Lula critica Campos Neto e diz que é preciso baixar os juros

Para Lula, "não tem explicação a taxa de juros do jeito que está". O mercado, no entanto, acredita que Copom vai manter a Selic em 10,50% nesta semana.

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Publicado em 18/06/2024 às 15:12h - Atualizado 3 meses atrás Publicado em 18/06/2024 às 15:12h Atualizado 3 meses atrás por Marina Barbosa
Lula disse que Campos Neto tem "lado político" e prejudica o país (Ricardo Stuckert /Presidência da República)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o atual patamar da taxa Selic e o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (18). As críticas ocorreram poucas horas antes de mais uma reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Em entrevista à rádio "CBN", Lula afirmou que Roberto Campos Neto "tem lado político" e tem prejudicado o país ao manter a taxa básica de juros, a taxa Selic, em um patamar "proibitivo aos investimentos". Veja o que disse o presidente da República:

🗣️ "Só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada, um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem um lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar, do que para ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está".

Mencionando conversas com presidentes de bancos e de outros países, Lula disse que "há um grau de confiança extraordinário no Brasil". Porém, apontou a taxa de juros como um fator impeditivo à atração de novos investimentos no país.

💲 "Nós temos uma situação em que não necessita essa taxa de juros. O Brasil não pode continuar com uma taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. Como vai convencer o empresário a fazer investimento se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então é preciso baixar a taxa de juros", reclamou Lula.

O presidente da República disse ainda que "a inflação está totalmente controlada" e que o Banco Central "fica inventando discurso de inflação do futuro" para manter uma política monetária restritiva. Ele disse, então, que é preciso "trabalhar em cima do real".

"Realmente, o Brasil está vivendo um bom momento. A economia está andando, o emprego está crescendo, o salário está crescendo e a inflação está caindo. O que mais nós queremos? É atrair mais investimentos para o Brasil e que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar e não atrapalhar o crescimento do país", declarou.

Leia também: Copom não deve cortar juros na reunião desta semana, entenda

As críticas de Lula ocorreram poucas horas antes de o Copom voltar a se reunir para definir o rumo da taxa Selic. A expectativa do mercado, no entanto, é que o comitê vai interromper o ciclo de corte de juros que vinha ocorrendo desde agosto de 2023.

Para analistas, o Copom deve manter a taxa Selic nos atuais 10,50% por causa do aumento das incertezas e das expectativas de inflação. De acordo com o Boletim Focus, o mercado acredita que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subirá 3,96% em 2024 e 3,80% em 2025.

A meta perseguida pelo Banco Central, no entanto, é de 3%. E o Copom ressaltou na última reunião que "a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

Questionado sobre a possibilidade de manutenção dos juros em 10,50%, Lula disse que achava isso "muito triste, porque o Brasil não precisa disso".

Orçamento

Lula também falou sobre a situação fiscal, que tem preocupado o mercado. Ele disse que está disposto a discutir o Orçamento com o Congresso Nacional, de forma a ajustar os gastos públicos à meta fiscal que prevê um déficit zero neste ano. Contudo, disse que os cortes não devem afetar os mais humildes.

Segundo Lula, o governo está monitorando os gastos sociais e vai consertar o que tiver de errado nos repasses. "Se tem alguém recebendo o que não deve receber, vai parar de receber", garantiu.

Para Lula, no entanto, o maior problema das contas públicas brasileiras está nas isenções, desonerações e benefícios fiscais que beneficiam empresários sem garantir nenhuma contrapartida aos trabalhadores. Segundo ele, o governo gasta R$ 546 bilhões com essas isenções. "O problema é que a parte mais rica do Brasil tomou conta do Orçamento", afirmou.