BB (BBAS3) emprestará dinheiro a produtores de leite em parceria com a Nestlé
Linhas de crédito da estatal contemplam projetos de descarbonização em fazendas de leite.
💰 O Banco do Brasil (BBAS3) continua sendo um dos ativos mais observados do mercado, mas a atenção não vem dos dividendos polpudos que os acionistas esperariam.
Em meio a um cenário desafiador, marcado pelo aumento da inadimplência no agronegócio e entre pequenas e médias empresas, o banco enfrenta um processo de ajuste que pode levar tempo antes de se refletir em retornos consistentes para o investidor.
No primeiro semestre de 2025, o índice de inadimplência de operações com mais de 90 dias de atraso subiu para 4,21%, contra 3% no mesmo período do ano passado.
O avanço se concentrou principalmente no crédito rural, segmento que representa um dos pilares da carteira da instituição.
Em encontro recente com analistas, a administração reconheceu as pressões, mas sinalizou confiança em medidas de curto e médio prazo que poderiam atenuar os impactos e preparar o banco para uma retomada mais sólida.
Entre os principais fatores de alívio estão a expectativa de uma safra mais favorável, a Medida Provisória (MP 1314) que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas do agronegócio, e mudanças regulatórias que flexibilizam a recuperação de crédito e o reconhecimento de juros em programas governamentais.
Para o JPMorgan, a expectativa de uma safra mais robusta em volume e preço pode ajudar a reduzir pressões sobre a carteira do banco.
Ainda assim, os desembolsos de crédito estão acontecendo em ritmo mais lento, já que o Banco do Brasil tem exigido garantias adicionais — como a alienação fiduciária — o que alonga o tempo de aprovação das operações.
Mais relevante, contudo, é o pacote de renegociação do governo. A cada R$ 1 renegociado a taxas de mercado, o banco gera um ganho equivalente em capital, ajudando a aliviar o balanço.
Estima-se que a instituição disponha de R$ 20 bilhões a R$ 24 bilhões em ativos fiscais diferidos (DTAs) para compensações. Assim, se renegociar cerca de R$ 7 bilhões, já conseguiria neutralizar totalmente os 60 pontos-base de pressão previstos com o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (CPGE), que entrará em vigor em janeiro de 2026.
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No campo regulatório, a Resolução 5244 facilita a recuperação de operações de crédito acima de três meses, enquanto a Resolução 643 permite ao banco reconhecer juros em empréstimos de programas do governo.
Segundo analistas, essas mudanças dão maior respiro às margens e reduzem riscos de deterioração abrupta da carteira.
O grande ponto de interrogação para o investidor segue sendo o payout. Historicamente, o Banco do Brasil distribuiu cerca de 40% de seu lucro, mas os analistas do JPMorgan afirmam que ainda não há visibilidade suficiente para projetar a retomada dos dividendos em níveis mais “gordos”.
A avaliação é que o payout só voltará ao radar com clareza a partir da estabilização da inadimplência e da confirmação de melhora nos resultados.
Para o 3º trimestre de 2025, o JPMorgan projeta provisões de R$ 16 bilhões, praticamente em linha com os R$ 15,9 bilhões registrados no trimestre anterior.
O banco estima que o BB possa retomar um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) na faixa de dois dígitos médios apenas em 2026, à medida que a combinação entre queda da Selic, eficiência operacional e renegociação de créditos começar a dar frutos.
Atualmente, BBAS3 negocia a 0,7 vez o valor patrimonial, cotado a R$ 21,96 até o início da tarde desta sexta-feira (19), queda de 0,72%.
📈 O JPMorgan mantém recomendação neutra para o papel, com avaliação de que boa parte dos riscos já está precificada, mas a tese de valorização ainda depende de gatilhos que só devem se materializar nos próximos trimestres.
Linhas de crédito da estatal contemplam projetos de descarbonização em fazendas de leite.
De acordo com dados do BB, R$ 5,4 bilhões em empréstimos estão inadimplentes por causa de pedidos de recuperação judicial.