BB (BBAS3) ameaça cortar crédito de produtores que pedirem recuperação judicial

De acordo com dados do BB, R$ 5,4 bilhões em empréstimos estão inadimplentes por causa de pedidos de recuperação judicial.

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Publicado em 28/10/2025 às 15:13h - Atualizado 2 minutos atrás Publicado em 28/10/2025 às 15:13h Atualizado 2 minutos atrás por Matheus Silva
Historicamente, o Banco do Brasil era visto pelos produtores como um parceiro estratégico (Imagem: Shutterstock)
Historicamente, o Banco do Brasil era visto pelos produtores como um parceiro estratégico (Imagem: Shutterstock)
🚨 O Banco do Brasil (BBAS3), maior financiador do agronegócio no país, subiu o tom contra produtores rurais que optarem por recorrer à recuperação judicial. A instituição, que detém cerca de 60% da carteira de crédito rural brasileira, afirmou que não concederá mais financiamentos àqueles que buscarem esse tipo de proteção na Justiça.
"Esses produtores não terão crédito hoje, amanhã, nem nunca mais", disse Felipe Prince, vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do banco, em entrevista. “A recuperação judicial é uma armadilha. O produtor perde o acesso ao crédito e não consegue plantar a próxima safra.”
A medida reflete a crescente preocupação da instituição com a onda de calotes no campo, que já levou o BB a reconhecer perdas bilionárias. De acordo com dados do próprio banco, R$ 5,4 bilhões em empréstimos estão inadimplentes por causa de pedidos de recuperação judicial de 808 produtores, um número expressivo em um universo de cerca de 1 milhão de clientes no setor.

Reação a nova realidade no campo

Desde que decisões judiciais passaram a permitir que produtores individuais recorram à recuperação judicial, o Banco do Brasil vem adotando uma postura mais cautelosa. A instituição intensificou as exigências de garantias, encurtou prazos de renegociação e acelerou processos de cobrança.
A taxa de inadimplência na carteira rural subiu de 1,3% para 3,5% em um ano. O impacto foi direto no lucro do banco no segundo trimestre foi o mais baixo em quase cinco anos, com o retorno sobre o patrimônio líquido caindo de 21,6% para 8,4%.
Segundo Prince, 75% dos produtores inadimplentes estão enfrentando essa situação pela primeira vez. A mudança de comportamento, na visão do executivo, está relacionada à entrada de novos credores no setor, como os Fiagros, que trouxeram recursos frescos, mas também contribuíram para a superalavancagem de muitos produtores.

Mais exigência e crédito mais caro

Com o aumento do risco, o Banco do Brasil passou a substituir a hipoteca pela alienação fiduciária como principal forma de garantia. Nesse modelo, a propriedade do bem permanece com o credor até o pagamento da dívida, o que protege a instituição de bloqueios em processos judiciais. A mudança, no entanto, encarece o crédito para o produtor e torna a liberação mais lenta.
Além disso, o banco reduziu o tempo para agir em casos de inadimplência. Agora, produtores que atrasam parcelas são contatados em até cinco dias — antes o prazo era de 30 dias. Se não houver acordo, a judicialização pode ocorrer após 30 dias, e não mais entre 90 e 180 dias como anteriormente.
O uso de inteligência artificial também tem sido ampliado para classificar os clientes de acordo com o risco de crédito. Isso permite à instituição identificar quem pode ter limite ampliado, quem pode renegociar e quem deve ser excluído da carteira.

Resultado fraco e alerta para o 3º trimestre

O endurecimento ocorre num momento delicado para o banco. Analistas do mercado financeiro alertam que o Banco do Brasil deve ser o mais fraco entre os grandes bancos no resultado do terceiro trimestre, previsto para 12 de novembro.
“A pressão sobre os números do agronegócio ainda vai pesar neste balanço”, escreveu Pedro Leduc, analista do Itaú BBA. Gustavo Schroden, do Citigroup, avalia que este será o pior trimestre do ano para o banco, e que o impacto de programas de renegociação lançados pelo governo só deve aparecer nos resultados futuros.

Fim da parceria de confiança?

Historicamente, o Banco do Brasil era visto pelos produtores como um parceiro estratégico de longo prazo. A instituição costumava renegociar prazos e evitar cortes de crédito mesmo em momentos difíceis.
Essa relação, no entanto, mudou. Com o fortalecimento do agronegócio nos últimos anos, novos credores passaram a disputar espaço com o banco. Ao mesmo tempo, eventos climáticos extremos, queda nos preços das commodities e aumento de custos financeiros ampliaram o risco das operações.
“Não podemos mais flexibilizar a integridade do sistema. Precisamos fechar as brechas para os criminosos nos nossos canais de movimentação de recursos”, disse Prince. “Existe uma nova realidade. E o banco está se adaptando a ela.”
📊 Apesar da postura mais rígida, o executivo afirma que ainda há espaço para diálogo. “Não existe dívida que não possa ser negociada conosco”, disse. “Mas não vamos aceitar recuperação judicial como estratégia.”