Vale (VALE3).

Silveira também não vê caminho fácil para a Petrobras (PETR4). Isso porque o plano de Trump de ampliar a produção americana de petróleo pode elevar a oferta e, consequentemente, reduzir o preço da commodity.

Outras commodities também estão em risco, caso as medidas tenham um efeito negativo no crescimento de outros países, sobretudo a China. Principal alvo de Trump, a China é a maior consumidora de minério de ferro do mundo. Por isso, a cotação da commodity pode sofrer ainda mais caso as dúvidas sobre o crescimento chinês se aprofundem.

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Quem ganha?

📈 Nem todas as empresas da bolsa brasileira, no entanto, devem sair perdendo. As empresas que têm operação nos Estados Unidos, por exemplo, podem passar imunes das tarifas. É o caso de Gerdau (GGBR4), Weg (WEGE3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3). Os frigoríficos, por sinal, ainda ganham com a alta do dólar.

A XP ainda vê oportunidades para Braskem (BRKM5) e Aura Minerals (AURA33). Isso porque a petroquímica tem receita em dólar e a mineradora é especializada em ouro, um ativo de proteção que pode ser mais buscado pelos investidores nesse cenário de incerteza.

Além disso, a XP acredita que o agronegócio brasileiro pode ganhar com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, caso a China reduza as compras de grãos americanos e, assim, passe a comprar mais produtos brasileiros. Neste caso, SLC Agrícola (SLCE3), BrasilAgro (AGRO3) e Rumo (RAIL3) poderiam se beneficiar, segundo a corretora.

E lá fora?

Já nos Estados Unidos, as bolsas operam em forte alta e atingiram novas altas históricas nesta quarta-feira (6), na esteira da eleição de Donald Trump. Bancos e empresas de tecnologia, como JP Morgan (JPMC34) e Tesla (TSLA34), figuravam entre as maiores altas.

O especialista da Valor Investimentos Paulo Luives explicou que o corte de impostos corporativos prometido por Trump pode elevar a lucratividade das empresas americanas e diz que o setor de tecnologia pode ser especialmente beneficiado pelo resultado das eleições, já que Trump "tende a ser mais flexível com as regulações".

O Nasdaq, índice que concentra as ações de empresas americanas, por sinal, disparou 138,21% no primeiro governo Trump, de 2017 a 2021. Foi o maior crescimento dos últimos 15 governos dos Estados Unidos.

Já o Dow Jones e o S&P 500 avançaram 56,75% e 67,82% no primeiro governo Trump, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria. Os ganhos não foram recordes, mas superaram a média histórica, tanto de governos republicanos, quanto democratas.

Na avaliação da XP, os setores financeiro, de saúde e seguros também podem se beneficiar de um ambiente regulatório mais fácil, esperado em um governo Trump.

Já o setor de óleo e gás ganha com o incentivo à exploração de combustíveis fósseis e a indústria americana se beneficia com a imposição de tarifas às importações.

Além disso, as empresas que administram prisões e as incorporadoras que podem ser escaladas para construir o muro na fronteira com o México defendido por Trump podem ter um desempenho positivo nos próximos anos.

Diante desse cenário, especialistas avaliam que o investidor brasileiro pode incluir BDRs (Brazilian Depositary Receipts) e ETFs (Exchange-Traded Funds) em suas carteiras. Na B3, há, por exemplo, ETFs que seguem o desempenho dos principais índices americanos e também criptomoedas, que devem ser igualmente beneficiadas pela eleição de Trump.