Americanas (AMER3): Gestão criou e-mails falsos de fornecedores, aponta PF

O relatório da PF também identificou uma série de outros esquemas.

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Publicado em 03/07/2024 às 16:30h - Atualizado 1 mês atrás Publicado em 03/07/2024 às 16:30h Atualizado 1 mês atrás por Elanny Vlaxio
A antiga diretoria realizava lançamentos contábeis fraudulentos relacionados a VPC inexistentes (Shutterstock)

As investigações do MPF (Ministério Público Federal) sobre a fraude contábil bilionária na Americanas (AMER3) revelaram um esquema complexo e de longa data, que se estendia por pelo menos uma década. Segundo reportagem do jornal "O Globo", a antiga gestão da varejista não apenas criou comitês fictícios para enganar as empresas de auditoria, como também chegou a criar emails falsos de fornecedores para mascarar o rombo.

📧 Um relatório da PF (Polícia Federal), baseado na delação de Marcelo da Silva Nunes, ex-diretor financeiro da Americanas, lança luz sobre um esquema complexo de fraude na varejista. Segundo o delator, emails falsos de fornecedores eram criados para validar cartas fictícias de VPC (Verba de Propaganda Cooperada).

Nunes, em sua delação que inclui mais de 300 documentos anexados, explica que "os fornecedores não tinham conhecimento de que os emails nas cartas de VPC eram manipulados". O objetivo final era enviar essas cartas alteradas às auditorias, buscando a aprovação das contas da empresa. A VPC refere-se a créditos concedidos pelos fornecedores aos varejistas para diversas finalidades comerciais, como inclusão de produtos em materiais promocionais ou gestão de estoques.

💬 No entanto, de acordo com a PF, a antiga diretoria realizava lançamentos contábeis fraudulentos relacionados a VPC inexistentes. Nunes explicou ainda que a manipulação das cartas de VPC envolvia a modificação de datas e valores em cartas reais, mantendo os dados principais inalterados. Ele também mencionou que "o método mais acessível para obter essas cartas falsas era através dos auditores, como a Price e a KPMG".

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De acordo com Nunes, durante as reuniões com os auditores, todas as medidas eram tomadas para encobrir as fraudes. "O fechamento dos resultados no final do ano era sempre muito tenso devido às várias fraudes necessárias para esconder da auditoria", declarou. Segundo a PF, o resultado era distorcido através da criação e registro fictício de contratos de VPC, o que artificialmente melhorava o desempenho da empresa ao reduzir custos.

📃 Além disso, o relatório da PF também identificou uma série de outros esquemas, como a manipulação das despesas geográficas, contabilização indevida de despesas como investimentos e a omissão do registro de créditos tributários, entre outros. Segundo o MPF, em certo ponto o sistema foi bloqueado para a inclusão de notas de despesas, impedindo que gestores adicionassem despesas ao módulo de contas a pagar.

Em certos momentos, a direção recorria à criatividade. "Por exemplo, reclassificavam valores da categoria 'Despesas com pessoal' para 'Despesas com prestadores de serviços' ou 'Outras', com o intuito de apresentar uma imagem mais favorável ao mercado, alinhada à narrativa elaborada para explicar os resultados", apontou o MPF.

"Algumas das fraudes tinham como objetivo inflar artificialmente os lucros da empresa; outras buscavam ocultar o impacto financeiro esperado diante dos lucros e receitas falsamente declarados nos balanços, enquanto outras ainda eram perpetradas para esconder os crimes das auditorias contábeis realizadas nas empresas", detalhou o MPF.