Crise do dólar: moeda norte-americana enfrenta dificuldades

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Publicado em 01/06/2025 às 08:00h - Atualizado 3 horas atrás Publicado em 01/06/2025 às 08:00h Atualizado 3 horas atrás por Wesley Santana
Dólar é a divisa mais importante do mundo (Imagem: Shutterstock)

Embora esteja em um patamar considerado alto em relação ao real brasileiro, o dólar dos Estados Unidos enfrenta um desafio sem precedentes. Desde o começo do ano, o índice DXY, que mede o movimento global da moeda, registra uma queda de 10%.

💲 Parte deste movimento veio em decorrência do chamado “Dia da Liberdade”, quando o presidente Donald Trump anunciou tarifas de importações para produtos oriundos de dezenas de países. A decisão, que já era esperada, sacudiu os mercados globais ao redor do mundo, levando pânico a quem operava vários ativos financeiros.

Dias depois, o republicano voltou atrás, mas ainda não há uma definição clara sobre se as tarifas serão de fato aplicadas ou não. No entanto, o cenário que vem se consolidando é o de perda da hegemonia do dólar nas negociações internacionais.

Segundo um relatório da XP Investimentos, outros fatos se conectam com a guerra comercial dos EUA e tornam o cenário ainda mais difícil para a moeda mais negociada do mundo. É o caso da dívida pública do país, por exemplo, somada em US$ 36 trilhões, equivalente a 122% do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA.

Há, ainda, a manutenção em patamares baixos da poupança doméstica e o déficit de conta corrente. Isso mostra que a maior economia do mundo -e, por consequência, sua moeda- tem dependido cada vez mais do dinheiro externo para financiar seu consumo.

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“De maneira relevante, não há perspectivas de melhora efetiva nos próximos anos. A estrutura que se estabeleceu de gastos públicos elevados deve seguir presente, especialmente em defesa e áreas sociais, ao mesmo tempo em que o custo de endividamento deve manter-se em trajetória ascendente”, escreveram os analistas da corretora.

A posição dominante do dólar foi criada há quase um século, quando o país montou uma estratégia para ser uma espécie de base para o sistema financeiro global. O projeto deu certo, e a unidade fiduciária passou a contar não só com prestígio, mas também com confiança, permitindo ao país manter déficits comerciais e fiscais altos.

“No entanto, esse privilégio não é incondicional. Nos últimos anos, começaram a surgir sinais de que essa confiança pode não ser eterna. De forma gradual, mas visível, o cristal começou a trincar”, concluem os especialistas da XP.

Criptomoedas no caminho

💱 Para muitos analistas, apenas a crise atual que o dólar vem registrando não é motivo suficiente para que se discuta o fim de sua hegemonia no cenário global. Apesar disso, outros indicam que há uma série de questões que permeiam esse assunto e que podem, sim, apontar um caminho para o qual a moeda dos EUA está seguindo.

Para Kenneth Rogoff, ex-diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Fed (Federal Reserve), questões como a ascensão da China no comércio internacional, além do crescimento das criptomoedas, se somam a este cenário. Ele é um dos especialistas que defendem que a dominância do dólar está ameaçada pelas criptomoedas.

“O dólar não se tornou apenas a moeda número um — tornou-se mais dominante do que qualquer outra moeda já foi. E eu vejo essa dominância em declínio — começando a desfiar pelas bordas, onde o renminbi (moeda chinesa) começa a se libertar do dólar, o euro vem ganhando espaço — isso já ocorre há uma década”, diz ele, em entrevista à Bloomberg.

Ele lembra que a economia subterrânea, que vai da evasão fiscal ao narcotráfico, usa de plataformas como o Bitcoin (BTC) para fugir das atenções dos governo e até evitar sanções econômicas. Ele não projeta que uma cripto vá tomar o lugar do dólar em transações legais, mas os impactos no modo ilegal são muitos.

“Uma das primeiras perguntas que muitos fazem é: as criptos podem substituir o dólar? As criptos não podem substituir o dólar — na economia legal, onde o governo tem muita influência. Mas na economia subterrânea, por definição, o governo tem muito menos controle”, diz.

“Uma menor demanda por dólares na economia subterrânea aumenta os juros nos EUA, embora esse seja apenas um dos vários fatores hoje que elevam as taxas. O chamado “privilégio exorbitante” dos EUA — por serem a moeda de reserva global — influencia todas as taxas de juros, não apenas os títulos do Tesouro”, completa ele, que recém-lançou o livro Our Dollar, Your Problem ("Nosso Dólar, Seu Problema").