Não é de hoje que os cariocas gostariam que a extensão do Metrô na cidade maravilhosa fosse bem maior que a condição atual em 2025, assemelhando aos paulistanos, que ainda compartilha espaço com a
Motiva (MOTV3). Mas, será que, do ponto de vista do investidor de
renda fixa, o interesse dos grandes players do mercado financeiro pelas
debêntures da
MetrôRio faz algum sentido?
Os analistas do BTG Pactual engrossam o coro dos que recomendam o investimento nos títulos de dívida da MetrôRio, sob código
MGPRA0, isentos da cobrança de imposto de renda e que oferecem remuneração de
IPCA+ 7,88% ao ano até o seu vencimento em 15 de março de 2042.
"As debêntures da MetrôRio têm prêmio de crédito atrativo considerando o novo mecanismo de compartilhamento de risco de demanda promove maior previsibilidade; além do risco de execução bastante limitado e alongamento do prazo da concessão até 2048", comentam os analistas Frederico Khouri e Luís Gonçalves, em relatório publicado nesta terça-feira (7).
De fato, ao se comparar a remuneração dos títulos isentos da companhia carioca com o que o seu título público de referência no
Tesouro Direto oferece, dá até para entender o ânimo dos especialistas do banco.
No caso, o
Tesouro IPCA+ 2035 oferece atualmente taxa indicativa de
IPCA+ 7,66% ao ano, conforme consulta realizada na Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), uma vez que esse título público não é mais disponível no Tesouro Direto, mas segue negociado no mercado secundário de renda fixa.
Ou seja, enquanto o governo brasileiro paga um retorno de
IPCA+ 7,66% ao ano, do qual ainda será cobrada alíquota de imposto de 17,5% a partir de 2026, as
debêntures incentivadas da MetrôRio rendem quase
IPCA+ 8% ao ano. Todavia, olhar apenas para o diferencial das taxas, o chamado spread, não responde à pergunta se esse é um bom negócio para quem empresta.
Apesar de ter um vencimento bem distante, o duration das debêntures MGPRA0 é de 8,5 anos, dado o seu pagamento de juros anuais a partir de março de 2027, além da amortização anual a partir de março de 2028.
Plano da MetrôRio
Em outubro de 2025, a companhia carioca de mobilidade urbana pegou emprestado R$ 2,8 bilhões no mercado financeiro, ao emitir debêntures incentivadas. É importante entender para que a empresa utilizará essa grana que, ao longo do tempo, precisará retornar com
juros compostos ao bolso dos debenturistas.
Cerca de R$ 1,5 bilhão custearão o resgate antecipado das debêntures MTRJ19, já o saldo de R$ 700 milhões será pela incorporação da MetrôBarra. Além disso, haverá destinação de R$ 600 milhões para a futura Estação Gávea.
"A emissão MGPRA0 recebeu rating AAA pela Fitch e S&P, refletindo forte geração de caixa e alavancagem moderada. Com a inauguração da Estação Gávea prevista para 2028, deve-se aumentar a circulação de passageiros, resolver pendência jurídica e reforçar a segurança da concessão da MetrôRio", afirmam os analistas do BTG Pactual.
Em abril, a MetrôRio assinou o 10º termo aditivo que redesenhou a concessão, estendendo o prazo até 2048 e transferindo a Linha 4 para sua administração, unificando todas as quatro linhas metroviárias do Rio de Janeiro.
O novo contrato criou uma curva regulatória de demanda com mecanismo de compartilhamento de risco com o Estado, assegurando ressarcimento quando o volume de passageiros ficar abaixo de 90% da demanda regulatória.
Para o BTG Pactual, a medida aumenta a previsibilidade da receita da MetrôRio e reduz o risco de demanda diante da recuperação lenta do tráfego, da concorrência com modais subsidiados e de possíveis disrupções como pandemias.
A MetrôRio é controlada pela HMOBI, cujo acionista majoritário é o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, o
Mubadala (51,5%), em conjunto com os
fundos de pensão Previ, Funcef e Petros, três dos maiores do Brasil. Já a garantia aos debenturistas é a conversão em ações da concessionária detidas pela HMOBI e conta reserva com recursos para cobrir o pagamento de uma parcela do serviço da dívida.
Vale recordar que o investimento em debêntures não tem proteção do
FGC (Fundo Garantidor de Crédito), ou seja, o debenturista acaba assumindo o risco de calote da companhia a quem emprestou dinheiro.