Quais tipos de renda fixa ganham e perdem com a eleição de Trump?

Renda fixa em dólar pode ganhar mais fôlego com juros futuros em alta. Aqui no Brasil, a preferência é por títulos pós-fixados

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Publicado em 06/11/2024 às 17:37h - Atualizado 11 horas atrás Publicado em 06/11/2024 às 17:37h Atualizado 11 horas atrás por Lucas Simões
Tesouro Selic e títulos bancários indexados ao CDI podem render mais com Trump na Casa Branca (Imagem: Shutterstock)

🗳️ A eleição de Donald Trump tem o potencial colocar o Brasil no mapa de vez, como o país da renda fixa, sobretudo a parcela pós-fixada (aqueles títulos indexados à Selic ou CDI). Analistas ouvidos pelo Investidor10 também veem espaço para mais fôlego da renda fixa em dólar, já que a tarefa do Federal Reserve em baixar os juros americanos deve complicar.

Não é de hoje que os investidores brasileiros anseiam em dolarizar o seu patrimônio, já que a moeda americana já se valorizou 17% contra o nosso real em 2024. E se expor aos investimentos no exterior por meio da renda fixa atrelada à inflação, como uma espécie de Tesouro IPCA+ americano, pode ser uma opção atraente durante o novo mandato de Trump.

Conforme André Valério, coordenador de macro do Inter, os governos republicanos, caso de Trump, têm historicamente uma tendência de queda no diferencial de juros reais entre o Brasil e os EUA. Entretanto, o risco de guerra comercial protagonizada por Trump contra produtos importados pode despertar uma onda inflacionária na maior economia do planeta.

Nesse sentido, o ETF internacional Ishares Tips Bond (TIP) garante proteção do poder de compra dos investidores em dólar, com valorização de 3,74% e rendimento de dividendos de 2,83% nos últimos 12 meses. No último ciclo inflacionário nos EUA entre 2020 e 2021, o ETF TIP saltou quase 15%. Já o BDR que replica o fundo de índice direto na bolsa brasileira, o ETF BTIP39 já decolou 22% no mesmo período.

Por outro lado, títulos de renda fixa em dólar com vencimentos no longo prazo, como o Ishares 20+ Years Treasury Bond ETF (TLT) já derretem quase 3% desde a vitória de Trump à presidente dos EUA, já que a disparada dos juros futuros penaliza o preço dos títulos na marcação a mercado. Aqui no Brasil, o BDR que replica o fundo de índice é o ETF BTLT39.

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Renda fixa brasileira vencedora

Já com a volta de Trump à Casa Branca, os analistas da BGC Strategy realizaram uma sondagem em novembro com 47 investidores institucionais do mercado financeiro brasileiro para averiguar qual deve ser o futuro da taxa Selic, que influencia as remunerações da renda fixa pós-fixada.

Então, o levantamento ao qual o Investidor10 teve acesso mostra que, até o mês de março de 2025, a taxa básica de juros baterá a marca de 12,75% ao ano. Já nesta decisão do Banco Central no dia 6 de novembro, é esperado um aumento de 50 pontos percentuais, patamar que deve se manter nas decisões dos próximos meses.

No detalhe, a pesquisa aponta que as apostas do mercado estão elevadas para essa subida forte da Selic, com probabilidades oscilando entre 49% e 97% dos investidores institucionais (bancos e gestoras).

🏆 Na prática, entre os investimentos de renda fixa que mais devem se beneficiar neste cenário brasileiro está o Tesouro Selic 2029, título com liquidez diária negociado no Tesouro Direto. Títulos bancários como CDBs, LCAs e LCIs indexados ao CDI também tendem a rende bem mais agora.

"Com o vencimento em 2029, o Tesouro Selic oferece um prazo intermediário, ideal para investidores que buscam flexibilidade sem abrir mão de retornos consistentes. O título se beneficia diretamente de períodos de juros altos, como o atual, em que a Selic permanece em patamares elevados devido à necessidade de controle inflacionário", destaca Eduardo Nishio, líder dos analistas da Genial Investimentos.

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Cautela com esse tipo de renda fixa

Em contrapartida, o especialista alerta que títulos públicos com vencimentos no longo prazo são o que há de mais arriscado na renda fixa no momento, apesar da rentabilidade tentadora próxima de IPCA+ 7% ao ano.

"Aqui na corretora, permanecemos cautelosos em relação aos títulos de vencimento mais longo (como Tesouro IPCA+ 2035 e 2045), dado que as incertezas fiscais e a necessidade de ajustes na política econômica ainda colocam pressão sobre os ativos de maior duração", explica Nishio.

📉 Dados do próprio Tesouro Direto apontam que os títulos Tesouro IPCA+ 2035 e 2045 acumulam no ano prejuízos na marcação a mercado de −5,5% e −15%, respectivamente. Após a vitória de Trump, ficou mais complicado prever quando os juros futuros começarão a cair, que é o momento ideal para travar as taxas nas máximas, podendo levar os títulos até o vencimento ou aproveitar expressivos lucros na marcação a mercado.