BB (BBAS3) na mira: Os riscos ocultos por trás do crédito rural, segundo a Legacy

Em relatório, a casa aponta que os resultados decepcionantes da instituição não são apenas reflexo da conjuntura econômica.

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Publicado em 06/07/2025 às 13:13h - Atualizado 5 minutos atrás Publicado em 06/07/2025 às 13:13h Atualizado 5 minutos atrás por Matheus Silva
Segundo a Legacy, o BB perdeu espaço no mercado de crédito agrícola (Imagem: Shutterstock)

Nos últimos meses, a gestora Legacy Capital intensificou suas análises sobre o mercado de crédito agrícola brasileiro, e os sinais detectados nos balanços do Banco do Brasil (BBAS3) acenderam o sinal de alerta.

Em uma carta recente, a casa aponta que os resultados decepcionantes da instituição não são apenas reflexo da conjuntura econômica, mas também de problemas estruturais em seu modelo de concessão de crédito ao agronegócio.

A seguir, destrinchamos os principais pontos levantados pela Legacy Capital para entender por que a instituição decidiu manter uma posição vendida nas ações do Banco do Brasil — e por que o mercado ainda pode estar enxergando esse risco com lentes cor-de-rosa.

O que mudou no crédito agro?

Segundo a Legacy, o Banco do Brasil perdeu espaço no mercado de crédito agrícola nos últimos anos. Isso se deve à redução do crédito subsidiado e à entrada de novos players privados mais ágeis e bem posicionados.

Ao mesmo tempo, os produtores rurais enfrentam hoje um cenário mais desafiador: aumento do endividamento, piora no perfil dos tomadores e alta nos pedidos de recuperação judicial.

Nesse contexto, o modelo de garantia adotado pelo banco — baseado principalmente no penhor da safra — se mostrou menos eficaz.

A concorrência privada, por sua vez, opera majoritariamente com alienação fiduciária da terra, que garante recuperação mais rápida e segura em caso de inadimplência.

Números em deterioração

O primeiro trimestre de 2025 já trouxe resultados aquém das expectativas. Mas o pior, segundo a Legacy, ainda está por vir.

A inadimplência de curto prazo (NPL 15-90) dobrou entre março e maio. Isso indica que os balanços de junho e julho devem refletir uma piora ainda mais acentuada à medida que os créditos migram para estágios mais críticos de provisão — do estágio 1 ao estágio 2 e, posteriormente, ao estágio 3.

O balancete de abril reforça essa visão: o lucro de R$ 1,7 bilhão no mês projeta um resultado trimestral abaixo de R$ 5 bilhões, aquém do consenso do mercado.

Um dos dados mais preocupantes destacados pela Legacy é o crescimento da carteira agro prorrogada — de 4% para 14% do total, o equivalente a cerca de R$ 50 bilhões. Isso representa 25% do patrimônio líquido do banco.

Ainda que esses créditos estejam classificados como estágio 1, a Legacy avalia que é alta a chance de rebaixamento para estágio 3, caso os produtores não cumpram os pagamentos renegociados.

Riscos internos ofuscados pelo discurso oficial

A Legacy critica também o discurso da administração do Banco do Brasil, que tem atribuído a queda de desempenho a fatores externos, como a crise no setor agropecuário e a Resolução 4966 do Banco Central. Apesar de relevantes, esses fatores não explicam toda a deterioração.

Para a gestora, o problema está, em grande parte, no interior do banco — desde a estratégia de concessão de crédito até a forma de mensurar e provisionar riscos.

Guidance suspenso e incertezas futuras

Outro ponto que gerou insegurança foi a retirada do guidance de lucro para 2025, feita pouco tempo após sua divulgação.

Para a Legacy, isso demonstra que a instituição ainda não conseguiu dimensionar com clareza a gravidade da situação.

Mais preocupante ainda foi a manutenção da projeção de crescimento da carteira de crédito — inclusive no agro — apesar da alta incerteza no segmento.

E os dividendos?

A tese de investimento no Banco do Brasil até pouco tempo atrás era sustentada por três pilares: crescimento constante, dividendos robustos (entre 18% e 20%) e a possibilidade de reavaliação positiva das ações com melhora no cenário macroeconômico.

Agora, a Legacy alerta que esses fundamentos estão comprometidos. Com o aumento das provisões, a lucratividade deve permanecer pressionada, e a distribuição de dividendos pode cair pela metade ou até mais.

Com base em todos esses fatores, a Legacy Capital mantém sua posição short nas ações do Banco do Brasil.

A decisão reflete a percepção de que o mercado ainda não precificou adequadamente os riscos embutidos na carteira agro e que os próximos trimestres devem trazer desafios adicionais para a instituição.