E se o Brasil for taxado em 100%? Duas empresas da B3 podem estar na mira

O Brasil foi alertado pela Otan e também já foi ameçado pelo país norte-americano com novas tarifas.

Author
Publicado em 14/08/2025 às 07:01h - Atualizado Agora Publicado em 14/08/2025 às 07:01h Atualizado Agora por Elanny Vlaxio
Lula continua recebendo poucos sinais do governo Trump para negociação (Imagem: Shutterstock)

🚨 Na última quarta-feira (13), o governo do Brasil ganhou novamente os holofotes após anunciar a primeira parte do pacote de medidas para socorrer empresas afetadas pela cobrança de uma sobretaxa de 50% para entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos. 

Mesmo reafirmando várias vezes que a porta para uma negociação está aberta, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua recebendo poucos sinais do governo de Donald Trump (Partido Republicano) e, inclusive, alguns ataques a mais. 

Novas ameaças 

Durante a semana, o governo do republicano até divulgou um documento criticando Lula e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes. E não para por aí, apesar do pouco barulho, o Brasil também foi ameaçado com uma tarifa de 100% caso continue mantendo negócios com a Rússia. 

O alerta já havia sido feito pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas voltou em forma de ameaça pelo governo liderado pelo republicano. Lindsey Graham, senador norte-americano, ameaçou impor tarifas extras de até 100% sobre países que seguirem comprando petróleo da Rússia. 

🆘 “China, Índia e Brasil. Esses três países compram 80% do petróleo russo barato e é assim que a máquina de guerra de Putin continua funcionando”, disse. “Se isso continuar, vamos impor 100% de tarifa para esses países. Punindo-os por ajudar a Rússia”, afirmou. A Índia, inclusive, foi taxada em mais 25%, totalizando uma tarifa de 50%.

A decisão foi motivada por uma ordem executiva da Casa Branca emitida em 2022, que vetou importações e novos aportes na Rússia como reação à ofensiva contra a Ucrânia. Os produtos proibidos incluem petróleo bruto, combustíveis e derivados do petróleo. 

Especialistas consultados pelo Investidor10 apontam ainda que o cenário político envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode influenciar ainda mais a aplicação de novas taxas. Trump, antes mesmo da prisão de Bolsonaro, já criticava o governo brasileiro e chegou a chamar a investigação contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado de "caça às bruxas". 

Duas empresas da B3 estão na mira

Lembrando que o Brasil é o quinto maior comprador de derivados de petróleo russo, o primeiro lugar é ocupado pela China, segundo informações do Centre for Research on Energy and Clean Air. 

Das cinco maiores importadoras de combustível russo entre janeiro e julho de 2025, duas estão na B3 e podem estar na mira das possíveis novas taxas: a Vibra Energia (VBBR3) e a Blueway Trading, do mesmo grupo Raízen (RAIZ4)

Enquanto a Vibra Energia importou 673,1, a Blueway Trading importou 310,7 volume em milhões de kg, segundos dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo) compilados pela BBC News Brasil. 

O que vai acontecer se o Brasil for taxado (de novo)

Se a tarifa de 100% sair do papel, o cenário pode piorar para o mercado e para o bolso do brasileiro. As exportações para os Estados Unidos, que já enfrentam a barreira de 50%, correm o risco de cair ainda mais, pressionando a balança comercial e derrubando o valor do real, explicou Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.

A situação incluiria alta da inflação, importações de insumos e produtos mais caros e impactos negativos em setores como o agronegócio, com risco de desemprego e redução de faturamento. "No setor agro, haveria preços elevados e até risco de escassez, o que encareceria ainda mais o campo brasileiro", acrescentou Patzlaff. 

👀 Já na visão de Fernando Marx, contribuidor do TradersClub, o impacto pode ser um pouco menor do que se imagina, visto que há uma lista de produtos isentos. Para ele, os produtos que mais são afetados no Brasil acabam sendo carne e café. 

"Porém, apesar de algum impacto de redução de preços no curto prazo, a tendência é que sejam redirecionados para outros mercados sem grandes dificuldades. Mas existiria sim mais algum impacto deflacionário e na atividade. Porém, de impacto limitado", acrescentou o contribuidor do TradersClub. 

Melhor e pior cenário de reação do Brasil

Além do pacote de medidas para proteger as empresas nacionais, o Brasil também vem trabalhando com outras frentes. O governo Lula já acionou a OMC, Organização Mundial do Comércio, e também disse que vai conversar com o Brics, grupo de países emergentes, uma reação ao tarifaço de Trump. A China, que integra o grupo, apoiou o país na defesa da soberania nacional, em referência às tarifas. 

Ao Investidor10, Patzlaff apontou duas principais opções que o país poderia tomar caso as tarifas de 100% virem realidade, sendo elas: colocar em prática a Lei da Reciprocidade e lançar pacotes de apoio interno apostando. 

"Em vez de retaliações diretas, [o governo] pode apostar em diplomacia discreta e mobilização junto a organização mundial do comércio", disse. Para ele, no pior dos cenários, se a negociação travar, a economia pode endurecer. "Nossos exportadores perdem mercado, e a inflação perde controle, um combo de acontecimentos ruins."

Na contramão,  o contribuidor do TradersClub já acredita que a reação do Brasil poderia ser outra. "A melhor reação do Brasil, de forma pragmática, é fazer nada. Todo país que retaliou os EUA saiu perdendo. Infelizmente, conosco não seria diferente. O Brasil pode sim, e deve, acionar órgãos internacionais. Mas, naturalmente, o efeito é mais no campo da retórica", explicou.