Banco Central segura a Selic em 15% ao ano; Brasil tem o 2º maior juros do mundo

A taxa básica seguirá neste patamar até, pelo menos, 5 de novembro, quando ocorrerá a próxima reunião do Copom.

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Publicado em 17/09/2025 às 18:34h - Atualizado 1 hora atrás Publicado em 17/09/2025 às 18:34h Atualizado 1 hora atrás por Matheus Silva
A decisão, já esperada pelo mercado, reforça a postura cautelosa da autoridade monetária (Imagem: Shutterstock)
A decisão, já esperada pelo mercado, reforça a postura cautelosa da autoridade monetária (Imagem: Shutterstock)

🚨 O Banco Central decidiu nesta quarta-feira (17) manter a taxa Selic em 15% ao ano, nível mais alto em quase duas décadas.

A decisão, já esperada pelo mercado, reforça a postura cautelosa da autoridade monetária diante da desaceleração da economia e da necessidade de consolidar a trajetória de queda da inflação.

taxa básica de juros seguirá neste patamar até, pelo menos, 5 de novembro, quando ocorrerá a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

A manutenção da Selic repete praticamente os mesmos trechos do comunicado anterior, deixando claro que o Copom enxerga pouco espaço para flexibilização no curto prazo. 

Segundo o texto, o cenário doméstico ainda é composto por expectativas de inflação desancoradas, projeções acima da meta e resiliência do mercado de trabalho, mesmo diante de sinais de desaceleração na atividade econômica.

Cortes nos EUA e cautela no Brasil

Enquanto o Brasil optou por manter os juros, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, anunciou um corte de 0,25 ponto percentual em sua reunião de hoje, reduzindo a taxa para o intervalo entre 4,00% e 4,25%. 

O movimento reflete a perda de fôlego do mercado de trabalho norte-americano, que criou apenas 22 mil vagas em agosto, bem abaixo das 75 mil esperadas.

O contraste entre Brasil e EUA evidencia a diferença de prioridades: enquanto o Fed busca ajustar sua política após dois anos de juros no nível mais alto em duas décadas, o BC adota prudência extra por conta de incertezas fiscais, da volatilidade cambial e da tensão geopolítica decorrente da guerra tarifária entre Brasília e Washington.

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Brasil no pódio mundial

Com a decisão, o Brasil mantém o segundo maior juro real do mundo, de 9,51%, atrás apenas da Turquia (12,34%) e à frente de países como Rússia (4,79%), Colômbia (4,38%) e México (3,77%).

O ranking, elaborado pela MoneYou e pela Lev Intelligence, mostra que a média global é de apenas 1,45%.

Segundo o economista-chefe Jason Vieira, responsável pelo levantamento, mesmo que o Copom tivesse reduzido a Selic em 0,25 ponto percentual, o país continuaria na mesma posição.

Ele destaca que, no Brasil, a manutenção dos juros elevados funciona também como recado direto ao campo fiscal, em um contexto de incertezas sobre a sustentabilidade das contas públicas.

O recado do Copom

No comunicado, o BC reforçou que “o cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”.

Diante desse quadro, o colegiado reafirmou que “a política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” é a única forma de assegurar a convergência da inflação à meta de 3% no horizonte relevante.

O Copom também destacou riscos importantes para ambos os lados. No campo inflacionário, ressaltou a possibilidade de maior persistência dos preços de serviços e depressão cambial mais intensa, especialmente caso as tensões externas avancem.

No lado desinflacionário, apontou a chance de uma desaceleração econômica doméstica mais forte e a queda global de commodities.

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Expectativas de mercado

A pesquisa Focus, divulgada na segunda-feira (15), mostra que os agentes econômicos projetam inflação de 4,8% para 2025 e de 4,3% para 2026, ambas acima da meta, o que reforça a cautela do Copom.

Para o PIB, as estimativas apontam expansão de 2,28% neste ano, sinalizando resiliência, mas em desaceleração gradual.

O relatório Pré-Copom da XP, elaborado a partir de entrevistas com 25 gestoras multimercados, apontou que a manutenção da Selic já era consenso e que a novidade aparece nas projeções de longo prazo: as casas reduziram a expectativa para a taxa no fim de 2026 de 12,6% para 12,25%.

Impactos no câmbio, renda fixa e Bolsa

A decisão reforça a atratividade do real frente ao dólar, já que os juros brasileiros permanecem em patamar elevado em comparação aos cortes esperados nos EUA.

A pesquisa da XP mostra que 68% dos gestores estão comprados em real, contra 41% em julho, apostando em um dólar mais fraco.

Na renda fixa, a manutenção da Selic fortalece as aplicações em títulos atrelados ao CDI no curto prazo, mas também abre espaço para valorização dos prefixados e papéis indexados à inflação, caso o mercado antecipe cortes para 2026.

Na Bolsa, a leitura é de que o ambiente segue misto. Empresas ligadas ao consumo e setores cíclicos, que dependem de crédito, ainda sentem o peso dos juros altos. Por outro lado, bancos e exportadoras podem continuar se beneficiando de margens robustas e câmbio favorável.

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O que esperar à frente?

A sinalização do Copom é de que não há cortes no horizonte próximo, mas analistas veem possibilidade de início da flexibilização em meados de 2026, dependendo do comportamento da inflação e da credibilidade da política fiscal.

O próprio comunicado deixou a porta aberta para ajustes: “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”

📊 Em resumo, o BC reforça que prefere errar pelo excesso de cautela do que arriscar perder o controle da inflação.