Big techs voltam a demitir, de olho na inteligência artificial

Mais de 24,5 mil postos de trabalho já foram cortados no setor de tecnologia em 2024, de acordo com o site Layoffs

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Publicado em 28/01/2024 às 11:02h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 28/01/2024 às 11:02h Atualizado 1 mês atrás por Marina Barbosa
Escritório do Google em Londres (Shuttersock)

As big techs começaram o ano cortando funcionários, de novo. Assim como aconteceu no início de 2023, companhias como Google (GOGL34) e Microsoft (MSTF34) anunciaram centenas de demissões nas primeiras semanas de 2024. Os desligamentos já atingem mais de 24,5 mil pessoas em todo o setor de tecnologia.

✂️ De acordo com o site Layoffs.fyi, 93 empresas do setor já anunciaram demissões em 2024. Ao todo, 24.584 funcionários foram atingidos pelos cortes até este domingo (28). É o maior volume mensal de demissões desde março de 2023, quando mais de 37,8 mil pessoas perderam seus empregos no setor.

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A maior demissão em massa do ano, até agora, foi anunciada na última terça-feira (23) pela companhia de software alemã SAP (SAPP34). A companhia pretende cortar cerca de 8 mil posições em um programa de reestruturação que visa direcionar os esforços da empresa para "áreas estratégicas de crescimento", em particular negócios de IA (Inteligência Artificial).

Mas as demissões também chegaram na casa dos mil em outras representantes do setor. A Microsoft, por exemplo, demitiu 1.900 funcionários da divisão de jogos na última quinta-feira (25), depois de ter estabelecido prioridades e identificado áreas de sobreposição no negócio. Unity (1.800), Flipkart (1.100), Wayfair (1.650), eBay (1.000) e Google (1.000) também já fizeram cortes dessa magnitude em 2024.

💻 As demissões no Google, por sinal, afetaram funcionários brasileiros na semana passada e ainda não terminaram. Em mensagem enviada aos funcionários, o CEO da big tech, Sundar Pichai, disse que novas demissões são esperadas durante o resto do ano. 

Em nota enviada à imprensa, um porta-voz do Google disse que todo ano a empresa passa por um "rigoroso processo para estruturar o time para atender nossos anunciantes da melhor maneira" e, como parte desse processo, "algumas centenas de cargos estão sendo eliminados em todo o mundo".

Outras big techs, como Amazon (AMZO34) e Instagram, da Meta (M1TA34), também fizeram cortes, ainda que em menor proporção. As demissões atingiram companhias de diversos setores, como varejo, finanças, marketing, infraestrutura e logística.

Pico de demissões foi em 2023

Apesar de significativas, as demissões no setor de tecnologia estão longe do pico registrado em janeiro de 2023. Segundo o site Layoffs.fyi, 277 companhias fecharam mais de 89,7 empregos no primeiro mês do ano passado. 

💵 Ao todo, 1.188 empresas demitiram 262.595 funcionários ao longo de 2023. Muitas dessas companhias haviam expandido as equipes durante a pandemia de covid-19 e alegaram a necessidade de cortar custos ao fechar postos de trabalho em 2023.

Agora, a redução de custos continua entre as preocupações das big techs. Ao demitir 9% dos seus funcionários na terça-feira (23), a Ebay (EBAY34), por exemplo, disse que o número de funcionários e as despesas da companhia superaram o crescimento do negócio. 

Contudo, outro elemento ganha força nas justificativas das demissões em massa: a IA (Inteligência Artificial).

Inteligência artificial afeta empregos 

A SAP, que fez a maior demissão do ano até agora, por exemplo, citou a intenção de focar em negócios de Inteligência Artificial, além de capturar as "eficiências impulsionadas pela IA", ao anunciar o corte de cerca de 8 mil funcionários nesta semana.

Apesar de não citar a IA ao anunciar as demissões deste ano, o Google também tem priorizado o desenvolvimento de produtos envolvendo a inteligência artificial. Da mesma forma, a Meta, que cortou funcionários do Instagram, está investindo na criação de um programa de super inteligência artificial.

ChatGPT impulsiona competição

O professor de Economia Política da LUT University da Finlândia, Edemilson Paraná, destacou que as demissões se intensificaram depois do lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022.

🗨️ “Os agentes do ramo são quase unânimes em dizer que havia um antes e depois do ChatGPT. Isso mostrou a possibilidade de a Inteligência Artificial ser comercializada como um produto factível, de contato com as pessoas”, comentou. 

Ele explicou que, embora a inteligência artificial já fosse usada por ferramentas tecnológicas que fazem parte do nosso dia a dia, “o ChatGPT foi um divisor de águas na percepção pública e na estrutura de funcionamento das empresas em relação à inteligência artificial”.

“Essas companhias estão fazendo um reposicionamento ativo de onde colocar recursos e hoje a principal tendência é a inteligência artificial, é criar um modelo de inteligência artificial generativa tão bom quanto ou melhor que o ChatGPT para aplicar em soluções, produtos e serviços”, afirmou.

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📱 Como exemplo dessa mudança, Paraná cita o Google. Ele explicou que, antes do ChatGPT, o Google realizava pesquisas sobre a inteligência artificial de uma maneira mais acadêmica do que comercial. Com o sucesso do ChatGPT, no entanto, o Google mudou essa estratégia para focar em um modelo mais comercializável de inteligência artificial e lançou o chatbot Bard.

“Essa reestruturação fechou setores inteiros e criou outros, com outra escala e dinâmica”, comentou Paraná, acrescentando que “muitas pessoas foram mandadas embora, setores gerenciais foram rearranjados e uma série de tarefas foram economizadas”.

O uso de inteligência artificial em processos internos, como forma de ganhar produtividade, por sinal, é outra tendência que vem fechando postos de trabalho não só no setor de tecnologia. As mudanças, por sua vez, parecem ocorrer de forma mais intensa e acelerada nas big techs por causa dos negócios e da concorrência entre essas empresas.

“Estas companhias trabalham com inovação e as ideias aparecem tão rápido que as inovações vão superando umas às outras. Então, são empresas expostas a um modelo de competição que é volátil. Além disso, são monopólios digitais que vivem certa ansiedade interna para manter sua posição de mercado e ampliar ainda mais o market share”, explicou o professor de Economia Política.