Carrefour (CRFB3) fecha capital no Brasil nesta sexta (30)
A decisão foi aprovada em assembleia geral ordinária que aconteceu em abril.
📉 O relacionamento entre Carrefour Brasil (CRFB3) e a B3 (B3SA3) terminou oficialmente na última sexta-feira (30), após uma passagem de oito anos marcada por expectativas frustradas e uma perda de 44% em valor de mercado desde a abertura de capital em 2017.
Com a operação, o grupo francês assume integralmente o controle da operação brasileira e retira a empresa do mercado local de ações.
A decisão de encerrar a jornada da varejista na bolsa brasileira reflete uma trajetória repleta de desafios, da euforia inicial com o IPO bilionário à decepção com resultados abaixo do esperado, culminando com o enfraquecimento das ações e perda de competitividade frente aos principais rivais no segmento de atacarejo.
O IPO do Carrefour Brasil, que movimentou R$ 5,1 bilhões em 2017, foi celebrado como a maior abertura de capital do país em quatro anos.
Na época, o Atacadão, principal braço do grupo, era visto como peça-chave para dominar o mercado brasileiro de atacarejo, setor que crescia com a busca dos consumidores por preços mais baixos.
O momento parecia favorável com inflação em alta, consumidores migrando para opções de custo reduzido e um forte apelo do Atacadão.
O entusiasmo levou as ações CRFB3 a atingirem a máxima histórica de R$ 23,17 em 2022.
No entanto, uma sequência de decisões estratégicas questionáveis e o agravamento do ambiente macroeconômico começaram a corroer o valor da companhia.
➡️ Leia mais: Petrobras, Banco do Brasil, Itaú e mais; confira o calendário de dividendos de junho
O divisor de águas veio com a compra do Grupo BIG, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. Inicialmente a operação foi vista como uma jogada ousada para fortalecer a presença da rede no varejo alimentar.
Contudo, a integração revelou-se mais complexa do que o planejado: conversões lentas, fechamento de lojas e prejuízos consecutivos minaram a eficiência operacional.
O impacto foi direto nos resultados financeiros, no primeiro trimestre de 2023, o Carrefour Brasil reportou prejuízo de R$ 375 milhões — o primeiro desde o IPO.
A margem Ebitda caiu drasticamente de 4,4% para 2,1%, refletindo os custos da integração e um cenário de juros elevados, que aumentaram o peso da dívida da companhia.
Enquanto isso, concorrentes como Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) ganharam espaço.
O Assaí acelerou sua expansão e reforçou seu domínio no atacarejo, enquanto o Pão de Açúcar focava em clientes premium e reestruturava suas operações.
O ambiente operacional adverso foi agravado por crises institucionais. Em 2024, uma declaração do então CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que o grupo deixaria de comprar carne de países do Mercosul — incluindo o Brasil — gerou forte reação no mercado.
A medida provocou boicotes de frigoríficos brasileiros e pressão diplomática, forçando o Carrefour a recuar publicamente. O episódio desgastou ainda mais a imagem da empresa no mercado nacional.
➡️ Leia mais: Receita recebe 43,3 mi de declarações e fica abaixo da meta; multa já está valendo
Com o fraco desempenho das ações e dificuldades operacionais, a matriz francesa decidiu simplificar sua estrutura e comprou os 30% restantes das ações que ainda estavam em circulação na B3.
As ações CRFB3 foram retiradas da bolsa brasileira e substituídas por BDRs da matriz listada em Paris, a Carrefour S.A. (CSA).
Os acionistas puderam escolher entre três alternativas:
Quem não fez nenhuma escolha automática recebeu BDRs da Carrefour S.A., que já começam a ser negociados na B3.
Além da conversão, os acionistas que optaram pelas BDRs terão direito a dividendos: 0,92 euro por ação ordinária e um dividendo extraordinário de 0,23 euro por ação, pagos no dia 3 de junho.
💲 Os valores, no entanto, estão sujeitos à variação cambial e descontos de impostos como IR e IOF.
A decisão foi aprovada em assembleia geral ordinária que aconteceu em abril.
Investidores receberão quase R$ 5 por ação na carteira